Ele foi o galã de muitas cinéfilas apaixonadas, foi o ativista da causa ambiental (embora não gostasse do rótulo), foi um artista engajado na luta em prol do cinema independente, criou o Instituto Sundance e deu oportunidades para o surgimento de cineastas como Quentin Tarantino, Richard Linklater e tantos outros, e não bastasse tudo isso construiu uma filmografia de respeito com, pelo menos, uma dúzia de hits (provavelmente mais).
De quem falo? Do ator Robert Redford, obviamente, que nos deixou hoje, aos 89 anos, para a tristeza dos amantes da sétima arte e de hollywood.
Difícil saber por onde começar quando o assunto é a carreira de Redford. Ele foi o jornalista Bob Woodward, um dos responsáveis pela matéria que levou ao desmascaramento do Escândalo Watergate, durante o governo Richard Nixon em Todos os homens do presidente, de Alan J. Pakula; Foi o pistoleiro Sundance Kid no clássico faroeste dirigido por George Roy Hill; foi o diretor penitenciário Henry Brubaker no longa homônimo de Stuart Rosenberg; foi Turner, o investigador da CIA acuado por seus rivais em Três dias do condor, de Sydney Pollack; foi o extraordinário Jeremiah Johnson de Mais forte que a vingança... Além de uma lista tão gigantesca que eu poderia passar o final de semana inteiro e não terminá-la nunca.
O garoto que, aos 11 anos, foi diagnosticado com poliomielite tornou-se sex symbol e vencedor do Oscar de melhor diretor por Gente como a gente, de 1981, tendo de conviver paralelamente com a timidez e os sucessos de bilheteria. Teve inúmeros amores, dentre eles a atriz brasileira Sônia Braga. E entre suas lutas mais ferrenhas, estavam a preservação ecológica e a postura contrária à mercantilização dos festivais (algo que vem se tornando uma tônica nos últimos anos!)
Se é possível classificar um artista como Robert Redford, talvez a palavra que melhor se enquadre seja lendário. E olha que, durante todos esses anos que eu acompanho a carreira dele, eu sempre tive a sensação de que a academia e a indústria de cinema americano não o reconheceram como ele realmente merecia. Ele deveria estar no mesmo panteão de nomes como Paul Newman, Steve McQueen, Jack Nicholson e outros medalhões, mas eu nunca percebi essa motivação por parte de hollywood. Sempre achei que o tratavam como uma ator subestimado, subvalorizado (o que é uma puta injustiça).
Redford é mais um que parte deixando hollywood ainda mais carente de ídolos e, como sempre costumo falar em meus posts sobre cinema, à anos-luz de uma renovação que seja minimamente digna. Assim como não acredito que a hollywood contemporânea nos dará um novo Steve McQueen (Bullitt é eterno, digam o que disserem), também não acredito na existência de um novo Redford nesse século XXI. E isso é triste demais.
P.S: uma dica para hoje à noite quando sentarem em frente à tv para ver um filme e quiserem homenageá-lo: procurem por Quiz show: a verdade dos bastidores, que ele dirigiu e foi indicado ao Oscar. Trata-se de uma joia rara muitas vezes esquecida em meio a uma cinematografia brilhante.

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