quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Polêmica


Fiquei pasmo com a notícia do falecimento da escritora e atriz Fernanda Young. E pior: ela faleceu aos 49 anos, praticamente no auge da sua vida e carreira. A princípio fiquei matutando se ela merecia um artigo aqui na minha série de obituários pelo fato de não conhecer tanto assim de sua obra e não considero ela um pilar indispensável na minha formação cultural. Entretanto, ela possuía algo em sua identidade cultural que me agradava: escrevia sobre o nonsense, o submundo, sobre pessoas que normalmente não vemos com frequência na programação televisiva e mesmo nas ruas. 

Então pensei de novo e disse: por que não? 

Muito do que conheço a respeito do trabalho e da carreira de Fernanda está registrado em sua série mais famosa, Os normais, que fez muita gente ficar acordada até de madrugada na frente da tv. Seus protagonistas, Rui (Luíz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres), são o estereótipo do casal brasileiro classe média que finge estar na boa, mas na verdade, está cheio de dilemas morais e conflitos povoando a sua cabeça - e também suas decisões. 

Foi por causa da série que procurei seus livros e logo de cara fiquei interessado por dois deles: Aritmética, provavelmente seu romance mais desafiador, e Tudo o que você não soube, que praticamente caiu na minha frente de uma das prateleiras da biblioteca pública da qual era sócio quando morava no Méier. E imediatamente entendi que ela era gosto adquirido (ou você gosta ou odeia, com a mesma intensidade) e não uma ficcionista best-seller, dessas de quem se fala em todos os lugares, outdoors, sites na internet, banners em ônibus, etc, o tempo todo. 

Ainda tem muita coisa dela que eu quero ler (aqui mesmo, em casa, estou com um exemplar de Pós-F: para além do masculino e do feminino, que encontrei na promoção numa das lojas da saraiva outro dia desses, mas ainda não abri), mas desde já adianto: é preciso ter coragem para lê-la. Fernanda não agrada a moralistas e religiosos enfadonhos. 

Vejo muita gente falando sobre ela nos sites que anunciam sua morte, se referindo a sua persona criadora como "polêmica", "de humor ácido", "extrovertida", "anticonvencional". São excelentes interpretações para uma mulher que sempre deixou claro que preferia andar na contramão do sistema. Fernanda não escrevia sobre o óbvio, porque isso não lhe interessava (aliás: a mim também não). 

Até mesmo quando posou nua para a Playboy polemizou, seja por seu corpo repleto de tatuagens, seja por seu discurso forte, sem rodeios, sem a intenção de agradar a todo mundo. Quando apresentava na tv a cabo o programa Irritando Fernanda Young nunca perdia a chance de colocar seus entrevistados contra a parede, de forma extremamente inteligente e versátil. Em outras palavras: rompeu com o padrão do que conhecemos como talk show e certos entrevistadores monótonos. 

Vocês devem estar pensando: "para quem disse que não conhecia tanto a respeito do trabalho dela, você a viu fazendo muita coisa, não é mesmo? À primeira vista pode parecer exatamente isso, mas na verdade isso reflete a força e a intensidade de seu trabalho, na tv e no cinema. Fernanda não enfeitava o pavão (como costumo dizer a respeito de certos "escritores" que andam na moda atualmente). Ela era direta, sabia escrachar quando necessário e não era devota do discurso politicamente correto tão em voga na nossa arte e cultura atualmente. 

Chego ao fim deste texto mais uma vez triste porque nosso mercado editorial perde uma de suas figuras mais loucas, ímpares, autênticas, espontâneas. E isso num país que vem encaretando de forma agressiva nos últimos anos é quase um tapa na cara dos verdadeiros leitores e amantes de boas histórias!

Fica em paz, minha querida! E continue produzindo suas "polêmicas" aí em cima. O país e o mundo anda precisando MUITO delas. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Uma viagem ao túnel do tempo


Não é de hoje que digo em meus artigos sobre cinema que a sétima arte não é mais a mesma. Pena que os cinéfilos de hoje em dia não percebam isso, pois estão lobotomizados pela cultura super-herói vigente no mercado audiovisual contemporâneo. acreditem, meus amigos cinemaníacos mais novos: era fácil fazer cinema antigamente e não havia necessidade de tanto CGI, tanto efeito especial estourando na tela. Era preciso, isso sim, de boas ideias, a serem transformadas em bons roteiros. Contudo, é louvável também admitir que certos cineastas não se submeteram a essa vertente "espetáculo grandioso antes de tudo" do atual cinema (principalmente o hollywoodiano). E um desses expoentes máximos é, sem dúvida, Quentin Jerome Tarantino.

Quentin Tarantino não é só um cineasta. É um reinventor de clássicos do cinema mundial. E sua obra nunca se negou a mostrar esse lado (embora alguns críticos cismem em vê-lo como um reles "plagiador"). Prova viva de seu talento para recontar histórias são as batalhas de espada em Kill Bill, com direito a muito sangue esguichado nas paredes (como bem gostavam de fazer os cineastas responsáveis por clássicos do cinema de arte marcial) e as mortes brutais por atropelamento em À prova de morte, onde reconstrói estereótipos do chamado cinema underground dos anos 70. Isso sem contar suas duas primeiras obras-primas, Cães de aluguel - feito com um orçamento enxutíssimo e com recursos mínimos - e o extraordinário Pulp fiction - tempo de violência, palma de ouro no Festival de Cannes de 1994. 

Com o passar dos anos Quentin tomou gosto pelo faroeste (seu gênero predileto) e se distanciou de outras temáticas, para tristeza de fãs mais nostálgicos e outsiders, como eu. Até agora. Realizando Era uma vez em...Hollywood o cineasta americano mais fetichizado desse século volta às boas com seu público mais antigo e entrega um de seus filmes mais pessoais, aquele que me fez lembrar do jovem que, no passado, era um mero gerente de videolocadora viciado em filmes e que sonhava em realizar o seu próprio longametragem. 

É difícil explicar o nono longa de Quentin Tarantino pela ótica do "é uma história de...". Na verdade, até mesmo precisar o protagonista de seu novo filme é uma saga por si mesmo. Vejo Era uma vez em...Hollywood como uma bem construída crônica de costumes sobre uma época em que o cinema americano anda ditava o ritmo do audiovisual mundo afora e acabou por se perder em meio a uma cultura de tragédias, escândalos, guerras e crimes bárbaros. 

Através das histórias entrelaçadas de Rick Dalton (Leonardo Dicaprio), um ator decadente de séries televisivas que vê num convite para participar de um western spaghetti italiano a chance de sua redenção diante das telas; Cliff Booth (Brad Pitt), um dublê em fim de carreira que não consegue mais trabalho nos estúdios por conta de seu temperamento explosivo e a jovem atriz Sharon Tate (Margot Robbie), casada na época com o cineasta Roman Polanski, responsável por clássicos do cinema como Chinatown e O bebê de Rosemary, Tarantino destila todo seu conhecimento sobre a sétima arte passada e nos apresenta uma grande viagem ao túnel do tempo, com direito a músicas inesquecíveis e montagens sensacionais onde o ontem e o hoje dividem a cena com um brilhantismo ímpar. 

Embalados pela magia de Deep Purple, Neil Diamond, Maurice Jarre e clássicos eternos como "Mrs. Robinson" (da dupla Paul Simon & Art Garfunkel) e "California dreamin'", o diretor nos transporta para uma fenda no tempo, onde os sonhos mais sórdidos, eróticos e brilhantes já promovidos pela sétima arte são remasterizados para atender às expectativas da nova geração. Isso sem perder as velhas manias e gostos do diretor: o fetiche por pés e a matança brutal estão presentes para delírio dos fãs mais ansiosos pela sua catarse febril e sanguinária. 

E a conclusão a que chego após as mais de 2 horas e 40 minutos de projeção (que não me deixaram entediado um minuto sequer) é a de que o grande gênio do cinema dos últimos anos está dando um baita puxão de orelha nessa geração Marvel/DC e perguntando: "vocês têm realmente noção do que estão perdendo quando preferem entrar numa sala de cinema, enfiar na cara seus óculos 3D e se limitar a aceitar um festival de imagens criadas por computador, sem o menor interesse que não seja o de criar um vínculo comercial duradouro ao invés de apreciar um produto realmente único?". Mas eu sei, eu sei... Eu estou malhando em ferro frio e esses "nerds" da atualidade são um caso perdido. Quer saber? Quem perderam foram eles mesmo!

Se Era uma vez em... Hollywood será o filme do ano, eu não sei. Mas de uma coisa eu tenho certeza: o público de cinema do século XXI está perdendo uma grande chance de apreciar um bom espetáculo. E parodiando o próprio contexto dos contos de fada, aqui nessa história o seu término não será "e viveram felizes para sempre", mas sim "e perderam a oportunidade de ser felizes". 

Valeu, Tarantino, por essa aula de cinema. Essa galera de hoje bem que anda precisando!

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

O nome dela? Brasil


Vivemos num país repleto de seres invisíveis, por conta de uma burguesia e uma falsa classe média afundada até o pescoço em suas convicções medíocres e na sua eterna mania de posar de grandiosos para o resto da sociedade. Bastou que a pessoa em questão a ser debatida seja um pobre, uma favelada, um assalariado menor, e pronto: está criado o motivo para o eterno discurso de ódio que paira nesse país (e não me refiro exclusivamente aos últimos cinco anos e sim desde que esse país existe). 

Esta semana fui surpreendido por uma peça de teatro que trata desse tema com uma elegância de cair o queixo de qualquer pessoa realmente preocupada com os rumos desse país. Falo de Benedita, monólogo inebriante criado pelo ator e escritor Bruno de Sousa (que, por sinal, merece meus mais sinceros elogios, pois destrói numa interpretação extremamente metonímica e cheia de arquétipos os mais variados). 

Benedita não é só mulher brasileira. É guerreira, sobrevivente de um país que não olha para os seus, principalmente quando eles não pertencem às camadas mais altas da sociedade. E não somente isso: é também lavadeira, benzedeira, curandeira, bruxa, feiticeira e o que mais você puder imaginar. E por conta de sua múltipla personalidade é vista por muitos - ainda mais em tempos onde o evangelismo rompe a barreira da decência e do respeito - como louca, demoníaca, criadora de casos, promovedora de magia negra. 

A partir das roupas que lava para fora conhecemos a história de seus clientes (quer dizer: do povo brasileiro) e vemos um rol infindável de vidas inventadas, contadas pela metade para impressionar amigos e vizinhos. Não existe característica melhor para explicar o cidadão nacional do que o ostentacionismo e Benedita enfia o pé na jaca, chuta o balde mesmo, e expõe as mazelas e intrigas humanas como ninguém. 

Quando entrei na sala de exibição o ator já se encontrava em cena e parecia usar um vestidão largo, carregando no ombro direito um balde. Ledo engano! A parte de baixo do vestido era "sua casa", seus pertences amarfanhados, sua realidade fragmentada. A luz se acende aos poucos e o tema musical de abertura lembra um acalanto (para os leigos: uma canção de ninar). Uma referência à sua infância perdida? Talvez. Prefiro enxergar além: uma vida perdida pela roleta russa do tempo, sempre apertando seu gatilho contra os mais necessitados. 

Benedita "contracena" com seus delírios, suas crises, confessa seus pecados à imagem sacra que a acompanha (aliás, a presença da imagem no palco foi suficiente para que um grupo de evangélicos extremistas se revoltasse e fosse embora do teatro), relembra a vida com o ex-marido mulherengo, que a abandonou na rua da amargura, destila remorso, pragueja, faz feitiço para as pessoas que a sacanearam, etc etc etc. 

Em suma: Benedita é o Brasil nu e cru, um país que adora se lamentar, se fazer de vítima, mas não está nem aí para o seu semelhante (leiam-se: os moradores de rua e desempregados). Que prefere fingir uma vida plena e luxuosa nas redes sociais do que se mostrar como verdadeiramente é. Pois a verdade, como eu já disse em outros artigos, não passa de um ponto de vista e ele pode ser alterado ao bel prazer do ser humano. 

O espetáculo termina e a sala encontra-se esvaziada (acho que foi a menor plateia de um espetáculo a que assisti até hoje). Fico triste por perceber que setores de nossa população se renderam às falácias do discurso religioso opressivo e não conseguem enxergar a arte além de sua própria fé, sua própria crença. Por outro lado, saio realizado pela coragem do artista. É tão raro hoje em dia encontrarmos ousadia, mesmo que a maioria pareça estar do lado equivocado da história, que levanto-me orgulhoso e aplaudo o ator com entusiasmo. 

O Brasil merece mais mulheres como Benedita e menos gente querendo transformar o país numa guerra santa. E a mensagem que me fica é: precisamos rever valores urgentemente, sob pena de nos transformarmos em meras estatísticas vazias da vontade alheia. Não sei onde iremos parar, mas é bom saber que (ainda) há gente corajosa disposta a enfrentar o furacão da intolerância. 

E que essa pátria tome vergonha na cara (antes que seja tarde demais)...

sábado, 17 de agosto de 2019

O triunfo da mentira


De meus 30 anos para cá todo dia me pergunto qual o papel da humanidade no mundo e, na maioria das vezes, não chego a uma resposta satisfatória, sequer elucidativa. Eu sei o que você, leitor, vai dizer: que este texto promete ser profundamente negativo. E nisto você está certo. A questão é que não há como ser diferente, vide o tema proposto. E pior: saber que esta não foi a primeira, muito menos será a última vez em que a humanidade pisará feio na bola. E pior ainda: O sistema quer que nos acostumemos com a ideia. 

Eu não tinha sequer 10 anos de idade quando a tragédia na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, aconteceu. Na verdade, fiquei sabendo da história da tragédia por conta de um filme que era bastante exibido na extinta Rede Manchete na década de 90 de nome Césio 137 - o pesadelo de Goiânia, do diretor Roberto Pires e de meu pai chegando na sala e dizendo: "essa tragédia aí foi o Chernobyl brasileiro". Pronto. Estava aguçada a minha curiosidade. O que era Chernobyl, afinal de contas? Como não havia o mundo mágico oferecido pelo Google naqueles tempos, fui às bibliotecas de bairro em busca de informações e me lembro da cara de uma das bibliotecárias, perplexa, perguntando quanto anos eu tinha e porque queria saber a respeito daquela história. 

Começava ali o meu fascínio por histórias mórbidas e por tudo o que tivesse a ver com jornalismo investigativo. Detalhe: já naquela época me perguntava se um dia a sétima arte ou a televisão iriam ser capazes de reproduzir com minúcias e apuro o caos ocorrido naquele tempo. Pois bem: a HBO conseguiu e prova porque é uma das melhores produtoras de conteúdo audiovisual dos últimos anos. E tudo graças a genialidade e ao trabalho de pesquisa do escritor e produtor Craig Mazin (curiosamente mais associado, ao longo da carreira, à produções cômicas. Vejam só como o meio artístico pode ser surpreendente!). 

Quando nos deparamos com a explosão da usina e a reação de apavoramento daqueles que testemunharam o ocorrido de suas janelas, a primeira impressão que fica é: isso aqui, por mais que tentem, vai ser difícil (muito difícil) de explicar. E essa é exatamente a questão que norteia toda a série. A palavra convencimento é distorcida de tantas e tais maneiras que fiquei com a sensação nítida de que a verdade hoje em dia não passa de uma grande manipulação dos fatos. 

Há um trio, entretanto, que luta obsessivamente para que os fatos sejam enfim esclarecidos: Valery Legasov (Jared Harris), o especialista em reatores; Ulana Khomyuk (Emily Watson), funcionária do instituto de energia; e Boris Shcherbina (Stellan Skarsgård), uma mistura de relações públicas, gerente de crise e também, a princípio, voz do partido na questão (trata-se, afinal de contas, da URSS de Gorbatchev e da KGB na nuca dos cidadãos). Contudo, eles precisam duelar de foice com uma nação historicamente famosa por ocultar dados e transformar esperanças em aceitações. E o que sobra então para se comemorar? Boa pergunta. 

Do ponto de vista técnico a minissérie é um espetáculo à parte. Que o digam as cenas de explosões e as maquiagens dos afetados pela radiação! Há cenas apavorantes de tão realistas. E, ao final dos cinco episódios, só as informações fornecidas sobre o rumo que as investigações tomaram e o desfecho macabro dos protagonistas já vale pela produção televisiva toda. 

Outro ponto acertado da produção foi deixar para o último episódio o julgamento dos responsáveis pela tragédia e o festival de distorções que aquilo gerou junto à mídia. Usar a palavra arquivamento soa até poético perto do que eles fizeram com a vida daquelas pessoas e com a sociedade ucraniana como um todo. De real mesmo somente o fato de que a região continua inabitável até hoje e os índices de radiação no lugar continuam altíssimos. Mais trágico que isso, que me venha à memória neste exato momento, só mesmo o horror perpetrado pela nazismo durante a segunda guerra mundial. 

Para aqueles que têm mania de rotular tragédias como essa acerca de regimes políticos (numa clara tentativa de acusar o socialismo e suas práticas nefandas) ficou claro aqui, pelo menos para mim, de que atrocidades mundiais como essa não são de uso exclusivo do socialismo ou do capitalismo. Na verdade, sempre acreditei que onde existem políticos existem problemas que poderiam ser evitados, mas nunca são por conta de interesses financeiros. E me parece também ter sido o caso aqui. Sabe aquela história do indivíduo que compra o melhor aparelho de som da loja e compra a extensão e a tomada para ligá-lo no lugar mais chinfrim e depois reclama que o aparelho entrou em curto-circuito? Guardadas as devidas proporções, foi o caso aqui. 

O tempo passa e o mundo se recusa a mudar nesse sentido. Continuamos reféns da mesma mentalidade chamada "vamos reduzir custos!", imposta por políticos e estadistas gananciosos. O dinheiro antes do indivíduo. O problema é que aqui tratava-se de uma usina nuclear. Deu no que deu. Hoje, após ter lido tantos artigos e matérias sobre o assunto, vejo o caso com a mesma proporção da bomba lançada pelo Enola Gay em Hiroshima e Nagasaki.

Em linhas gerais, Chernobyl é não somente uma prestação de contas a todos aqueles curiosos (como eu) que sempre quiseram entender minimamente o ocorrido naquele fatídico 26 de abril de 1986, como também a certeza macabra de que a mentira triunfou e continua triunfando ao redor do mundo de tempos em tempos, sempre avalizada pelas atitudes nocivas e prepotentes do Estado. E o mais triste é que a maior parte da população mundial não está nem um pouco interessada nessas questões, pois elas parecem impertinentes diante de assuntos tão vazios quanto fama, status e beleza, dentre outros. 

Assista e se assombre. De vez em quando precisamos de um choque de realidade como esse. 

P.S: para os interessados no tema (como eu) recomendo também, após assistir a minissérie, a leitura do livro Vozes de Tchernóbil - a história oral do desastre nuclear, da escritora bielorussa Svetlana Alexijevich (vencedora do prêmio Nobel de literatura em 2015), que reúne relatos de sobreviventes da tragédia. E desafio-os a não ficarem com os olhos marejados de lágrimas!

terça-feira, 13 de agosto de 2019

O marco da contracultura


Agora que ficou sacramentado de uma vez por todas que o show comemorativo dos 50 anos do Festival de Woodstock não acontecerá mais (e, na boa, não acho que tenha sido uma decisão equivocada, pois a sociedade contemporânea é por demais violenta e desequilibrada para sequer entender o significado do que aquele momento representou para a geração que o viveu), cabem a nós - e refiro-me à geração a qual pertenço, posterior ao evento, e também a quem por lá esteve - relembrar do festival original dentro do possível. 

Para isso, tive a sorte de me deparar acidentalmente com o dvd do documentário Woodstock - 3 dias de paz, amor e música, do diretor Michael Wadleigh (e que traz nos créditos como assistente de direção nada mais nada menos do que o cineasta Martin Scorsese) dando sopa num sebo do centro da cidade. Eis que rapidamente me apoderei da relíquia e levei-a para casa, para reassistí-la (pois já havia assistido o documentário uns cinco anos atrás). 

E a impressão que me ficou - mais uma vez - após assistir as mais de três horas de película foi a de que se trata de um evento único, ímpar, que dificilmente se repetirá ao redor do mundo (até porque o mundo não possui mais as mesmas qualidades daquele tempo e anda conservador em excesso).

Woodstock não foi simplesmente um festival de rock. Enganam-se aqueles que assim o enxergam! Foi, isso sim, uma grande catarse, um evento quase mediúnico (ou bíblico, como se referiu recentemente num artigo o diretor de teatro Gerald Thomas). Pessoas passeando nuas e mantendo relações sexuais ao ar livre, a inexistência de banheiros que suprissem as necessidades mais básicas dessas pessoas, um nó tático imposto a uma cidade que decididamente não estava preparada para receber um evento daquela magnitude, até mesmo a chuva torrencial que precisou parar as apresentações, pois poderia danificar de uma vez por todas os aparelhos e instrumentos. Em suma: uma prova de fogo e resistência apenas para fanáticos pelo rock n'roll e sobreviventes de grandes batalhas épicas.

Eu sei, eu sei... Você quer saber dos shows! E nesse quesito é como chover no molhado em termos de genialidade musical. Joe Cocker cantando (melhor: uivando) enquanto recita os versos de "with a little help from my friends", dos Beatles. Detalhe indispensável: ouçam o setlist inteiro de Cocker, disponível no you tube. Em uma palavra? Magnífico! A anarquia sonora, latina - e impecável - de mestre Santana (que depois apareceu por aqui em 1991, no Rock in Rio II, e me tornou fã de sua obra para o resto da vida). A guitarra alucinógena de Jimi Hendrix, dedilhando "star spangled banner", um libelo contra a Guerra do Vietnã que assombrava os EUA naquela época. A poesia intimista e adorável de Joan Baez, grávida de seis meses em cima do palco. O rock visceral de Canned Heat, The Who, Credence Clearwater Revival, The Band e, claro, Janis Joplin (musa eterna dos roqueiros mais nostálgicos). E isso só para começar a história. 

Entretanto, o filme de Wadleigh é muito mais do que música e exaltação à contracultura. É preciso que o espectador entenda a proposta além dos gritos frenéticos e dos riffs fabulosos de guitarra. Woodstock é, antes de tudo, um fenômeno social e transgressor que ditou costumes, modismos e regras que se desdobraram em múltiplas tendências com o  passar das décadas. 

Infelizmente, como tudo muda assim também acontece com a humanidade que, de tempos em tempos, piora - e muito. Prova viva disso foi a comemoração dos 30 anos do festival em 1999 que rendeu muitas polêmicas e confusões (só para se ter uma ligeira ideia teve tiroteio e tudo naquela ocasião!). E acredito piamente que a catastrófica celebração pesou como fator decisório para a não realização desta nova data comemorativa. Ou seja: os tempos de liberdade, paz, amor e música deram lugar a uma turbulenta era cheia de rivalidades e fanáticos religiosos pagando de reserva moral ao mundo. 

Talvez um dia o mundo tome vergonha na cara e entenda que aquilo que costumamos chamar corriqueiramente de sociedade ou de "nova ordem mundial" não deveria estar sujeito à pregações inúteis, ostentacionismos sórdidos e uma eterna devoção ao capitalismo usurário do dia-a-dia. Até lá, fica a tristeza de não poder relembrar de um período magnífico que entrou para a história justamente por romper barreiras que se acreditavam intransponíveis. 

Ou resumindo em poucas (e irônicas) palavras: Woodstock completa 50 anos. Parabéns a ele e muitos anos de vida! A humanidade completou só na era cristã mais de 2000 anos e ainda não aprendeu a melhorar coletivamente e parece bem longe de sequer arranhar essa estrutura. Precisa dizer mais alguma coisa?


sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Clássico revisitado


De tempos em tempos a sétima arte mundial nos apresenta projetos que são um tour de force na vida de seus realizadores. Histórias que parecem simples em sua execução na teoria, mas na prática são capazes de levar seus diretores ao pronto-socorro ou à falência. Martin Scorsese que o diga! levou quase três décadas para realizar seu megaprojeto Gangues de Nova York, produzido pelo hoje execrado pela indústria, Harvey Weinstein, e já contou em entrevistas o sufoco que passou para tirar a ideia do papel. Há casos mais extremos como, por exemplo, a tentativa do cineasta chileno Alejandro Jodorowsky de realizar o remake de Duna (que havia sido realizado nos EUA pelo diretor David Lynch, sem atrair grande bilheteria). Resultado: o longa nunca saiu do papel e ainda rendeu um documentário sobre a saga ocorrida. E como esquecer do hoje cult O portal do paraíso, de Michael Cimino, que quase levou a Paramount Pictures à ruína?

Nas últimas décadas o melhor exemplo de revés nesse sentido foi o do diretor Terry Gilliam. Há 25 anos ele almeja tirar do papel o projeto de O homem que matou Dom Quixote e, entre tentativas e frustrações sucessivas, de lá para cá já realizou outros seis longas (entre eles, pequenas jóias como 12 macacos, Medo e delírio em Las Vegas - baseado em livro homônimo do escritor Hunther Thompson - e o inusitado O circo imaginário do Doutor Parnassus) até que finalmente conseguisse colocar um ponto final na sua versão da saga de Miguel de Cervantes. 

Contudo, o problema não foi totalmente extinguido com o final das filmagens. Houve problemas com a pós-produção, discussões com produtores (chegaram a quase tomar o filme das mãos dele!) e Gilliam chegou a enfartar durante o período. Isso mesmo! Um processo hercúleo comparável à Paradise Now, de Francis Ford Coppola, que também teve um processo de criação conturbado. 

E eis que o sufoco finalmente chega ao seu momento de graça com o lançamento de O homem que matou Dom Quixote nos cinemas (cá entre nós: merecia uma distribuição bem melhor por parte dos cinemas, que antigamente aguardavam projetos como esse com êxtase).

E não é que o diretor Terry Gilliam revisita o clássico de Cervantes de forma curiosa e inventiva?

A história se passa na Espanha durante as filmagens de uma adaptação de Dom Quixote realizada pelo jovem cineasta Toby (Adam Driver, que interpreta na verdade um alter-ego do próprio Gilliam). Em meio à decepções com o rumo do projeto, o diretor realiza uma pausa à procura de novas ideias que incrementem a narrativa do filme e se depara, durante um almoço, com uma cópia em dvd de uma versão da mesma história que realizou ainda nos tempos de faculdade. E redescobre o ator Javier (Jonathan Pryce, ótimo!) que havia feito Dom Quixote na ocasião. O problema é que Javier acredita ser de fato o verdadeiro Dom Quixote de la mancha e arrasta o diretor para uma jornada repleta de missões impossíveis. 

Porém, a grande sacada proposta por Gilliam aqui é a maneira como ele insere questões que vêm atormentando a geopolítica do mundo nos últimos anos e a maneira como transforma o fiel escudeiro de Dom Quixote, o bonachão Sancho Panza, de mero coadjuvante à figura central da trama. É possível perceber as alfinetadas de Gilliam no roteiro (escrito a quatro mãos com Tony Grisoni) quando menciona a questão dos imigrantes ilegais e dos terroristas, além da forma debochada como lembra do atual presidente dos EUA dentro da trama. Sátira maior do que essa, impossível! 

O homem que matou Dom Quixote fala dos fantasmas que assombram artistas de todo o mundo de tempos em tempos. E no caso de Terry Gilliam percebe-se que esse "projeto de uma vida" o perturbou muito mais do que ele próprio deixou transparecer ao longo dos anos. Ele pode até debochar, ironizar, desconversar, mas no fundo, no fundo, é perceptível o quanto que as idas e vindas envolvendo este longametragem mexeram com o seu racional e, também, com a paixão que ele nutre pela história. E nesse sentido a loucura de Dom Quixote cai como uma luva para suas pretensões criativas (embora ele se enxergue mais como um Sancho Panza dentro desta realidade). 

Em outras palavras: o filme é uma belíssima catarse literária, narrada com todas as maquinações sórdidas que tornaram o diretor tão famoso e respeitado mundo afora. Convivendo entre artistas megalomaníacos, musas ninfomaníacas e patrocinadores excêntricos, seu Toby se autodesconstrói frame e frame buscando uma verdade que, no final das contas, nunca conseguirá ser mais do que aquilo que sua obra já mostra: um ponto de vista. Se ele deseja fazer do filme sua identidade ou DNA está comungando na fé errada, pois a arte é múltipla e, por vezes, traiçoeira ao nos apontar caminhos. E esse é o melhor legado que Gilliam poderia nos proporcionar a esta altura da vida e da carreira. 

Não sei se este será o último longa de Terry Gilliam (espero que não, embora seu recente problema de saúde e a rotina de um cineasta que costuma produzir filmes grandiosos não costumem combinar), mas caso seja fica aqui meu respeito e gratidão por um artista que a meu ver nunca vacilou ou decepcionou em suas intenções. Podem me chamar de bajulador, mas é por causa de pessoas como Gilliam que me tornei cinéfilo, por conta de sua coragem, sua ousadia artística, e por nunca tratar seu público como idiota. Seus filmes são magníficos tanto do ponto de vista estético, como também pela forma como defende suas concepções narrativas. Já trouxe à tela o grupo Monty Python, os contos de fadas dos irmãos Grimm e até mesmo o Barão de Munchausen, sempre de maneira singular, sem rodeios ou invencionices. E com O homem que matou Dom Quixote nos entrega seu delírio mais pessoal, para deleite dos fãs mais apaixonados por sua filmografia.

E como eu poderia terminar esta humilde crítica sem manifestar o meu "longa vida ao mestre"? Desse jeito. 

Meu muito obrigado, hoje e sempre. 

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Cada um no seu quintal


Por mais que certos exemplares da sociedade tentem negar, vivemos num regime de castas. Isso nunca mudou e, honestamente, depois de ter visto praticamente de tudo em pouco mais de quatro décadas de existência, não acredito que isso mudará algum dia. Faz parte do chamado "viver em sociedade" pertencer à certas dinastias e grupos de interesse (e o fator monetário sempre tem um peso extraordinário em nossas escolhas). 

Esta semana fui rapidamente ao Méier (bairro onde morei por mais de 20 anos) à procura de um controle remoto novo para o meu dvd player e parei por uma meia hora - na verdade, nem isso! - num sebo famoso que há no bairro, perto da Rua Silva Rabelo. E qual não foi a minha surpresa ao me deparar com um exemplar intacto do dvd do musical Cats, um dos maiores fenômenos musicais da Broadway de todos os tempos, que eu sempre quis assistir mas nunca tive a devida oportunidade? 

Mal chego em casa, vou logo pondo o disco para reproduzir e me deparo com um espetáculo audiovisual dos mais extraordinários e também com uma sátira a este regime de castas ao qual me referi no primeiro parágrafo. 

Baseado em Old possum's book of practical cats, de T. S. Eliot, o espetáculo - aqui numa versão produzida pelo mestre dos musicais Andrew Lloyd Weber e dirigido por David Mallet - narra a saga dos gatos Jellicles, que se reúnem uma vez ao ano para realizar uma grande festa, uma grande celebração felina, que dará a um deles a possibilidade de renascer. 

Porém, mais do que isso, o que fica claro na narrativa do musical é seu interesse em mostrar ao público espectador que mesmo no reino dos gatos é preciso saber pertencer a certos grupos sociais e respeitar certas hierarquias. Aqui, a palavra de sabedoria a qual todos seguem sem divergir, é a do velho Deuteronomy (Ken Page), uma espécie de profeta entre os Jellicles. É ele que será o mediador entre o gato escolhido o seu renascimento. 

Definida a liderança do grupo, o que se vê logo a seguir é a velha e mais do que conhecida hierarquização social (algo que nós, seres humanos, conhecemos muito bem). A começar pelos gatos mais ilustres como, por exemplo, Jennyanydots (Susie Mckenna), referência em termos de elegância e comportamento e Bustopher James (James Barron), chefão da Rua Saint James, sabe de tudo o que acontece com todo mundo, o fiscal da região, até a chamada rabeira da sociedade. E nesse quesito há amostras um tanto interessantes e curiosas: Rum Tum Tagger (John Partridge, para mim a melhor voz de todo o elenco), o gato que não se submete ao sistema, não obedece regras, sejam elas quais forem, e só faz aquilo que quer; Macavity (Bryn Walters), o fora-da-lei, o criminoso, cuja simples pronúncia de seu nome já deixa os demais seres de sua espécie apavorados; Skimbleshanks (Geoffrey Garret), o gato vadio, que vive nos trilhos do trem, sempre à procura de levar vantagem em algum sentido. 

Entretanto, há também espaço no espetáculo para figuras intermediárias e um tanto distintas, como Grizabella (Elaine Paige), a outrora gata fina, de madame, que perdeu tudo, e hoje vive da lembrança dos dias de glória passados e dos olhares acusadores dos demais gatos; Gus (John Mills), antigo ator de teatro - e dos bons - cujo único legado que lhe sobrou foram a velhice e as memórias do tempo em que era famoso, notado na rua; Rumpus (Frank Thompson), o gato-herói, responsável por dar fim à uma guerra entre pequineses e policiais; e finalmente, Mister Mistoffelees (Jacob Brent), o mágico, rei dos truques, não fosse ele o velho Deuteronomy continuaria nas mãos de Macavity (que, no fundo, deseja sua liderança e prestígio).

E desde que cada um respeite sua posição social dentro dessa hierarquia (em outras palavras: que cada um permaneça no seu quintal), maiores problemas não ocorrerão, como todo "bom exemplo" de sociedade que se preze. 

Falar da parte técnica é chover no molhado. Um espetáculo de exuberância, repleto de luzes, boas canções, fogos de artifício, até truque de ilusionismo... Não é à toa que a peça ganhou ao longo dos anos a fama que possui. 

Em tempos de super-heróis e adaptações de sucessos de bilheteria hollywoodianas invadindo a Broadway diariamente, vale a pena dar uma conferida em Cats e perceber que o básico ainda chama - e muito! - a atenção dos espectadores, principalmente os mais nostálgicos. 

Procurem. É daquelas experiencias que nunca envelhecem. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

O ator mais icônico da minha geração


Certos artistas não deveriam morrer. Nunca. Não, é sério! Podem me chamar de maluco se quiserem...

Chega a mim, atrasada, a informação de que o ator Rutger Hauer faleceu no último dia 19 de julho. E a recebo com uma enorme tristeza. Digo isso sem a menor puxação de saco. Era fã de carteirinha do ator e digo mais: não conheço outro ator que tenha sido mais icônico do que ele (pelo menos, dentro da geração a qual pertenceu). Seu carisma deveria ser ensinado nas escolas de interpretação (se fosse possível, é claro!). E podem ter certeza que hollywood - e me refiro à hollywood clássica, não essa versão pop e super-herói de hoje em dia - deve muito de seu legado cultural a artistas como ele. 

A carreira de Rutger Hauer se confunde com a minha adolescência (mais especificamente a época em que meu pai comprou nosso primeiro aparelho de VHS e eu o programava quase todo dia para gravar aqueles filmes preciosos e raríssimos que só a madrugada televisiva da época - no caso, os anos 80 e 90 - passava). E todas as vezes que o filme anunciado era com ele meus olhos brilhavam, pois já ficava na expectativa para saber como ele iria me surpreender. E era sempre uma surpresa boa.

Ele foi praticamente um pouco de tudo atrás das telas: mendigo, homem que vira lobo à noite, policial corrupto, santo beberrão, presidiário, gladiador, replicante, serial killer, treinador de uma matadora de vampiros, caçador de recompensas, espadachim cego, monge, milionário excêntrico que vive de caçar pessoas por esporte, etc etc etc. Em seu perfil no IMDb constam mais de 170 créditos (e eu, obviamente, ainda não assisti a todos eles. Mas pretendo!). Se existe uma palavra que o classifique com exatidão é: camaleônico. 

Contudo, é inegável que seu maior sucesso aqui no Brasil foi interpretando o replicante Roy Batty no eterno cult Blade Runner: o caçador de andróides, do diretor Ridley Scott (um filme, aliás, que mesmo após tantos anos não perdeu sua condição de clássico da sétima arte). Durante anos, todas as vezes que reassisti o filme, ficava na minha cabeça a ideia de que ele, o andróide, fosse o verdadeiro protagonista do filme. Prova de seu talento.

Entretanto, iludem-se aqueles que o resumem única e exclusivamente a tal personagem. Ele possui, isso sim, uma galeria notável de tipos os mais diversos, do mais boa praça ao mais repulsivo dos vilões (que, por sinal, são os momentos de sua carreira os quais este que vos escreve mais gosta). Dito isto, deixo abaixo uma pequena lista de relíquias para que os cinéfilos leitores deste humilde artigo possam deleitar-se quantas vezes assim desejarem: 

Falcões da noite, de Bruce Malmuth (1981)
O casal Osterman, de Sam Peckinpah (1983)
O feitiço de Áquila, de Richard Donner (1985)
Conquista sangrenta, de Paul Verhoeven (1985)
A morte pede carona, de Robert Harmon (1986)
Fuga de Sobibor, de Jack Gold (1987)
Fúria cega, de Phillip Noyce (1989)
Juggers - os gladiadores do futuro, de David Webb Peoples (1989)
Aliança mortal, de Lewis Teague (1991)

...e isso só para ficar no gostinho!

Com a virada dos anos 2000 passei a perder contato com sua filmografia. E também é bem verdade que seu nome começou a desaparecer dos letreiros dos cinemas, bem como o de figuras igualmente marcantes do cinema oitentista como Burt Reynolds, Charles Bronson, Bruce Dern, entre outras feras. Em outras palavras: o chamado cinema de ação passou a seguir outros caminhos digamos "mais comerciais" (para não dizer o que eu estou realmente pensando). 

Mesmo assim ainda é possível, graças ao mundo mágico da internet, se deparar com pérolas como Hobo with a shotgun (2011), de Jason Eisener, que nasceu como um fake trailer dentro do projeto Grindhouse, capitaneado pelos diretores Quentin Tarantino (responsável pelo episódio À prova de morte) e Robert Rodriguez (responsável pelo episódio Planeta terror). E ele também deu as caras em blockbusters mais recentes, como Batman begins, de Christopher Nolan e Sin City: a cidade do pecado, de Frank Miller e Robert Rodriguez, mas já como coadjuvante, sem o mesmo brilhantismo. 

Hauer falece aos 75 anos, mas deixando a impressão de que ainda tinha muito a contribuir à sétima arte (embora os estúdios e diretores não pensassem o mesmo e lhe legassem papéis cada vez menores). Fica na memória dos fãs lembranças de um ator magnífico, que namorava a câmera (eu, pelo menos, sempre tive essa impressão dele!) e não titubeava diante de desafios, fossem quais fossem. 

Vai com Deus, Roy (quer dizer, Rutger)!

Em tempo: se continuarmos perdendo grandes nomes do cinema com a velocidade que vêm acontecendo nos últimos anos, será que ainda estarei frequentando cinemas na próxima década? Tenho minhas dúvidas.