domingo, 5 de maio de 2024

Madonna, Copacabana, 2024: uma catarse


"É o show do século", gritou uma fã, alucinada, na areia da praia, acompanhada por duas amigas, enquanto se dirigia ao palco. E desde que a rainha do pop anunciou sua vinda para o Rio de Janeiro, todos os admiradores no fundo já sabiam que tinha tudo para ser polêmico, histórico, antológico, inovador, avant garde, visionário... E foi. E como foi! 

Madonna encerrou ontem sua Celebration Tour na praia de Copacabana acompanhada por um coro de quase dois milhões de pessoas. E cá entre nós: é praticamente impossível explicar em palavras a dimensão do que foi essa noite. Logo, mal e porcamente dou aqui uns breves pitacos. 

Quem queria ouvir seus hits eternos ("Express yourself", "Vogue", "Live to tell", "La isla bonita", "Music", "Erotica", "Hung up", etc) saiu satisfeito. Teve até quem queria mais, muito mais. Afinal, ela é uma máquina de hits. Quem quis ver Anitta e Pablo Vittar, também aplaudiu, gritou, torceu, comemorou. E quem - como eu - quis ver um espetáculo à parte, ficou de boca aberta o show todo. 

Mais do que uma apresentação apoteótica, a Celebration Tour de Madonna é uma grande provocação aos falsos moralistas, bobalhões, fiscais do rabo alheio, fanáticos religiosos e outros segmentos sórdidos da nossa sociedade que andaram ganhando voz nos últimos anos. E nesse sentido, que bom que a material girl decidiu dar as caras justo agora, nesse Brasil (após um hiato de 12 anos sem se apresentar por aqui).  

Pugilistas e seus corpos impecáveis, uma espécie de puxada de orelha no conflito na Faixa de Gaza, sarcasmo, uma quase orgia no palco, uma leve incitação ao Kama Sutra, referência ao cineasta Alejandro Jodorowski, bailarinos crucificados, simulação sexual, os monólogos desaforados da cantora, desabafando sobre seu começo de carreira e os percalços até chegar onde chegou, desfiles despudorados, a talentosa filha ao piano, artistas brasileiros e vítimas da AIDS homenageados... E, claro, uma Madonna no auge e ainda mais frenética e à frente do seu tempo em seus extraordinários 65 anos. 

Ufa! Foi uma catarse. E no melhor sentido do termo, com tudo aquilo que os fãs aguardavam - e olha que teve gente dormindo na praia por quatro dias pra não perder o lugar - e mais um pouco. "Ela não quer voltar mês que vem, não?", eu fiquei me perguntando ao fim das duas horas de apresentação. Ah, Madonna! Só você mesmo pra me deixar desse jeito, sem fôlego!

Tivemos Rod Stewart e Rolling Stones nesse mesmo lugar tempos atrás, mas dessa vez foi covardia. Era tudo que precisávamos ouvir, sentir, comprar como reflexão para nossas vidas, em meio a tanta caretice, tanta babaquice, tanto conservadorismo de butique, tanta religiosidade de fachada. Obrigado, diva! Vou ficar devendo essa pro resto da vida. E volte quando quiser.

P.S: e vocês, chatos do cacete, que ficaram reclamando que ela fez playback, tocou sem banda... Vão procurar o que fazer! Definitivamente vocês não entenderam absolutamente nada. Na verdade, faz 40 anos que vocês não entendem essa mulher. Logo, se meter na história pra quê, hein?      


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