quarta-feira, 3 de abril de 2024

Marlon Brando, um século.


Se vivo ele hoje completaria 100 anos de vida. Mais do que isso: acredito piamente que continuaria revolucionário em suas intenções, debochado, provocador, criador de caso e sabe lá Deus o quê mais... Quem? O ator Marlon Brando, claro!

Pouquíssimas vezes vi nas telas alguém tão ciente do caminho que queria trilhar quanto ele. Escolheu não dar trela à própria beleza (e, mesmo assim, foi considerado por muitos um símbolo de virilidade, o adônis do cinema americano). Meu pai dizia que vê-lo em cena era desconstruir tudo que se sabia sobre a sétima arte. "Às vezes ele levava o filme nas costas; às vezes não dava a mínima para o set", dizia ele. 

Foi através do meu pai, por sinal, que conheci dois de seus trabalhos mais extraordinários: Sindicato dos ladrões, de Elia Kazan e Queimada!, de Gillo Pontecorvo (que, depois soube, era o favorito de Marlon na carreira). Mas era apenas o começo da minha relação cinéfila com o ator. 

Com O poderoso chefão, de Coppola, ele virou a lenda. Depois de O último tango em Paris, de Bertolucci, ele foi execrado pelas feministas por conta da famosa cena da manteiga. Em Viva Zapata! eu entendi que o faroeste poderia ir além do que eu imaginava até então. A partir de Uma rua chamada pecado (adaptação de Tennessee Williams), ele ganhou a admiração dos grandes diretores da era de ouro, fez a passagem gloriosa da Broadway à Hollywood. E ainda teve O pecado de todos nós, A caçada humana, O selvagem, o extraordinário Apocalipse now - eu nunca mais esqueci do Coronel Kurtz -, o Jor-El de Superman: o filme e muito, muito mais. 

Sua vida foi tão fantástica (e cheia de reveses, catarses, polêmicas) quanto a carreira: a questão da sua bissexualidade; a ilha que comprou já no final da carreira e onde se exilou, desencantado com os rumos do cinema; a "falsa índia" que mandou representá-lo no Oscar em que ganhou pelo seu indefectível Dom Corleone; o suicídio da filha; o julgamento do filho, acusado de assassinato, etc etc etc...

Embora ele tenha escrito sua autobiografia (que é muito boa), recomendo aos leitores deste post um outro exemplar: conheçam Marlon Brando: a face sombria da beleza, de François Forrestier. Um trabalho que mostra em nuances o lado B dessa figura ímpar e avant garde.  

Esse é um texto-homenagem que já nasce em déficit, pois eu levaria toda uma vida e ainda assim não conseguiria explicar com exatidão para as novas gerações quem foi Brando. Deixo apenas uma dica: talvez vocês encontrem mais fácil, na internet, seus últimos trabalhos (Don Juan de Marco, Um novato na máfia, A ilha do Dr. Moreau, etc). Esqueça-os por ora, procurem os clássicos. Vocês, com certeza, vão querer apreciá-lo no apogeu do seu talento. Podem confiar. 

Faltou mencionar algo? E como! E por isso mesmo vocês, leitores, devem procurar material sobre essa lenda, ver seus filmes, entrevistas... O céu é o limite. Devorem Marlon Brando. Até para entenderem que, cá entre nós, nunca mais haverá outro como ele. Não mesmo. 

E onde quer que esteja, Marlon, meu muito obrigado. A minha cinefilia certamente não seria a mesma sem conhecer a sua jornada. 


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