domingo, 12 de maio de 2024

O papa dos filmes B


Como assim o diretor Roger Corman, mestre dos filmes B, faleceu no último dia 9 e somente agora eu fiquei sabendo disso? Que acinte! Enfim... Vou comentar aqui mesmo assim. O cinema hollywoodiano deve - e muito! - à sua figura e seu engajamento dentro da indústria audiovisual. 

Corman acreditou num modelo de cinema independente que está em voga até hoje no mercado exibidor. E muitos acreditavam que não duraria sequer dois anos! Produziu quase 500 projetos, dentre eles muitos clássicos para as mais diversas gerações (Os filhos do medo Fitzcarraldo, Piranha, Corrida da morte ano 2000, Sexy e marginal, Dementia 13, e tantos outros hoje chamados de cults). 

Como não respeitar o diretor de produções à frente do seu próprio tempo como Ameaça espacial, A ilha do pavor, O emissário de outro mundo, Rock all night, Carnival rock, Dominados pelo ódio, O solar maldito, A última mulher sobre a terra, A loja dos horrores, O poço e o pêdulo, O corvo, O homem dos olhos de raio-x, O massacre de Chicago, Viagem ao mundo da alucinação, Mercenários das galáxias, etc? Ninguém fez o cinema trash como ele. Ninguém adaptou Edgar Allan Poe para o cinema como ele. Ninguém assustou o público como ele. 

Podem procurar em qualquer lugar e não encontrarão um sucessor de Roger Corman onde quer que seja. Ele marcou época e dificilmente verão outro dando sopa por aí. Desse jeito, não!

Contudo, seu maior legado para a história do cinema norte-americano foi ter aberto as portas para uma nova geração de talentos. Sem Corman, não teríamos Jack Nicholson, Robert de Niro, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Joe Dante, Dennis Hopper, Peter Bogdanovich, Ron Howard, Jonathan Demme e também talentos femininos do cinema de horror como Stephanie Rothman, Katt Shea, Amy Jones, Barbara Peeters, Deborah Brock e Sally Mattison (e muita gente que você vai ler hoje nos obituários sobre ele não vai comentar essa parte!). 

Em outras palavras: sem Corman não haveria, provavelmente, a hollywood mítica como a conhecemos.

Curiosamente comecei a conhecer a sua obra pelo último filme que ele dirigiu, ainda na época dos famigerados VHS, o extraordinário Frankenstein: o monstro das trevas, com Raul Julia e John Hurt. Fiquei tão impactado com o que vi que fui perguntar ao meu pai quem era aquele diretor visionário. E ele me deu uma listinha repleta de raridades para conferir nas videolocadoras. Virei fã pro resto da vida e volta meia revejo alguma coisa dele no you tube. 

Ele foi um dos primeiros cineastas a me fazer conversar sobre cinema com o meu pai, que quando não estava vendo - e revendo - os faroestes com John Wayne, Clint Eastwood, William Holden, James Stewart e Gary Cooper, estava assistindo ou os longas dele ou os de Ed Wood (hoje em dia mais rotulado como "o pior diretor da história do cinema", rótulo totalmente imerecido).

Com a morte de Roger Corman, aos inacreditáveis 98 anos, o cinema (não só made in USA) perde um de seus maiores realizadores. Ele era - e ainda é - um verbete sobre o fazer cinematográfico. E chamá-lo de "velha guarda" só porque a indústria hollywoodiana mudou e está mais preocupada com lucros, balancetes e franquias por vezes descartáveis (pois isso que é a galinha dos olhos de ouro agora) é, no mínimo, uma sacanagem. 

E eu espero sinceramente que a sétima arte feita em hollywood volte, um dia, a ter 1% dos culhões desse senhor. Só 1%. Porque acreditem: está fazendo muita falta. Mesmo. Perguntem a qualquer cinéfilo de verdade.  


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