terça-feira, 30 de abril de 2024

A rádio não-oficial do Brasil


Primeiramente: você que está lendo este post, em algum momento da sua vida já ouviu a Fluminense FM? Mais do que isso: você sabe o que foi, como nasceu, qual a importância da Fluminense FM para a história da rádio nacional? Caso a resposta seja não, este - texto? resenha? breve comentário? singela opinião? enfim... - não é para você. Sério. 

Aumenta que é rock n' roll, longa-metragem de Tomás Portella, é um misto de delírio, nostalgia, provocação e muito amor à música (no caso, o rock, que as outras estações da época teimavam em boicotar). E o principal: me fez pensar no quanto o rádio perdeu relevância na minha vida nos últimos anos ao se associar a templos pentecostais e profissionais medíocres. 

A Fluminense FM - ou simplesmente a maldita, para os fãs mais nostálgicos - nasce em Niterói pelas mãos (e, claro, muita coragem) do jornalista Luiz Antônio Mello, que revoluciona muito do que vinha sendo feito no setor até então, a começar pela programação. 

Uma rádio que tocasse rock n' roll 24 horas por dia, sem repetir música, com locutoras do sexo feminino (um feito pioneiro), sem anunciantes e ainda por cima lutando contra seus detratores e até mesmo a falta de investimento dos gestores. Sim, era complicado e muito. E ainda assim se tornou histórica para uma geração de desajustados que precisava de um espaço para chamar de seu após anos de ditadura e repressão.    

Casos inusitados envolvendo a rádio, como os tumultos e confusões envolvendo as festas que bancavam os custos de produção da equipe; uma promoção envolvendo formigas e a banda de rock Adam and the ants na praia de Ipanema e que gerou muita confusão; um fã alucinado que chegou a montar uma rádio pirata e copiava o estilo da Fluminense; a escolha dos profissionais da dial por Roberto Medina para montar a programação do primeiro Rock in Rio em 1985... A Maldita passou por poucas, boas e muito loucas.

Detalhe imprescindível: sem ela, provavelmente o rock BR não teria acontecido da forma como aconteceu. E por um motivo bem simples: porque sempre vi a Fluminense como a rádio não-oficial do país, com cara de underground, subversiva, impondo seu estilo e gostos custe o que custasse. No próprio longa, Medina diz à Luiz: "no dia em que vocês forem oficiais, vocês acabam". Frase mais verdadeira sobre ela não há.

Até hoje sinto falta daquela estação onde eu ouvia The Doors, Stones, Legião Urbana, Blitz, Kiss, AC/DC e companhia ilimitada na hora e do jeito que eu quisesse. E por mais que me chamem de fanático, repito aos quatro ventos pra quem quiser ouvir: nunca mais haverá uma rádio que supere o que eles fizeram. Eram outros tempos, outro país, outra sociedade... E pior: encaretamos, de um jeito repulsivo. 

E se conseguirem encontrar um exemplar do livro A onda maldita: como nasceu a Fluminense FM, do próprio Luiz Antônio Mello (a saga para encontrá-lo na internet é árdua e o trabalho dele bem que poderia ser reeditado novamente... Os leitores certamente agradeceriam!), leiam como complemento ao filme. Aposto que até quem não viveu a época vai virar fã, de graça. 

P.S (ou uma nota triste): dentro do cinema onde assisto a sessão olho ao redor e vejo apenas 8 espectadores na sala. Uma pena. Não: um acinte! Além de nos tornarmos caretas, esquecemos do melhor da nossa história. O país precisa acordar! 


Sem comentários:

Enviar um comentário