Eu volta e meia me pergunto (e nos últimos anos tenho feito isso com cada vez mais frequência) o que a imprensa e o cidadão comum considera - ou idolatra - como cultura. Passamos por tanta coisa extraordinária no setor em pouco mais de dois séculos e ainda me vejo perplexo com certos "reconhecimentos" por parte da chamada grande mídia.
Dito isto, leio hoje na Folha de São Paulo a notícia de que a cantora Taylor Swift foi escolhida como "A pessoa do ano" pela revista Time. Até aí tudo bem, pois passamos quase que o ano todo falando da Eras Tour com a qual Taylor rodou o mundo (ou, pelo menos, o que ela chama de mundo). O que me intrigou de fato foi a informação de que, em quase um século de existência da publicação, esta é a primeira vez que uma pessoa ligada à cultura vence o prêmio.
Na mesma hora meu cérebro começou a formigar. Sério mesmo, Time? Taylor Swift? A primeira? Honestamente... O mundo parece só gostar de arte, cultura e entretenimento quando remete exclusivamente à cifras, turnês caríssimas e o mainstream pop vazio e repetitivo.
O mais assustador na informação que encerra o segundo parágrafo: Michael Jackson não foi "A pessoa do ano" da Time? Nem nos tempos de Thriller? Putz! Nem John Lennon ou Mick Jagger ou Marvin Gaye, sequer Madonna? Sim, soa oportunista a escolha. Mais até: covarde.
Nunca entendi o sucesso de Taylor Swift. Se me pedirem para cantar algum hit dela, conheço apenas "Shake it off" (cujo clipe, por sinal, é uma grande bobagem com flertes à diversidade e um mundo mais igual). E chamam essa moça do qual conheço apenas um hit de fenômeno global! E eu penso: do que chamariam hoje em dia Led Zeppelin, a Motown ou mesmo Frank Sinatra?
Ou há algo de errado com a cultura contemporânea (e peço desculpas desde já por não citar expoentes da literatura, do cinema, das artes plásticas, etc, mas é que a música vive um momento que eu considero de crise de valores) ou, então, a imprensa internacional entregou-se de vez ao gratuito promovido pelo show business às custas de muita alienação e vendagens mais do que meramente expressivas. Em outras palavras: venderam a alma mesmo.
Alguns anos atrás chamaram essa moça de influência e até hoje, confesso, não consegui entender direito o porquê. Tem tanta gente fazendo mais do que ela, cantando melhor do que ela (Adele, Joss Stone, a própria Lady Gaga em pleno auge, alguém?), com propostas infinitamente melhores do que a dela e, no entanto... "Taylor Swift: a pessoa do ano". Talvez a que mais ganhou dinheiro esse ano, vá lá (embora Beyoncé tenha também faturado os tubos com a sua Renaissance Tour em 2023), agora... Pessoa do ano? Por quê, exatamente?
Enfim... É nessas horas que eu tenho a legítima certeza de que está cada vez mais difícil para alguém da minha geração - na casa dos 40, 50 anos - ser fã de alguém nesse século XXI. Cultuamos reles produtos (a grande maioria descartáveis) e os verdadeiros criadores de conteúdo ficaram em segundo plano. De vez.
Que tristeza!
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