Eu nunca me lembro do nome do escritor que disse em um dos seus livros sobre música e mercado fonográfico que nunca se sabe de fato o porquê de escolhermos certas experiências musicais. "Não é só sobre as canções ou a banda/ artista solo em si", diz ele, "mas como se encontra o nosso estado de espírito naquele exato momento".
Eu não entendi totalmente o que ele disse na ocasião que li, mas agora concordo plenamente. E hoje, em meio a um dia chato, nublado, sem muitas perspectivas, ouvir Billie Eilish no celular foi exatamente do que eu precisava para seguir em frente.
É preciso, contudo, avisar previamente: nunca tinha ouvido Eilish antes. O que conhecia dela era apenas o que os fãs mais chatos e grudentos dizem a todo momento aqui e ali. E ela costuma ser criticada por não cantar ao vivo em seus shows. Enfim...
Dito isto, que agradável e grata surpresa foi Hit me hard and soft, seu terceiro álbum de carreira. E o mais impressionante: o meu comprometimento quase catártico com a sonoridade do álbum, deixando até mesmo a voz da cantora em segundo plano.
Billie entrega toda a sua vontade de desabafar, de assumir seu lugar no mundo e falar do que não deu certo, mas poderia (se ela e a amada tivessem realmente tentado com todas as forças). Entretanto, fica aqui um toque: quem se debruçar na pretensão de ver o trabalho como uma grande D.R vai perder o melhor da experiência. Sim, Eilish expõe suas cicatrizes e seu coração partido, mas o disco é bem mais do que apenas isso. O que importa de fato é a jornada, o aprendizado, e não o que se perdeu durante o processo.
E os jovens - a maior parte da base de fãs da cantora - muitas vezes custam a entender esse lado hardcore da vida.
O projeto tem um clima - ou será melhor chamar de subtrama? - de "love story que tinha tudo pra dar certo como nas comédias românticas hollywoodianas, mas por tolice do próprio casal, ficou pelo meio do caminho".
E do ponto de vista sonoro é uma avalanche de emoções e sentidos os mais diversos. Dos instrumentos de corda às intervenções eletrônicas, passando por faixas que parecem conter músicas dentro de músicas (há um momento em que vemos a cantora mudar de direção 180 graus, inserindo um clima meio disco music numa canção que dava claramente a entender que seria melancolia pura). Houve uma hora em que eu cheguei a entrar em transe, fechando os olhos e seguindo o clima proposto sem questionar.
E Billie deixa claro aos seus fãs que: 1. O amor é uma guerra (por mais que finjamos o contrário); 2. Só se sente ela mesma no papo (o mundo aqui fora é assustador e ela não se encaixa completamente nele); 3. a internet é "o tipo mais cruel de diversão" (e nisso eu a apoio 100%, em tempo integral), entre outros monólogos e alfinetadas.
Ao fim da audição, pensei: que raro ver uma artista tão jovem se engajando num projeto desses, tão pessoal, em meio a tanto artista pop medíocre que só quer saber de rebolar a bunda, agredir verbalmente os outros e falar besteira para repercutir na mídia. Confesso que daqui pra frente vou ficar de olho em Billie Eilish. Ela me deixou, no mínimo, intrigado.
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