Fui surpreendido hoje com a notícia (não tão bem-vinda assim) de que a obra do escritor alagoano Graciliano Ramos entrará em domínio público em janeiro de 2024, podendo ser editada por qualquer pessoa além de ganhar "desdobramentos criativos" - esta última parte o meu maior medo como leitor da magnífica literatura do velho Graça.
Algumas editoras, inclusive, já se mobilizam mostrando nas redes sociais edições caprichadas dos futuros lançamentos. Cheguei até mesmo a ler comentários de leitores dizendo que "quem tiver cabeça e relançar as obras com boa fortuna crítica, elaborada por grandes ensaístas e intelectuais, levará vantagem nessa disputa".
Portanto, aguardemos para breve relançamentos de livros seminais - e extraordinários - como Vidas secas, Memórias do cárcere, Angústia, São Bernardo e tantos outros.
Meu medo (como mencionei no parágrafo inicial) é aquele que os bons amantes da literatura brasileira já conhecem de cor e salteado: o fato de não sermos um país de leitores e, muitas vezes, nos contentarmos com versões resumidas, adulteradas, transformadas ou mesmo suavizadas (em tempos de censura à arte) de nossa produção cultural.
Conheço muita gente que diz conhecer nossa literatura e, no entanto, só "leu" versões quadrinizadas e viu adaptações deturpadas para o cinema. Nada contra as HQs e à sétima arte, sou até suspeito para falar de ambas, grande admirador que sou delas, mas... Nada supera a obra original.
Fico imaginando os tais "desdobramentos criativos" nas mãos de pessoas que vivem flertando com o tendencioso, desmentindo ou negando quase tudo. Pobre Graciliano! Que usem de sabedoria ao trabalharem com o seu legado!
Já disse isso antes, em algum momento deste blog (desçam a barra de rolagem os que tiverem curiosidade...): sou muito mais fã de Graciliano Ramos do que a Academia Brasileira de Letras é de Machado de Assis e, sim, eu sei que um comentário desses já rende polêmica para um ano inteiro. Mas o que posso fazer? É a mais pura verdade!
E por isso mesmo tenho receio de ver no que possam transformar a obra de um gênio dessa lavra. Oremos - tanto este que vos escreve como os fãs de Graciliano em todo o território nacional - para que não esculhambem ou diminuam a importância de seu trabalho. Seria o mínimo de sensatez. O problema: o Brasil nunca soube, de fato, ser sensato. Ainda mais quando o assunto é cultura, arte, entretenimento.
Que a esculhambação, a piada, o escracho e a falta de tato ou maturidade não vençam essa batalha. Tanto o autor como nossa literatura de forma geral não merecem uma desonra dessas...
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