terça-feira, 9 de setembro de 2025

Eles continuam entre nós, aqui, ali, em qualquer lugar


Não entendo pessoas que falam da "literatura brasileira indispensável" no Brasil e não incluem, junto com Memórias póstumas de Brás Cubas, Grande sertão: veredas, Dom Casmurro, O romanceiro da inconfidência e Os sertões, o magnífico (e ainda atualíssimo) Morte e vida severina, do mestre João Cabral de Melo Neto. Se essas pessoas fossem computadores, diria que se trata de um erro sistêmico grave.

Nunca entendi a implicância de certos leitores com Mr. João Cabral, um autor lendário e imprescindível para quem quer entender o que é realmente o Brasil. E fiquei ainda mais fã do poeta depois de ler a graphic novel produzida por Odyr (de quem já havia lido, anos atrás, o também extraordinário Copacabana, que recomendo aqui inclusive!).

O primeiro mérito da obra gráfica é fazer um paralelo entre os retirantes nordestinos e os refugiados que atravessam o mundo, seja por terra ou mar, à procura de uma nova nação onde possam sobreviver dignamente. Não é de hoje que vivemos num mundo onde parece cada vez mais difícil manter-se vivo no país natal, por conta de políticas culturais e econômicas extorsivas, que só servem para expulsar a classe trabalhadora do local.

Sim, meus caros leitores! Vivemos num planeta que cultua mentalidades como a da gentrificação e também do downsizing, com o único e claro objetivo de tornar pior a vida de quem luta diariamente para sobreviver, enquanto os mais ricos são sempre beneficiados por cortes de gastos e políticas de isenção fiscal. Resultado: não podendo mais sobreviver minimamente ali, multidões imigram desesperadamente na tentativa de encontrar um novo lar, menos explorador.

Odyr acerta em todos os aspectos: seja no uso das cores, nas cenas de dificuldade retratadas, e principalmente por deixar os semblantes dos personagens não tão nítidos, meio embaçados, nos dando a sensação de que teremos grande dificuldade de definir quem são essas pessoas, quais são suas histórias, o que pretendem esses "sobreviventes"

Ao fim, o legado que fica é o de que eles, os desgarrados do mundo, ainda se encontram entre nós, vagando, buscando um porto seguro, lutando contra uma realidade cada dia mais atroz, em meio a segmentos políticos que só sabem demonizá-los, tornando-os os verdadeiros culpados do colapso do mundo.

Terá solução para isso em algum momento? Esta talvez seja a pergunta mais importante que permeará todo esse século XXI cada dia mais injusto e conflituoso. 

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