Mal chego em casa e ligo o notebook, me deparo com a triste notícia da morte da atriz Diane Keaton, aos 79 anos. Mais uma para a lista de obituários e que, dificilmente, encontrará uma sucessora à altura nessa hollywood cada vez mais cheia de teens, invenções pop sem sentido e canastrões. Uma pena!
Num perfil do X (que eu continuo chamando de twitter, não importa quanto tempo passe) um cinéfilo tão apaixonado pela atriz quanto eu se refere à Diane como "o rosto da mulher moderna". E ele está coberto de razão. Sei que a maioria dos cinéfilos vai sempre se lembrar dela pela Annie Hall de Noivo neurótico, noiva nervosa, de Woody Allen ou então pela Kay Adams, esposa de Michael Corleone em O poderoso chefão, mas eu nunca consigo dissociá-la da Theresa Dunn de À procura de Mr. Goodbar, de Richard Brooks.
E por quê? Porque ali, Keaton não só interpretou uma mulher à frente do seu próprio tempo como nos entregou o modelo feminino no qual acredito e que via em minha mãe e minhas tias (na verdade, na forma como elas me criaram). Sem se rebaixar à ninguém, entendendo o seu espaço dentro da instituição familiar, mas mesmo assim buscando não trair a si mesma, à sua própria essência. Quem não conhece o longa, assistam. Vocês não sabem o que estão perdendo!
Ela também foi, à sua maneira, uma musa das comédias. Mas diferentemente de outras atrizes associadas ao gênero - como Julia Roberts e Meg Ryan - não se submetia unicamente ao final feliz ou ao casal romântico. Sabia debochar de si mesma quando necessário, bem como subverter todos os valores da sétima arte. E foi justamente isso que fez dela uma figura tão grandiosa e querida perante os colegas de cena.
Impossível vê-la, mesmo em seus papéis menores e menos impactantes, e não se sentir inebriado por sua presença cênica. Não conheci uma pessoa dentro da indústria cinematográfica norte-americana que falasse mal dela. E a nova geração via nela um modelo a ser seguido, à risca se possível.
Assisti Reds, o polêmico (e também lendário) filme de Warren Beatty, muito por causa da parceria de ambos. Fossem outros artistas, provavelmente eu não teria dado o mesmo ibope - e certamente teria perdido um baita filme, praticamente o Cidadão Kane da década de 1970. Diane Keaton, no final das contas, foi a mãe, a avó, a tia, a melhor amiga, a vizinha engraçada, que todos queríamos ter em algum momento de nossas vidas.
Alguém para nos dar conselhos e palpites. Ela era ótima nisso. Não. Ela era ótima em muitas coisas (e não somente atuar). E vai fazer uma puta falta no cinema americano dos próximos anos (quer dizer: se os produtores vazios, viciados em blockbusters inúteis e a inteligência artificial não destruírem com tudo de uma vez por todas). Fica com Deus, moça! Você era demais.

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