sábado, 30 de novembro de 2024

Quarentona porralôca


Muito antes dos nerds começarem a encher o saco do resto da humanidade e os fãs de filmes de super-heróis passarem a acreditar que ditam a produção cinematográfica do mundo, uma doidivanas, quarentona, alcoólatra, ninfomaníaca, desbocada e desprovida de bom senso, já provocava o senso comum com suas tiradas cheias de desejo e malícia.

De quem falo? Da Rê Bordosa, claro! Criação do mestre Angeli para a antiga revista Chiclete com banana, suprassumo do underground carioca nos anos 1980. E não é que a própria personagem completou quatro décadas de existência? Bom saber disso. 

Rê Bordosa, bem como a grande maioria dos personagens desse segmento (e eu não vou citar todos eles aqui, pois somente mencioná-los já renderia um livro best-seller; por ora fique em mente com a seguinte informação: procure saber mais sobre Angeli, Aroeira, Laerte e toda aquela rapaziada abusada das HQs independentes) era fruto de uma época bem mais corajosa do que a atual. 

Naqueles dias em que a redemocratização começava a dar as caras e se expressar já não era mais um problema, essa mulher escancarou os limites do sexo e do erotismo. Prova viva de sua coragem é que até a roqueira Rita Lee chegou a ser a voz da personagem (refiro-me ao longa animado Wood & Stock: sexo, orégano e rock'n'roll, de Otto Guerra). 

Era ótimo poder concordar com Rê Bordosa, mas ainda melhor discordar dela. A moça não tinha papas na língua e enfrentava quem quer que fosse em nome da sua liberdade (e, por que não dizer também?, libertinagem). Nunca sabíamos o que esperar dela, qual seria sua próxima artimanha, e esse era o maior sex appeal da personagem. 

Ela também fez história no teatro, com o espetáculo "Rê Bordosa, o ocaso de uma doida" (1995), co-escrita por Betty Erthal - que interpretou a eterna desbocada - com Angeli. Dois anos depois, um novo projeto - "Rê Bordosa, vida e morte de uma porralôca" foi realizado, mas o manuscrito permanece inédito até hoje. Uma pena! 

E a chegada de mais essa quarentona me faz pensar - de novo - no quanto o tempo avança de forma assustadora e no quanto este projeto de colunista envelheceu. Mas, mesmo assim, é bom demais relembrar de uma época mais interessante do que os atuais (e indigestos) dias!  


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