Adoramos falar dos pintores - e artistas em geral - estrangeiros que expõem e vêm à nossa terra; exultamos; nos tornamos os maiores baba-ovos dessa cultura internacional (e não à toa somos classificados com o famoso "complexo de vira-latas"). Entretanto, quando um artista nosso é tema de um grande evento ou exposição no exterior, não damos a mínima. Isso quando não questionamos a validade de sua obra. Que tristeza!
A partir da próxima quarta (09), contra tudo e contra todos, o Museu de Luxemburgo, na França, exibirá uma gigantesca retrospectiva da carreira de Tarsila do Amaral. E como é extraordinário poder ler uma notícia dessas! Serão 150 obras, dentre elas 49 quadros, que ficarão expostos até 2 de fevereiro, para deleite dos franceses (e turistas) amantes da boa arte.
Infelizmente, Tarsila ainda não é - a meu ver, pelo menos - reconhecida como deveria. E olha que se trata de uma das principais responsáveis pelo fenômeno que foi a Semana de Arte Moderna de 1922 (detalhe: ele não se encontrava no país, pois estava na Europa, trabalhando e aprendendo - muito! - enquanto Oswald de Andrade assumiu o papel de grande embaixador dessa revolução).
Os primeiros quadros de Tarsila mostram uma influência do impressionismo, mas nem por isso ela deixou de experimentar tendências como o cubismo - que tem Picasso como seu maior representante - e o fauvismo. Mas é preciso deixar claro aos iniciados que ela sempre avisou aos críticos de sua arte que mesmo sua passagem por Paris na década de 1920 foi uma forma de refletir sobre seu país de origem.
Ou seja: ilude-se quem acredita na falácia de que Tarsila sempre foi uma estrangeirizada. Pelo contrário. Um tema muito caro em sua obra sempre foi o indigenismo e ela sempre fez questão de retratar as mais diferentes etnias em seu trabalho.
Outro ponto muito degradante de quem diminui sua obra é a mania de rotulá-la apenas como "aquela moça que pintou o Abaporu e Os operários". Típico comentário de quem não entende absolutamente nada de história da arte. Tarsila era eclética, provocadora, à frente do seu tempo e antenada com os manifestos e vanguardas que vinham ganhando força no período. Logo, resumi-la a um ou dois trabalhos impactantes é, com certeza, desmerecê-la (o que não é nada justo).
Que a exposição francesa não só traga uma nova luz e um novo interesse sobre o seu trabalho, como também abra portas para se redescobrir outros grandes artistas clássicos brasileiros. Com certeza as artes visuais brazucas merecem - e muito - esse reconhecimento.
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