Se você não ouviu Gonzaguinha (fosse você contemporâneo dele ou não), então não ouviu a MPB. Se você não sentiu, muito menos entendeu o que ele disse em suas letras poderosas, na boa... Você não entendeu - não entende ainda - absolutamente nada e merece perder tempo ouvindo as porcarias que as rádios e os festivais tocam hoje em dia. Gonzaguinha era mítico, num nível que a própria música brazuca não é mais capaz de entender.
Se vivo fosse, Gonzaguinha estaria completando 80 anos de idade. E posso lhes dizer, de tudo que ouvi, li e entendi acerca do seu trabalho, ele estaria certamente afrontado com o Brasil de hoje, saudosista das maiores atrocidades. Ele sempre se posicionou contra o sistema. Antes mesmo de raciocinarmos acerca da expressão "música de protesto", ele já era isso, na veia, 24 horas por dia. E sua voz combinadas a palavras poderosas já diziam isso, em alto e bom som.
Ouçam "O que é o que é?", "É", "Lindo lago do amor", "Espere por mim, morena", "E vamos à luta", "Eu apenas queria que você soubesse", "Comportamento geral", a extraordinária "Sangrando", "Um homem também chora", "Grito de alerta", "Ponto de interrogação", "Geraldinos e arquibaldos" e tantas outras e tirem as suas próprias - e necessárias - conclusões.
No dia de sua morte (na verdade, até hoje nutro esse sentimento) fiquei perplexo. Sua presença de espírito era tão avassaladora que me parecia meramente impossível me despedir dele daquele jeito. Poucas vezes a cultura brasileira se despediu de alguém que precisasse tanto ficar por aqui. Que dirá agora, em tempos tão funestos e deslumbrados com a própria covardia.
Muitos o achavam a antipatia em forma de pessoa, mas ele era repleto de personalidade, isso sim. Não fazia o jogo da mídia nem agradava aos interesses dos inescrupulosos homens da poder. Sua obsessão era com o povo, com suas mazelas e angústias. Quando precisou radicalizar em suas canções, radicalizou e ponto. Quem quisesse que o processasse. Assim era Gonzaguinha, o rebelde da MPB.
Imaginar que ele poderia estar aí, entre nós, nesse momento difícil pelo qual o país passa, me faz acreditar que a música é atemporal e precisa ser reapresentada urgentemente à essa nova geração. O quanto antes.
Mestre, onde quer que o senhor esteja, fica com Deus. Seu legado será eterno.

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