De onde vêm essa geração de artistas que se dão tamanha importância ao ponto de se acharem essenciais, não somente para a cultura pop, mas também para a sociedade contemporânea? Não bastasse a metidice de cantoras como Britney Spears (a eterna garota playback) e Avril Lavigne, reboladoras de bundas (vulgo divas) e o "artista negro fascinado pelo nazismo que teve show barrado em SP" (não, é isso mesmo que vocês leram!), agora aparece Rosalía em seu novo álbum, Lux, quase se apresentando como messias da nova era.
Primeiro de tudo: quem chamou Rosalía de "grande voz" precisa urgentemente ouvir Whitney Houston e Tina Turner no auge de suas carreiras. O sarrafo vocal diminuiu - e muito! - na última década, ao ponto de chamarmos de excelência artistas que sequer têm compromisso com cantar ao vivo quando o lugar exige. Sim, eu sei... É triste.
Em "Sexo, violencia y llantas", primeira faixa de Lux, Rosalía já entra de sola desagradando religiosos de plantão com a frase "Quem me dera viver entre as duas coisas: primeiro amarei o mundo e depois amarei Deus". E pela tiração de sarro com os devotos fanáticos, até aí problema nenhum. Contudo, o conjunto da obra ao longo das canções acaba por construir uma espécie de rito da soberba que, certamente, incomodará aqueles que já tem implicância com esse tipo de pessoa esnobe que acha que é estrela, mesmo quando não é realmente.
"Não sou uma santa, mas sou abençoada" (em "Relíquia"); "Eu sei que fui feita para divinizar" (em "Divinize"); "O prazer anestesia minha dor, a dor anestesia meu prazer, Eu sou o nada, eu sou a luz do mundo" (em "Porcelana"); "Meu Cristo chora diamante" (em "Mio Cristo Piange Diamanti"), além de toda a dor do mundo cantada - quase confessada - em "Berghain". No fim, o que ouvimos é um festival de ostentações que poderiam perfeitamente ser substituídas por músicas melhores, sem tanta polêmica gratuita (que, infelizmente, é a cara dessa nova geração musical). E tudo isso disfarçado de clima operístico, só para parecer sofisticado.
E Rosalía ainda arranja tempo para chamar Deus de stalker, confecciona a "rumba do perdão" e passeia em meio a noivas robôs e o dito mundo novo. Quanto exagero!
Sei que serei escalpelado pela base doentia de fãs da cantora, mas... não dá. Venho de um outro tempo. Um tempo em que mudávamos as estações de rádio (o que é rádio hoje em dia mesmo?) e nos deparávamos com artistas como Sinéad O'Connor, Annie Lennox, Barbra Streisand, Nina Simone e Celine Dion, entre outras feras. Logo, fica quase impossível chamar qualquer coisa de genial. Aliás, tenho uma teoria de que a palavra genialidade perdeu o seu sentido no século XXI, mais afeito à identitarismos vazios e discursos midiáticos que em nada acrescentam à realidade nua e crua.
Termino de ouvir o álbum, pensando: "o que virá a seguir?", "será que já ultrapassamos todas as expectativas da falta de bom senso?". Infelizmente, levando-se em consideração o que se tornou o show business, às vezes parece que o pior ainda nem apareceu de fato. E isso é assustador. Logo, oremos por dias musicais melhores.

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