O meu pai era apaixonado por ela. Na verdade, ela foi o crush de toda a geração a qual o meu pai pertenceu. Quando eu ouvia as conversas dos mais velhos acerca da sétima arte, o nome dela era sempre mencionado como ícone de beleza. "Mas quem é essa?", vocês, leitores deste breve post, perguntarão. Falo, obviamente, da atriz italiana Claudia Cardinale, que faleceu ontem, aos 87 anos.
Eu a vi na tela pela primeira vez junto com meu pai (sempre ele, é claro!) no sofá da sala de casa numa sessão em vhs do faroeste icônico Era uma vez no Oeste, clássico do diretor Sergio Leone. E naquele exato momento entendi o porquê dela enlouquecer tantos homens. Ela era realmente ímpar no quesito sedução.
Uma semana depois, assisto Fitzcarraldo, a obra-prima subestimada de Werner Herzog (e que precisa ser apresentada -urgentemente - a essa nova geração alienada e enfadonha), filmando na Amazônia, com direito a José Lewgoy e Grande Otelo no elenco e tudo. E lá estava ela, radiante, de novo. Ela sempre era radiante.
Talvez eu exagere ao dizer isso (os críticos de cinema e os metidos - como eu - costumam exagerar de tempos em tempos), mas Claudia Cardinale foi a Marilyn Monroe européia para muito cinéfilo que se preze. Seu sorriso, postura, elegância e sex appeal marcaram uma época do cinema que, infelizmente, não regressará mais, em tempos de busca desenfreada por bilheteria e prêmios em festivais.
A "Menina italiana mais bonita na Tunísia", prêmio que Claudia ganhou em 1957, fazendo alusão ao país onde nasceu, também marcou época em produções como Oito e meio, de Federico Fellini; O leopardo, de Luchino Visconti; além de marcar presença num dos longas da franquia A pantera cor-de-rosa, do diretor Blake Edwards.
Moral da história (se é possível uma, nesse caso): mal nos despedimos do gigante Robert Redford e o mundo da sétima arte nos dá outra cutilada na aorta, deixando os verdadeiros fãs de cinema ainda mais órfãos. E a má renovação constante, proposta por uma geração cada dia mais baseada em lucros e poses, que só pensa em status e box office, complica ainda mais o futuro desse mercado. Não é à toa que já tem imbecil projetando a inteligência artificial como a substituta do talento artístico. Negros tempos esses para a verdadeira cultura.
No mais, Claudia... Embora sejamos de gerações diferentes, fica minha eterna saudade. Você era realmente a grande dama do cinema italiano. Fica em paz!

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