Fiquei ruminando a informação - e, claro, as imagens - por um tempo, antes de esboçar uma opinião a respeito do tema. Muita gente dizendo que é o princípio do fim de hollywood, artistas do Sindicato dos Atores (o famigerado SAG-Aftra), principalmente o próprio presidente da instituição, chamando a criação de uma "irresponsabilidade", além de blogueiros, twitteiros e outros comentaristas dando um pitaco aqui e ali sobre a polêmica.
Do que é que eu estou falando mesmo? De Tilly Norwood, a primeira atriz digital, criada via inteligência artificial. Criação da empresa Xicoia (e representada pela Particle6), ela começa a aparecer em campanhas publicitárias e a ganhar terreno, almejando, num futuro não tão distante, conquistar trabalhos em longas-metragens "atuando". O problema: ela é um produto que só existiu por ter sido treinada com material produzido por atores de verdade, e o pior: sem sequer pedirem autorização para isso.
E a consequência do nascimento dessa nova "estrela" é que, muito provavelmente, numa próxima greve articulada pelo setor esse assunto irá render muita discussão. Se já não bastassem os terríveis algoritmos com suas tramas óbvias e a história dos castings escolherem artistas para projetos apenas pela quantidade de seguidores que eles possuem na internet, agora aparece um substituto virtual para a classe artística, que já é boicotada e marginalizada de todos os lados.
Impossível ver Tilly - que me lembrou à primeira vista, fisionomicamente, a atriz Lilly Collins (da série Emily em Paris) no começo da carreira - e não se lembrar imediatamente do filme S1m0ne, de Andrew Niccol, no qual o diretor Viktor Taransky (Al Pacino) substitui a atriz protagonista do seu filme por uma mulher digital que faz um arrebatador sucesso, até que o público começa a exigir a presença dela em eventos públicos e pré-estreias.
Dizer que S1m0ne não abriu o caminho para o surgimento de Tilly é, no mínimo, estar completamente fora da realidade. Mas, brincadeiras à parte, a realidade é ainda mais negra e nebulosa do que a ficção, principalmente se pararmos para pensar no que o mercado de trabalho (independente de qual seja) vem se tornando.
Mas acredito, sinceramente, que hollywood também é, em grande parte, culpada por essa criação. Nos últimos anos, a meca do cinema vem enchendo suas produções cinematográficas de artistas de gosto e talento duvidoso, além de ex-strippers, lutadores de Wrestling, top models recém saídas do Victoria's Secret, além de figuras famosas do mercado pornô. Logo, pensaram alguns produtores, se a classe está em crise por que não radicalizar de vez e fazer uma versão não-humana dos artistas?
O que esperar nas cenas dos próximos capítulos dessa guerra cultural sem limites? Não faço a menor ideia. Mas que não será nada bonito - como tudo que envolve cifras milionárias no capitalismo - ah, não tenham a menor dúvida!
Até lá, aguardemos (ansiosos ou não).

Sem comentários:
Enviar um comentário