Em tempos de John Wick no cinema, com quarentões (ou seriam cinquentões?) vingadores que descem o cacete no moral torta dos ditos privilegiados, acho extremamente bem-vinda a leitura da HQ Graffic Noire Jersey, de Immigrant. Primeiro: por se tratar de um trabalho de viés independente. Segundo: por fugir da mesmice super-heróica (que, a meu ver, já cansou!). E finalmente: por propor o desdobramento de uma temática que eu adoro.
No caso, refiro-me à homenagem aos filmes de ação feitos em Hong Kong na década de 1990. Lembrei-me imediatamente das sessões que assistia pela tv na Bandeirantes dos longas produzidos pela Golden Harvest.
Aguardamos quase que com agonia a batalha de espadas samurais (as famosas katanas) entre Frank e Julian, guerreiros que disputam lâmina a lâmina a posse de uma mala. Detalhe: assim como no filme Ronin, de John Frankenheimer, não conhecemos, em nenhum momento, o conteúdo dela. E quer saber? Isso é o que menos importa na hora H.
A motivação de ambos nesse duelo derradeiro em muito lembra, por sinal, a noiva vivida por Uma Thurman em Kill Bill, de Quentin Tarantino. O clima da hq, aliás, é altamente tarantinesco, com bastante sangue espirrado nas paredes e uma batalha de cunho quase épico.
Se existe uma narrativa que não poderia ser colorida é esta aqui. Tanto o preto-e-branco, quando a estética que remete em alguns momentos à garranchos e pichações de rua, vem bem a calhar para o modus operandi da história. E nesse mashup estiloso cabem as mais variadas referências: dos filmes de samurais japoneses ao faroeste desconstruído em outras vertentes, com direito à personagem cantando Johnny Cash, o homem de preto, e tudo!
E como premissa básica, os próprios personagens da história deixam claro: "somos todos assassinos nesse jogo". O importante é cumprir o contrato estabelecido, concorde você com ele ou não. E ao fim, o criador do álbum ainda me deixa cheio de dúvidas e questões mal resolvidas, do jeito que eu gosto (para poder ruminar um pouco mais depois).
E tudo isso por irrisórios 5 reais numa barraca de livros usados, em meio a um saldão cheio de raridades e outras surpresas não menos curiosas... E depois ainda me perguntam - depois de tanto tempo escrevendo por aqui - porque eu amo a cultura pop e suas infinitas possibilidades.
Procurem. Aposto que não irão se arrepender!
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