Toda vez que eu posto aqui no blog sobre literatura e mercado editorial eu preciso lutar contra a minha própria sanidade. E nesse final de 2025 não foi diferente. Após ver a lista dos livros mais vendidos pela Amazon durante esse ano, eu percebo dia a dia o quanto o leitor brasileiro se esmera por ser pobre (intelectualmente falando).
Vamos à lista antes de qualquer outro comentário:
Do dia para a noite, Bobbie Goods
Dias quentes, Bobbie Goods
Café com Deus pai, Junior Rostirola
Verity, Colleen Hoover
A psicologia financeira, Morgan Housel
A metamorfose, Frank Kafka
A hora da estrela, Clarice Lispector
Isso e aquilo, Bobbie Goods
Hábitos Atômicos, James Clear
O homem mais rico da Babilônia, George S. Clason
Mal termino de ler a lista e minha frustração toma conta da sala (estava vendo a relação sentado no sofá, pela tela do meu notebook). Imediatamente salvo meus únicos dois exemplares viáveis: A metamorfose e o irretocável A hora da estrela, da sempre magnífica Clarice. E quando leio a frase Bobbie Goods três vezes, tenho a imediata certeza: estamos fodidos e mal pagos.
Sempre desconfiei do leitor brazuca. Ele, na maioria dos casos, desdenha de nossos grandes autores, não faz a menor questão de conhecer nomes como Machado, Graciliano, Lima Barreto, Nelson Rodrigues, Autran Dourado, Castro Alves, Drummond, isso quando não chama um ou outro literato do passado de "doutrinador", "machista", "pervertido", "imoral", etc etc etc, em nome de uma suposta "moral e bons costumes" que não passam de frustração verborrágica.
Somos uma civilização de enxeridos, fofoqueiros, debruçados em telas de celulares enquanto fazemos caretas e bisbilhotamos a vida dos outros (de preferência, os famosos fúteis do cotidiano pop star). Contudo, vislumbrar ano após ano o desinteresse latente do próprio povo por sua literatura ou por grandes nomes da literatura internacional, é de doer.
Passei minha vida correndo atrás de autores como Umberto Eco, Shakespeare, Alberto Moravia, Dostoiévski, Jorge Luis Borges, Tolstói, Tom Wolfe, Truman Capote e cia. e hoje me deparo com uma geração que se perdeu na idiotice humana produzida por uma internet que só faz jogar uns contra os outros em nome de uma popularidade e uma fama sórdidas. Triste, viu!
Que acordemos o quanto antes (e eu sei que esse é um pedido já velho e repetitivo de uma parcela da sociedade lúcida que não aguenta mais tanta vergonha alheia e más escolhas - parcela da qual sempre fiz parte, desde meus 10 anos, quando descobri o poder por trás dos livros) desse imenso marasmo intelectual e do que se tornou a sociedade nas últimas décadas. É preciso abolir urgentemente essa mentalidade fast food ou Prêt-à-porter do mercado, que transforma tudo em consumo rápido e fácil.
Literatura não é sabão em pó, muito menos um liquidificador ou uma motocicleta, logo não deveria ser tratada como tal por quem deveria transformá-la num artigo transformador (principalmente para as próximas gerações, que mal nasceram ainda e já são parte do problema, já herdam o aspecto deficitário desse cenário). Dito tudo isto - e após ler novamente a execrável lista - oremos. Por dias melhores. E que eles venham, rápido.


















