quarta-feira, 29 de março de 2023

Quando eu descobri que era leitor...


Os 50 anos da série vaga-lume, publicada pela Editora Ática, completados poucos dias atrás, me fizeram reviver um sentimento que há muito tempo eu não tinha (pelo menos não de forma tão apaixonada): o da minha eterna - e doentia - relação com os livros, que começou quando eu mal tinha 10 anos de idade. 

O ano é 1973 e um grupo de visionários (pois é assim que quero me lembra deles) decide lançar uma coleção literária voltada para o público jovem. Detalhe: as sinopses criadas pelos autores eram enviadas a escolas do então segundo grau para que os alunos fizessem sua apreciação. Se gostassem, as obras eram desenvolvidas. E algumas delas se tornaram best-sellers!

Marcos Rey, autor que mais publicou na coleção (16 títulos) dizia que "o importante era ganhar o leitor nas primeiras páginas, senão ele abandonava o livro em algum canto". E eu tinha essa exata impressão desses exemplares. Eles me ganhavam de cara, com uma enorme facilidade. 

Jovens detetives, contatos extraterrestres, mitologia indígena, paranormalidade. a vida dos boia-frias, fadas, espíritos que assombravam, náufragos... Os temas eram os mais diversos e quanto mais eles possuíssem ligação com a nossa faixa etária, melhor. 

Éramos Seis (que ganhou cinco adaptações para a tv), O escaravelho do diabo (adaptado para o cinema em 2016), A ilha perdida (recordista de vendas da série com 5 milhões de exemplares), Açúcar amargo, Um cadáver ouve rádio, O feijão e o sonho, O caso da borboleta Atíria, Menino de asas, Sozinha no mundo, A turma da Rua Quinze e Spharion estão entre os meus preferidos e me fizeram companhia diária por praticamente uns 8 anos. 

Mas a coleção, é claro, tem bem mais títulos do que isso. São mais de cem, lançados entre dois e cinco por ano, dependendo da realidade financeira do período. 

A mesma editora, inclusive, chegou a lançar uma outra coleção também de enorme sucesso, a Para gostar de ler, esta trazendo contos e crônicas de autores clássicos como Machado de Assis, José de Alencar, Fernando Sabino, João do Rio e tantos outros.  

Mas não fosse a vaga-lume eu jamais teria me tornado o leitor fanático que me tornei. Cara... 50 anos! E eu nem tenho isso de idade. E o público leitor continua lembrando disso até hoje. 

Realmente não dá pra entender quem acha que literatura é perda de tempo... 


sábado, 25 de março de 2023

Moonwalk, 40 anos


Ainda lembrando do tempo que voa citado no post anterior uma notícia nostálgica, que povoa toda a minha juventude e minha maneira de pensar a cultura pop, chega aos meus olhos numa matéria do jornal O Globo: há exatos 40 anos Michael Jackson, o eterno rei do pop, realizava pela primeira vez o seu moonwalk. 

Michael cantava "Billie Jean" no Pasadena Civic Auditorium, na Califórnia, em 25 de março de 1983, quando fez o mundo literalmente parar, perplexo, sem entender nada. Tentei repetir o movimento na sala de casa diante dos meus pais e caí de bunda no chão, frustrado. Lógico! Eu nunca conseguiria chegar perto do rei e de tudo o que ele viria a criar depois. 

O Moonwalk marca o nascimento de uma lenda, de um estilo de dança único. Daquele momento em diante, em todos os clipes, apresentações, entrega de prêmios, aguardávamos qual seria a próxima novidade do mestre por trás de hits como "Thriller", "Beat it", "Black or white", "Bad", "Smooth Criminal", "The way you make me feel" e tantos outros. 

Alguns anos atrás chegaram a lançar um site - fugiu-me à memória agora o nome - em que qualquer pessoa poderia postar num vídeo a sua própria versão do passo de dança. Entrei para ver alguns e tinha até o ator Ney Latorraca fazendo um moonwalk debochado (bem a cara dele!) que me fez rir. 

Porém, o principal legado deste site era: provar por a mais b o quanto aquela cena se tornou icônica com o passar das décadas. Não envelheceu um segundo sequer. E Michael nunca foi louco de deixá-la de fora de suas turnês. Ai dele! Acho que o público, revoltado, pediria o dinheiro do ingresso de volta.

Quatro décadas. Sério? Mas parece até que foi semana ou mês passado. Tem certeza que contaram o tempo direito? Meu Deus. 

Os estudiosos e teóricos da cultura popular e do mercado de entretenimento estão mesmo certos: ninguém consegue medir ou controlar a dimensão ou o tempo de uma celebridade, uma vanguarda, uma música, um filme, um best-seller, mesmo um simples gesto que marcou época. A eles - Michael Jackson e seu passo de dança que revolucionou o showbiz - só resta mesmo a eternidade. 

P.S: tentem vocês fazer em casa, no meio da sala, um moonwalk rapidinho. Eu tentei aqui de novo, 40 anos depois, e o meu joelho travou. É... Eu não vim mesmo ao mundo para ser um popstar. 


sexta-feira, 24 de março de 2023

Foi assim que a paranoia começou


Como o tempo voa e a gente nunca sente ele passar...

Anteontem completou 60 anos do lançamento do álbum de estreia dos Beatles, Please please me. E junto com ele o começo de um fenômeno que perdura até hoje (claro que em doses menores): a beatlemania. 

O fab four de Liverpool, como eram popularmente conhecidos, enlouqueceu multidões, ditou moda, transformou suas canções em hinos que são entoados até hoje. Irão dizer alguns, mais fanáticos: "mas começou mesmo foi naquele show lá em Hamburgo... não, foi no Cavern Club... Não, foi...". E isso é o que menos importa.

Depois que o disco foi lançado nas lojas vieram as filas, os tumultos, os sopapos, o inferno... A vida nunca mais foi a mesma na terra da Rainha Elizabeth. E que dizer do resto do mundo! 

Se existiu uma música que pode ser chamada de global foi a desses quatro jovens de cútis brancas e cabelos curtos. Procurem os longa-metragens Help e A hard day's night (aqui traduzido com o título de Os reis do iê iê iê) e sintam o clima da época, tentem ao menos entender o que foi aquele período (eu já tentei algumas vezes, mas - confesso - não consegui totalmente). 

Estudei com um senhor na graduação por volta de 2002, 2003, que chegou a ir em shows do quarteto em Londres e me disse que tomou muito soco e cotovelada. Sim, isso também fazia parte do contexto. Eram anos surreais aqueles! E que nunca mais se repetiram. Pelo menos, não daquela forma. 

E tudo começou com o grupo cantando "I saw her standing here", "Love me do", "Twist and shout", "P.S I love you", "Misery", a faixa título e tantas outras. Meu pai teve o vinil por muitos anos, mas o perdeu na nossa mudança de casa. Eu sei... Um crime inafiançável. 

E ao chegar ao Méier, recém estabelecidos, meu pai fez amizade com um viciado quase esquizofrênico pela banda que toda vez que eu lhe comentava a respeito desse álbum me dizia: "foi aqui que a paranoia começou oficialmente e nunca mais me abandonou". 

É... a paranoia já tem seis décadas. Incrível, não é mesmo?


segunda-feira, 20 de março de 2023

A Desdêmona tupiniquim


O que não faz uma releitura, não é mesmo?

Depois de 15 anos revi a minissérie Capitu, de Luiz Fernando Carvalho, feita para a Rede Globo. E que magnífico poder me reencontrar com personagens tão inebriantes quanto os da obra que a originou, o eterno clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis! 

Luiz Fernando reinventa a obra-prima machadiana sem que ela perca sua essência original. Une passado e presente, insere Marcelo D2, Black Sabbath e Janis Joplin, sabe a hora de colocar uma valsa aqui e ali, desconstrói antigos mitos acerca da narrativa e oferece uma nova visão literária para uma nova geração.

Os atores que interpretam José Dias (Antônio Karnewale) e Escobar (Pierre Baitelli) são gratas surpresas, embora no quesito atuações meus destaques vão - óbvio! - para Michel Melamed na pele de Bento Santiago (também narrando a história) e, principalmente, Letícia Persiles como a Capitu mais jovem. Nada contra a atriz Maria Fernanda Cândido, mas achei a versão adolescente da personagem mais interessante, debochada, safada. 

E claro que não poderia faltar a eterna dúvida que persegue leitores há séculos sobre a traição (ou não) de Capitu, que com seus "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" destrói corações (na visão torta, é claro, de Bentinho). 

São meros cinco episódios de um espetáculo visual - e teatral - único, com toques de ópera aqui e ali, e sabendo mesclar o contemporâneo à história. 

Tenho uma opinião muito questionada por outras pessoas de que Dom Casmurro é uma narrativa sobre obsessões e delírios os mais diversos. Seja pelo loucura desenfreada de Bento, desde novo, seja pelos sanguessugas que rodeiam a sua família, sempre encostados à estrutura de poder, visando algum interesse escuso.   

E, além disso, Capitu é nossa Desdêmona tupiniquim, a injustiçada que sequer pôde se defender desse homem cego pelo amor doentio. Nossa melhor ponte de acesso, de ligação, com o mundo de Shakespeare (universo esse que, volta e meia, Machado inseria em sua obra). 

Agora chega, pois embora seja uma série antiga, não quero dar spoilers de nada. Quero que vocês vejam essa pequena joia, muito bem produzida, e escondida lá no you tube. E tirem suas próprias conclusões. 


sexta-feira, 17 de março de 2023

Um deboche literário


Alguns livros mais parecem deboches literários e, honestamente, não vejo nada de mal nisso. Em tempos de editoras e leitores querendo censurar obras de autores internacionais que fogem ao modelo de correção política e moralismo vigente, nada melhor do que saber cutucar num bom texto (mas o fazendo com propriedade).

E é exatamente isso que o escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo faz em Veríssimas - frases, reflexões e sacadas sobre quase tudo. Na verdade, o livro é uma grande complicação de declarações dadas pelo autor ao longo da carreira sobre os mais diversos temas. 

Veríssimo faz rir, imprensa contra a parede, apela ao humor ácido inglês de quando em quando, alfineta figuras e situações públicas, dá sua versão dos fatos sobre certos temas espinhosos, etc etc (e haja) etc.

São mais de 8 mil frases, algumas curtíssimas, outras mais longas, que acabam por compôr um grande painel sobre os costumes - e também a cara de pau - do povo brasileiro. 

Se achou pouco, então leiam. Fica melhor de entender quando encaramos as frases cara a cara e nos damos conta do quanto somos hipócritas a maior parte do tempo. Alguns críticos compararam a obra à O poder do mau humor, de Ruy Castro, e realmente tem uma pegada semelhante, embora o estilo dos autores seja diferente.

E o principal: não sejam casmurros ou xiitas. Leiam o livro com a mente aberta. O mercado editorial e o país andam precisando (e muito!) de gente assim...  


segunda-feira, 13 de março de 2023

Oscar 2023 é pop (e ponto final).


Entre o metaverso (assunto-modinha na boca dos cinéfilos pop) e comebacks, aconteceu ontem a entrega do Oscar. E a sensação que me ficou foi: o cinema ganhou outros contornos - mais descartáveis - daqui pra frente. 

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, dos Daniels, para a alegria dos nerds e fãs da sétima arte mais pipoca, faturou 7 prêmios incluindo melhor filme. Injusto a meu ver, num ano em que haviam os exuberantes Tár, Os Fabelmans e Nada de novo no front (que, aparentemente, eu pareço fazer parte de um grupo do qual poucos gostaram; preferiram chamá-lo de "velho" ou "ultrapassado". Cada um com seu gosto!).

Foi um ano para celebrarmos atores e atrizes esquecidos ou por injustiças ou pela mera capacidade da Academia de esnobar quem lhe convém. Foi assim com Brendan Fraser - que teve toda minha torcida desde o início da temporada de prêmios -, Ke Huy Quan e Jamie Lee Curtis (esta última numa vitória questionada por muitos que preferiam Angela Bassett). 

Meu tio Guillermo del Toro faturou melhor animação por Pinóquio e eu adorei (acho indigesto o lobby da Disney todo ano nesse departamento e o representante deles era horroroso). Digo mais: quando ele fez seu discurso de agradecimento levantei-me do sofá para aplaudí-lo. O cara é foda! 

Até o burrico do filme Os Banshes de Inisherin deu as caras na cerimônia e achei-o mais expressivo do que o sem-graça do host, Jimmy Kimmel (nunca vi nada nele que merecesse um convite para ser anfitrião do Oscar). Bizarro mesmo - mas não no mau sentido totalmente - foi Cocaine Bear acompanhando a atriz e diretora Elizabeth Banks. Não sei mais o que esperar do filme. 

Entre os momentos que o público mais aguardava, ansioso, boas notícias: Rihanna e Lady Gaga deram o recado em apresentações elogiadas e no caso da nova Arlequina - dada sua magreza visível para interpretar a personagem - confesso: estou mais ansioso por Joker 2. Ela está realmente envolvida com o projeto. E ao lado do Phoenix, que é foda, só posso esperar coisas boas... Ah! Faltou dizer que Natu Natu, a canção do ano, levou a estatueta para a Índia (p.s: procurem pela apresentação da música no you tube. Não tinha mesmo como eles perderem!).

As tristezas (sim, não dá para deixá-las de fora): Cate Blanchett, avassaladora, perdeu para Michelle Yeoh. Meu outro tio, Spielberg, também saiu de mãos abanando. E esqueceram de mencionar no In Memoriam, que teve Lenny Kravitz cantando, a filha do Elvis e a atriz de O triângulo da tristeza, morta aos 32 anos sem sequer ver o filme ser indicado ao prêmio. Não, é sério. A academia esqueceu de incluí-las na lista. Não é só no Brasil que rolam essas vergonhas.

No mais, teve Malala num momento constrangedor, a ausência do Tom Cruise na festa e, claro, a Ásia fazendo o rapa e, por conseguinte, obtendo sua redenção na indústria americana de cinema. O Oscar é pop, tem que aturar.

Mas como bem dizia saudoso Rubens Ewald Filho, "depois que passa o Oscar é hora de falar mal do filme" e muita gente, é bem verdade, não gostou, achou exagero, disse que a premiação está se perdendo em meio a lobbys e campanhas, li até um dizendo que a barca já afundou faz tempo. E, em muitos aspectos, faz sentido a crítica.

O meu receio é que a cerimônia se transforme numa sucursal desse mundo tik tok instantâneo, dessa sociedade videogame competitiva em que vivemos, onde o que interessa é o lucro e o imediatismo. E que a arte e o cinema virem artigos em extinção ou de segunda categoria. 

Enfim... Só o tempo dirá se a mudança ocorrerá ou tudo não passa de um caso isolado. Agora só em 2024. 


quinta-feira, 9 de março de 2023

A fera mais famosa de Hollywood


90 anos de King Kong, clássico eterno dirigido pela dupla Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack. 

E eu me não me canso de perguntar: qual o segredo do sucesso desse gorila gigante? São muitas as releituras envolvendo essa que é, para mim, a fera mais bem sucedida do cinema hollywoodiano.  

A história todos já conhecem e até mesmo o diretor Peter Jackson, em seu remake estiloso, fez homenagem a ela: equipe de filmagem vai para uma ilha tropical à procura de locação para um longa-metragem e se depara com um gorila gigantesco, que é venerado por uma espécie de seita. O diretor, vendo na criatura uma chance única de obter sucesso, o traz para a cidade, mas o bicho escapa e transforma o lugar num verdadeiro caos. 

Detalhe: o monstro se apaixona pela estrela da equipe, Ann Darrow (vivida pela musa Fay Wray). 

A cena final, em que King Kong é abatido de cima do Empire State Building, é épica e entrou para a história do cinema. Mais do que apenas isso: o longa é visionário em vários sentidos mesmo tendo sido realizado numa época em que os efeitos visuais eram tão parcos e deficitários.

É preciso, no final das contas, um grande estudo de caso para entender o porquê de tamanho fascínio dos cinéfilos por criaturas e monstros tão gigantescos. Talvez faça parte de nossa psique cultuar o inverossímil e o sobrenatural. E a piori Kong agrega ambos os sentidos. 

No meu entender Hollywood deveria realizar um grande evento em homenagem a ele daqui 10 anos, quando o filme comemorará seu centenário (mais do que justo, é bom que se diga!). Do contrário, de que adianta chamarmos pérolas eternas como essa de clássicos?


segunda-feira, 6 de março de 2023

Mais brasileiro que isso, impossível.


Quase perco a extraordinária exposição Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito, que vai até amanhã no Centro Cultural do Banco do Brasil.

Impossível explicar o mestre Walter Firmo sem ver suas imagens acachapantes. São mais de 200 fotos feitas entre os anos 1950 e 2021, que retratam desde a população cotidiana até a cultura negra enraizada em várias regiões do país. 

E diferentemente de muitos fotógrafos famosos que escolheram retratar a fama e o show business, Walter viu no comum, no ordinary people, uma excelência que poucos conseguiram vislumbrar. 

Vemos desde a empregada doméstica de um subúrbio longínquo até a cantora Maria Bethânia (porém esta última, desprovida da ideia de artista, e sim num momento casual, de folga). E ainda dá para saborear um Pixinguinha numa cadeira de balanço... Sim, a expo chega nesse nível de intimidade.

Firmo gosta daquilo que a grande maioria da população, na maioria das vezes, prefere virar a cara ou fingir que não existe, pois não tem vocação (segundo eles, os pobres coitados!) para ser lembrado ou notado. Para ele, a sociedade civil e a classe trabalhadora são o que há de mais moderno em termos de civilização. E ponto.

Recomendo muito a quem curte fotografia. Eu mesmo, confesso, adiei a ida ao CCBB por tempo demais, injustamente. Deveria ter comparecido bem antes. Mas minha agenda cheia não permitia. Por favor, não cometam o mesmo erro. Sabe lá Deus quando poderemos ter essa chance de novo.

Se eu pudesse resumir o que vi numa reles frase seria: Walter Firmo é a cara do Brasil, sem mudar uma vírgula, um traço sequer.


sábado, 4 de março de 2023

O eterno galinho


Ontem Zico, ídolo-mor do Flamengo, completou 70 anos. E até hoje eu ainda me pergunto o que foi que aconteceu com o futebol brasileiro. Tanta coisa (no mau sentido) aconteceu desde que ele parou de jogar profissionalmente.

É... O galinho de Quintino ainda faz falta nas quatro linhas. E o Brasil, futebolisticamente, piorou - e muito!

Não se veem mais tantos batedores de falta como ele. O esporte meio que perdeu sua elegância depois que ele abandonou as chuteiras.

Fernando Calazans dizia quando os detratores de Zico o acusavam de ele não ter ganho a copa do mundo: "quem perdeu foi a copa". E está coberto de razão até hoje.

Ele é, com folga, nosso maior nome no esporte mais popular do país depois de Pelé (que já nos deixou). E quem lembra de seus gols, seus dribles, sua técnica, sua participação na Espanha em 1982 (a maior seleção que eu vi jogar até hoje), a maneira como levou o futebol para o Japão, não esquece.

Zico virou história em quadrinhos, filme, até enredo de escola de samba pela Imperatriz Leopoldinense. Um fenômeno.

E o futebol brasileiro nunca precisou tanto de alguém como ele. A CBF e as campanhas pífias nos últimos mundiais que o digam!

Vida longa, Zico. Você merece. 


quarta-feira, 1 de março de 2023

Uma era de exageros e holofotes


As pessoas gostam de se referir à Hollywood como a meca do cinema. Elas só não fazem questão de entender o que é Hollywood. E acreditem: ela nunca esteve interessada em ser um conto de fadas ou mesmo um manual de regras. Muito pelo contrário...

Em Babilônia, o diretor Damien Chazelle (de La La Land e Whiplash), nos apresenta os tempos áureos dessa hollywood, da passagem do cinema mudo ao sonoro. E assim como vemos o glamour, as divas e os galãs, também vemos a sujeira, a corrupção, as disputas internas dentro dos estúdios, a dança das cadeiras, e muito mais.

É um mundo podre, meus caros! E pessoas como Nellie LaRoy (Margot Robbie, fantástica) e Jack Conrad (Brad Pitt) não passam de meras engrenagens descartáveis que fazem o show continuar ad infinitum.

Festas, drogas, paranoia, abuso de poder, a indústria da fofoca na jugular dos astros, a presença do mercado negro, a disparidade entre a elite artística e aqueles que ganham a chance de ouro de fazer parte, mas sabem que sempre serão rotulados pelos demais... Babilônia exibe uma era de exageros e holofotes capaz de consumir qualquer um. A qualquer hora. E logo a seguir procurar um substituto (para também explorá-lo).

Infelizmente os votantes do Oscar não quiseram enxergá-lo. E quem perdeu com isso foram eles mesmo!

Há muitos anos não vi algo no gênero tão bem feito, com tanta coragem e vontade de dar certo. O problema: os espectadores e os donos de cinema hoje em dia só querem saber de histórias rasas, CGI, câmera tremida e lobby babaca.

Só nos resta rezar para que essa fase pobre do cinema americano passe logo. Os cinéfilos de verdade aguardam ansiosos.