sábado, 17 de agosto de 2024

O homem do baú se foi


É tão fácil, mas ao mesmo tempo tão difícil, falar do apresentador e empresário Sílvio Santos. Fácil porque sua história se confunde com a da televisão brasileira. E difícil porque você sempre pensa, na hora H: "eu vou me esquecer de alguma coisa, eu sei que vou...". Sua figura foi tão onipresente na telinha que marcou o século XX. E agora, posso dizer que sua morte foi meio que um epílogo, o encerramento de uma era. 

Senor Abravanel vem para o Brasil e ganha a vida como camelô, morando na Lapa, bairro boêmio do RJ. Com sua voz indefectível, foi locutor, trabalhou em rádio, até que organizou eventos na barca da cantareira (mal sabia ele que aquilo seria o embrião de sua marca registrada... ou sabia?). Conhece Manuel de Nóbrega e, com ele, o Baú da felicidade - que ia mal das pernas financeiramente -, revoluciona-o e daí para a televisão, como funcionário da Rede Globo, e posteriormente dono de uma concessão (a TVS, que anos depois virou SBT) foi um pulo.

Só que há um elemento mais importante do que tudo isso dito no parágrafo anterior: o carisma e a popularidade de Sílvio. Ele imprimou uma marca, falou a língua do povo, escrachou (no bom sentido) quando necessário e transformou o domingo das pessoas num grande parque de diversões. 

Impossível não lembrar de Roletrando, Porta da esperança, Show de calouros (com um júri que ia do sempre destrambelhado Sergio Mallandro à rabugenta Aracy de Almeida), O show do milhão, o pião da casa própria, e principalmente, das loucuras que ele autorizava em sua programação. A mais famosa delas - pelo menos, para mim - foi o dia em que a Globo estendeu o Fantástico por mais tempo do que o necessário e o canal paulista exibiria Rambo, com Sylvester Stallone, na famigerada Sessão das dez. Ele mandou parar a programação, colocaram um cartaz do personagem com os dizeres: "assim que o fantástico encerrar, exibiremos Rambo".

Eu nunca mais vou me esquecer desse dia! 

Ele até mesmo chegou a se candidatar à presidência da república (candidatura embargada por desavenças políticas) para deleite de suas "colegas de auditório".

Em 2001 virou enredo da escola de samba Tradição e eu pude, enfim, ter a dimensão exata do carisma e do apelo popular do apresentador. Naquele momento eu entendi que nunca mais teremos outro como ele. Sílvio Santos era uma catarse ambulante, capaz das façanhas mais loucas em nome tanto da audiência como da manutenção da história televisiva do nosso país. É com folga nosso maior comunicador e, por isso, sua partida será por demais sentida. Mais do que isso: encerra um ciclo nesse veículo de pouco mais de sete décadas. 

E eu me pergunto aqui, ao fim deste singelo post: o que esperar das emissoras de tv daqui pra frente? Teremos nós testemunhado o fim derradeiro deste formato?  

Fica com Deus, mestre! 


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