Primeiramente, antes de qualquer outra coisa que eu diga neste post, é preciso evidenciar: Fernando Pessoa é foda. E ah quem dera isso fosse o suficiente para explicar a sua obra, o seu talento e, principalmente, o seu legado tanto para a literatura portuguesa quanto a mundial.
O poeta modernista que nos entregou o clássico Mensagem e criou um universo à parte dentro da literatura com mais de 100 heterônimos (100 vozes ímpares, capazes de quase formar um microcosmos da sociedade) é, sem sombra de dúvidas, das melhores coisas que a arte já foi capaz de nos apresentar. E eu me pergunto de quando em quando o que ele ainda seria capaz de aprontar se vivesse nesse século XXI fragmentado, confuso e cheio de ideologias efêmeras!
E fiquei pensando então, depois de lembrar de tudo isso: "pronto! tudo o que eu podia dizer sobre esse mestre já foi dito. Não falta mais nada". Verdade? Antes fosse! Eu ainda não havia lido o magistral e indispensável o Livro do desassossego.
Figuras proeminentes da crítica literária já chamaram este calhamaço de "o antilivro", "subversão literária", "negação", "o livro em plena ruína", "o livro-sonho"... chegaram até a compará-lo com James Joyce, de quem acusam (até hoje) de colocar o mercado editorial em colapso ou crise. Enfim... nenhuma dessas definições fazem jus à obra.
A priori Livro do desassossego parece não ter pouso certo, destino algum. Ou talvez seu destino seja ficar vagando entre memórias furtivas, por vezes repletas de lacunas. No entanto, nenhuma outra obra do poeta disse mais sobre ele, sobre suas agruras, seu demônios interiores, do que essa.
Trata-se de uma viagem para lá de pessoal (e, por isso mesmo, em certos momentos, confusa, truncada) à mente febril de um gênio. Não esperem por happy ends, soluções práticas, explicações acadêmicas ou mesmo um clímax arrebatador. Aqui, o que realmente está em jogo é nos deleitarmos com as premissas, opiniões - por vezes contraditórias até - e desabafos apaixonados de um homem que lutou com unhas e dentes contra um mundo complexo e que ele não o entendeu completamente.
Recomendo a leitura apenas para corajosos e amantes dos autores clássicos. A nova geração, mais afeita à young adults, franquias e auto-ajuda, certamente ficará desconsolada ao acompanhar o ritmo de Pessoa, bem mais lento e particular (o que não significa, em nenhum momento, monótono ou repetitivo).
Entra com folga na minha lista de melhores leituras de 2024. Na verdade, onde eu estava com a cabeça que ainda não o havia lido antes? Conheçam! Se possível hoje mesmo, de preferência...
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