Eu já fui um viciado em tirinhas de jornal. Do tipo que lê até os jornais do vizinho escondidos antes de ir pra escola só para não perder os meus personagens favoritos (e eram vários: Garfield; Urbano, o aposentado; Recruta zero; Fantasma; etc).
O tempo passou, as tirinhas ganharam a companhia luxuosa das graphic novels de Will Eisner e as edições da Heavy Metal e eu não parei mais de acompanhar o fascinante mundo da nona arte, com suas criações apaixonantes, mas por vezes também caóticas, fora do tom ou de qualquer tipo de maniqueísmo.
Quando li Calvin e Haroldo a primeira vez eu já era um garoto fascinado por crianças fora da bolha e, principalmente, Peanuts (aqui no Brasil mais conhecido como A turma do Charlie Brown ou pelo desenho - exibido no SBT - Snoopy) e achei curioso aquele menino loiro, cheio de sonhos e planos mirabolantes ao lado do tigre de pelúcia/ amigo imaginário nas horas vagas. Resultado: viciei.
E hoje, passadas décadas, escolho entre minhas leituras de fim de ano o volume III da série de Bill Watterson publicada pela Editora Conrad, de nome Tem alguma coisa babando embaixo da cama. E em poucas palavras: nostalgia simplesmente não resume o que eu senti ao terminar o álbum.
Mais: cheguei a me ver novamente com 12, 13, 14 anos, sentado na escadaria do prédio onde eu morava devorando as historinhas.
Calvin continua tornando a vida dos pais uma montanha-russa de sentimentos enquanto se propõe às maiores peripécias e aventuras. Seja um simples papel numa peça teatral na escola, abrir os presentes no dia de natal ou mesmo brincar na lama com Haroldo, tudo é motivo para que esse garoto extremamente imaginativo crie um mundo particular que supere a realidade em vários níveis.
Susie, a colega de classe que não esconde uma queda por ele; a professora (a original ou a substituta) que não aguenta as peraltices do menino endiabrado; os vizinhos da rua; ninguém é capaz de classificar Calvin em poucas palavras. Ele é um dínamo capaz de virar o próprio mundo - e que dizer do resto! - de ponta a cabeça só para provar suas teorias malucas.
E ainda há tempo para as personagens que inventa (e reinventa) de tempos em tempos, como Spaceman Spiff e sua versão Tiranossauro Rex, enlouquecendo a rotina de quem estiver ao seu redor.
Termino 2023 nostalgicamente e também perplexo em muitos sentidos. Não esperava - por conta dos últimos anos aqui no país: pandemia, crise internacional, nosso governo federal anterior, etc - terminar o ano dando margem a algo tão divertido e inspirador. Espero que essa maré positiva continue ano que vem. Será muito bem-vinda!
Aos que não conhecem o álbum (e a coleção de tiras da Conrad), recomendo de olhos fechados.
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