terça-feira, 21 de maio de 2024

Uma love story que poderia ser tudo (e acabou desse jeito!)


Eu nunca me lembro do nome do escritor que disse em um dos seus livros sobre música e mercado fonográfico que nunca se sabe de fato o porquê de escolhermos certas experiências musicais. "Não é só sobre as canções ou a banda/ artista solo em si", diz ele, "mas como se encontra o nosso estado de espírito naquele exato momento".

Eu não entendi totalmente o que ele disse na ocasião que li, mas agora concordo plenamente. E hoje, em meio a um dia chato, nublado, sem muitas perspectivas, ouvir Billie Eilish no celular foi exatamente do que eu precisava para seguir em frente. 

É preciso, contudo, avisar previamente: nunca tinha ouvido Eilish antes. O que conhecia dela era apenas o que os fãs mais chatos e grudentos dizem a todo momento aqui e ali. E ela costuma ser criticada por não cantar ao vivo em seus shows. Enfim... 

Dito isto, que agradável e grata surpresa foi Hit me hard and soft, seu terceiro álbum de carreira. E o mais impressionante: o meu comprometimento quase catártico com a sonoridade do álbum, deixando até mesmo a voz da cantora em segundo plano. 

Billie entrega toda a sua vontade de desabafar, de assumir seu lugar no mundo e falar do que não deu certo, mas poderia (se ela e a amada tivessem realmente tentado com todas as forças). Entretanto, fica aqui um toque: quem se debruçar na pretensão de ver o trabalho como uma grande D.R vai perder o melhor da experiência. Sim, Eilish expõe suas cicatrizes e seu coração partido, mas o disco é bem mais do que apenas isso. O que importa de fato é a jornada, o aprendizado, e não o que se perdeu durante o processo. 

E os jovens - a maior parte da base de fãs da cantora - muitas vezes custam a entender esse lado hardcore da vida. 

O projeto tem um clima - ou será melhor chamar de subtrama? - de "love story que tinha tudo pra dar certo como nas comédias românticas hollywoodianas, mas por tolice do próprio casal, ficou pelo meio do caminho". 

E do ponto de vista sonoro é uma avalanche de emoções e sentidos os mais diversos. Dos instrumentos de corda às intervenções eletrônicas, passando por faixas que parecem conter músicas dentro de músicas (há um momento em que vemos a cantora mudar de direção 180 graus, inserindo um clima meio disco music numa canção que dava claramente a entender que seria melancolia pura). Houve uma hora em que eu cheguei a entrar em transe, fechando os olhos e seguindo o clima proposto sem questionar.

E Billie deixa claro aos seus fãs que: 1. O amor é uma guerra (por mais que finjamos o contrário); 2. Só se sente ela mesma no papo (o mundo aqui fora é assustador e ela não se encaixa completamente nele); 3. a internet é "o tipo mais cruel de diversão" (e nisso eu a apoio 100%, em tempo integral), entre outros monólogos e alfinetadas. 

Ao fim da audição, pensei: que raro ver uma artista tão jovem se engajando num projeto desses, tão pessoal, em meio a tanto artista pop medíocre que só quer saber de rebolar a bunda, agredir verbalmente os outros e falar besteira para repercutir na mídia. Confesso que daqui pra frente vou ficar de olho em Billie Eilish. Ela me deixou, no mínimo, intrigado. 


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