sábado, 11 de maio de 2024

120 anos do surrealista que virou a arte do avesso


Falamos, nas últimas décadas, do quanto a vida, o mundo, a arte, a própria sociedade, ganharam contornos espetaculares, de grandiosidade, mas pouco nos referimos a um artista que, no meu entender, praticamente cunhou o termo extraordinário. Mais: fez de sua vida um exemplo ímpar de genialidade. Seu nome: Salvador Dalí. Sim, aquele catalão, esquisito, com os bigodes virados pra cima, pai do surrealismo como o conhecemos... Que promoveu uma grande revolução cultural e de costumes ao lado de seus parceiros, o poeta e dramaturgo Federico García Lorca e o cineasta Luís Buñuel.

Se vivo hoje, ele estaria completando 120 anos e, certamente, ainda aprontando - e muito! Se houve um artista visual que mereceu a alcunha de "experimental", "visionário", "à frente do próprio do tempo", foi ele (e com folga em relação aos demais).

Seu curta-metragem Um cão andaluz, produzido ao lado de Buñuel, é uma grande porta de entrada para começarmos a entender sua obra e, principalmente, o seu espírito inquieto, investigador. Dalí virou a arte do avesso e mostrou o que ela tinha de mais contestador. Ali já podíamos perceber um pouco do gênio que na década de 1920, quando ingressou na Escola de Belas Artes de São Fernando, em Madri, foi expulso após se recusar a realizar um exame por, segundo ele, não ter ninguém competente o suficiente para avaliá-lo. Era folgado? E como! Mas também a prova viva de seu talento irrepetível.

A mãe sempre acreditou em seu talento e capacidade (e, por isso, sempre o apoiou na carreira artística). Em suas telas, sempre com cores vivas e imagens oníricas e bizarras, pautadas principalmente pelas teorias psicanalíticas de Freud, utilizando o subconsciente como fonte, conseguíamos desnudar seu imaginário, por vezes confuso, por vezes devorador de quem o observava. Era grande amigo do pintor Pablo Picasso e viu no cubismo uma referência importante para anexar aos seus projetos.

Em sua obra cavalos gigantescos, formas humanas disformes, cisnes, nuvens formando figuras inexatas, relógios e instrumentos musicais derretendo, caveiras dentro de caveiras, o Tio Sam norte-americano com nariz de pinóquio, páginas de livros que voam, um ovo virando o pôr-do-sol, borboletas como velas de embarcações, elefantes com cabeças de tuba, um circo que flerta entre horrores e a esperança de um dia seguinte mais ameno, sem tantas guerras ou conflitos desnecessários. 

Dalí era tudo o que precisávamos nesse século XXI cada dia mais hostil, sem esperanças, refém de uma humanidade torpe, movida pela vaidade e a ganância. Pena que ele nos deixou antes.

Em 2014 fui ao Centro Cultural Banco do Brasil para assistir à espetacular exposição Salvador Dalí, com mais de 150 de suas obras. Uma fila astronômica de interessados como eu me fez aguardar pacientemente (quer dizer: nem tanto) por mais de três horas até que eu me deparasse com uma das experiências mais inebriantes que eu já senti em toda a minha vida. A sensação era a de estar dentro da mente dele, invadir seus sonhos, passear por seu cérebro e sua personalidade irrequieta. Poucas vezes vi algo que superasse essa mostra até hoje. 

Dito isto, fico sabendo enquanto escrevo este post desta outra expo aqui, em SP: https://salvadordalisp.com.br/. E achei o projeto também grandioso e muito bem feito. Para quem quiser saber mais sobre a lenda depois dessa simples homenagem, fica a dica!

Faltou dizer algo? Sim. Que é por causa de pessoas como ele que eu decidi ser um eterno devoto da arte, da cultura e de figuras fora da bolha, do sistema, do status quo. O mundo só não é uma perda de tempo completa por que indivíduos como Salvador Dalí passaram por aqui de tempos em tempos. Agora vão lá saber mais um pouco sobre esse moço em outros lugares, vão! Vocês vão ficar boquiabertos. 


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