sábado, 31 de agosto de 2024

Quando a vida é só fugir da morte


Desde que ouvi falar, pela primeira vez, sobre o projeto cinematográfico Motel Destino, do diretor Karim Ainouz (que fez parte da mostra competitiva do Festival de Cannes desse ano), me interessei de cara. Karim faz parte de uma geração do cinema nacional que pode filmar qualquer assunto e ainda assim chamar a minha atenção de cara. Este novo filme não é exceção. Pelo contrário. Trata-se de uma interessantíssima aquisição para o meu curriculum cinéfilo. 

Acompanhamos a saga de Heraldo (Iago Xavier), que busca fugir de sua vida trabalhando para o tráfico. Ele almeja uma nova realidade para si, contudo tem dívidas a serem quitadas e para se livrar delas, é necessário realizar - junto com seu irmão - um "último serviço".

Por conta de um encontro amoroso que acaba mal, ele não chega ao local do serviço a ser feito e seu irmão é morto. Procurado pelos homens de Bambina, a líder do tráfico, ele pede abrigo a Dayana (Nataly Rocha), no motel de beira de estrada que dá título ao longa. E ao conhecer Elias (Fábio Assunção), gerente do local e esposo de Dayana, acaba sendo contratado como faz-tudo do lugar. 

O problema é que, mais do que um mero refúgio, o motel acaba virando para Heraldo uma oportunidade de uma nova jornada quando se apaixona por Dayana. E todo o contexto, o clima erótico proposto pelo estabelecimento ajuda a criar esse sentimento de "eu preciso dar um jeito na minha vida o quanto antes". 

Como o próprio personagem diz numa das cenas finais da película, sua vida sempre se resumiu a fugir da morte de tempos em tempos, por estar sempre envolto em problemas e associado a pessoas ligadas ao crime. E ele vê no love story com Dayana uma real chance de se libertar disso. O problema: o temperamento violento e por vezes radical de Elias.

Assim como aconteceu anteriormente em seus longas Madame Satã e O céu de Suely, em Motel Destino Karim também exerce seu estilo, brinca com cores e sonoridades e nos apresenta um filme que flerta de forma muito eficiente com o erotismo (artigo raro hoje em dia, em tempos de moralismo exacerbado e cenas de sexo por vezes escrachadas e descontextualizadas da realidade). Aqui nada me parece fora do tom nesse sentido - e não à toa o diretor já disse que pretende transformar esse universo numa trilogia. 

Para quem anda cansado de Tatá Werneck, Paulinho Gogó e cia, Motel Destino é não somente uma excelente pedida, como também um animal meio que estranho em nossa atual cinematografia. E por isso mesmo merece ser apreciado, de preferência a conta-gotas, para não perder o fio da meada. Apreciem sem moderação!   


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