quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Rever é a nova onda dos cinemas


O que A hora da estrela, Paris,Texas, Incêndios, Psicose, O bebê de Rosemary, The Rocky horror picture show, Se7en - os sete crimes capitais, Batman, Mulholland Drive: a cidade dos sonhos, Saneamento básico - o filme e A noviça rebelde têm em comum? Eles foram - ou serão, nos próximos meses - relançados nas salas de cinema. Um fenômeno que tem se tornado cada vez mais recorrente no mercado cinematográfico e que diz muito sobre o circuito exibidor e as atuais escolhas de estúdios e produtores.

Hollywood, a meca do cinema (quer dizer: até tempos atrás era isso e ponto. Já hoje em dia...). Passou por períodos memoráveis como a era do western; o fenômeno Star Wars, que evidenciou a importância e a fatia de mercado para os blockbusters; o período áureo fomentado por diretores como John Ford, Billy Wilder, John Huston, Sam Peckinpah, Sergio Leone...; e recentemente a ascensão dos chamados "filmes de super-herói" da Marvel e da DC.

Contudo, nos últimos anos, é inegável a crise de criatividade no cinema americano, aprisionado entre remakes, spinoffs, reboots, tributos e reinvenções as mais diversas. A palavra originalidade parece ter perdido meio que o seu sentido de umas duas décadas para cá. E o resultado dessa escolha é: produções caras que flopam; longas que prometem o mundo, mas não entregam o básico; personagens esgotados pelo próprio tempo (e pela mudança dos atores que os interpretam) gerando um loop interminável de mesmices e reformatações.

E diante de cenário tão dantesco, os exibidores veem no quesito nostalgia uma arma forte na hora de gerar bilheteria. Rever virou, sim, a nova onda dos cinemas, principalmente para aquele público cansado de franquias e narrativas óbvias que não fogem do senso comum e do festival de efeitos especiais que, em muitos aspectos, vêm estragando a grandeza por trás da experiência cinematográfica.

Um ponto importante a ser destacado: se você não pertence á algum tribo ou nicho nerd ou geek, ou não idolatra o chamado fandom, se torna um espectador ainda mais interessado nesses relançamentos, pois eles representam uma época da sétima arte em que eles se sentiam representados (diferentemente da relação deles com o cinema atual).

Eu mesmo, que fui ver a nova cópia 4K de Paris,Texas, obra inconteste do diretor Wim Wenders, saí da sessão em êxtase e também relembrando da ocasião em que vi o longa pela primeira vez. Um mar de memórias as mais loucas tomou conta de mim e me fez pensar no quanto o cinema americano vem perdendo no conceito de longevidade nos últimos anos. Os filmes, acreditem!, nunca foram tão imediatistas e voltados para o próprio umbigo de uma geração avessa ao debate quanto agora.

E isso, mais do que triste, é lamentável. Em todos os sentidos cinéfilos possíveis.

Que a nova onda continue mostrando sua força e, mais do que isso, avise aos produtores de plantão (mais interessados em box office rápido e astronômico do que realmente construir uma boa história) que ela veio para ficar, assim como a tão polêmica e temida inteligência artificial, cuja única certeza que promete ao mundo cinéfilo é que irá desempregar muita gente. Logo, torçamos juntos por dias melhores e que os ares nostálgicos apontem novos caminhos. O quanto antes.

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