sábado, 6 de abril de 2024

R.I.P Ziraldo


Quando, moleque, eu falava com os meus pais da minha eterna frustração por não saber desenhar, é porque no fundo eu queria saber desenhar como ele. E mesmo fazendo parte da geração que leu a Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, ele nunca deixou de ser o meu maior ídolo. O primeiro quadrinho nacional que eu li, na vida, foi dele.

Ele foi o responsável pela Turma do Pererê (altamente inspirado no Sítio do pica-pau amarelo, de Monteiro Lobato); criou o eterno menino maluquinho, com a panela na cabeça e cheio de ideias e travessuras; nos apresentou aos Flicts e também aos Zeróis (uma resposta pra lá de bem humorada aos personagens da Marvel, DC, etc).

Não fosse pelos seus lápis eu jamais conheceria figuras inesquecíveis como a Supermãe, o bichinho da maçã, o joelho juvenal (do moleque levado, por isso vivia ralado), Jeremias o bom, a menina Nina, Vito Grandam, o menino da lua, o Aspite, e tantos outros.  

E ainda arranjou tempo para participar da grande revolução da imprensa promovida pelo Pasquim, além de trabalhos para o meio publicitário, jornalístico, teatral. Era um faz-tudo.

Ele fez charges políticas, literatura infantil, crítica de costumes da época, metalinguagem, humor ácido, irreverência até dizer chega... Isso quando não estava fugindo da perseguição de um regime de exceção e falando pelos cotovelos. Era bom de papo esse moço. E agora não teremos mais sua boa prosa, seu traço forte e multicolorido. 

O Brasil perdeu hoje, aos 91 anos, Ziraldo. Um mestre da pena, e principalmente, um homem que nunca deixou de pensar o país (essa, com certeza, sua melhor característica). 

Eu poderia até chover no molhado e me repetir sobre seus muitos talentos aqui (na verdade, há texto sobre ele aqui no blog. Procurem!). Mas quer saber? Está rolando uma exposição sobre ele no CCBB, o Mundo Zira. Vão lá conhecer o trabalho extraordinário desse senhor que, cá entre nós, é uma figura ímpar na nossa cultura. Aposto - não, tenho certeza - de que vocês não vão se arrepender. 

E fica com Deus, mestre. Você fez por onde!


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