domingo, 24 de novembro de 2024

A bomba atômica ainda não foi desmontada


Vejo matéria no jornal comentando, no último dia 22, as duas décadas de How to dismantle an atomic bomb, do U2. É o último álbum da banda que eu realmente gostei (na verdade: que eu embarquei como um todo). E, lógico, que eu precisava comentar algo aqui.

A banda abre o trabalho avassaladoramente com "Vertigo" (e naquela época eles, de fato, pareciam viver uma grande vertigem musical, diferentemente do que veio depois, a chatice ideológica, os discursos engajados, a música sonolenta, as turnês milionárias e óbvias em excesso, etc).

Com "Miracle drug", Bono diz que quer viajar dentro de nossa cabeça e passar o dia lá... e parece, por um momento, conseguir. Diz mais. Que as canções estão no nossos olhos. E eu me lembro dos maiores hits da banda ao longo da carreira, e penso: "é verdade, eles ainda estão comigo!".

Já em "Love and peace or else" temos um quase libelo anti-guerra, anti-violência. A banda diz que precisamos de paz e amor (já se passaram 20 anos e ainda precisamos, Palestina e Ucrânia que o digam!). Ao fim perguntam, quase no desespero: "Onde está o amor?". Como eu gostaria de saber, meus amigos...

"City of blinding lights" é outra pedrada na fuça. É a minha favorita do disco. Se na canção anterior eles perguntam sobre o amor, aqui querem saber o que aconteceu com a beleza que tinha dentro deles. "Foi a globalização e a falta de tato que fez tudo sumir, gente! Infelizmente..."

A partir de "All because of you", o grupo já pegou a manha, já entendeu o que precisa fazer para manter o nível de interesse do ouvinte. E faz isso de um jeito ímpar (algo que se perdeu nos últimos anos, confesso). E vale uma conferida, com carinho, também em "Crumbs from your table", "Original of the species", "Yahweh" e "Fast cars". Elas merecem a sua atenção.

Ao fim da audição um sentimento de saudade profunda. O U2, infelizmente, hoje não é mais esse. Uma pena! Mas, contudo, penso: "faz parte da história de todas as bandas esse distanciamento. O melhor sempre fica pelo meio do caminho. A própria música pop não é mais a mesma. Na verdade, virou um arremedo de cultura. E isso também é muito triste. 

As bombas atômicas continuam em voga, não foram desmontadas. Pelo contrário... Há até imbecis que se mobilizam por uma terceira guerra mundial (tudo que o mundo, em tempos de aquecimento global, inteligência artificial e fake news, não precisa - mesmo!). Ainda bem que ainda é possível ouvir de novo a mensagem desse álbum poderoso. 

Que ele permaneça vivo em tempos de caos e hipocrisia. 


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