O ator hollywoodiano Paul Newman, caso ainda estivesse vivo, teria completado ontem 100 anos de idade. E acreditem: assim como Kirk Douglas, o eterno Spartacus, que ultrapassou um século de vida antes de nos deixar, ele também merecia. E muito.
Lembrar de Paul é automaticamente lembrar do meu pai (que também já faleceu), um fã de longa data do artista. Comecei a conhecer a obra cinematográfica dele por influência do meu pai, cujo primeiro filme do artista que me apresentou foi Exodus, de Otto Preminger, sobre as consequências trágicas da criação do estado de Israel, em 1948. Aliás, filmaço! Recomendo - e muito.
Contudo, é simplesmente impossível classificar um talento como Newman. Ele parecia estar em todos os projetos que os artistas da era de ouro de hollywood queriam estar (e não conseguiam). Talvez o único que fizesse frente a ele nesse período fosse Steve McQueen, outra lenda - das pistas de corrida e das telas.
Como esquecer de seu nostálgico Butch Cassidy ao lado do Sundance Kid interpretado por Robert Redford no filme homônimo do diretor George Roy Hill? E das centenas de vezes que fiquei acordado até de madrugada nos domingos para assistir Inferno na torre, de John Guillermin, na sessão das dez do SBT, que nunca começava as dez? E do jogador de sinuca Eddie Felson em Desafio à corrupção, de Robert Rossen, que reviveu anos depois - e lhe rendeu um Oscar - por A cor do dinheiro, de Martin Scorsese?
Paul é daqueles atores que você precisa imprimir a lista com toda a sua filmografia no IMDB e sair à caça pela internet. E um conselho de amigo: tenha paciência (e muita!), pois muita coisa você infelizmente não encontrará nos serviços de streaming ou não é exibida nos telecine cults e TCMs da vida, sorry!
Muito se fala de Marlon Brando, John Wayne, Spencer Tracy, James Dean, Humphrey Bogart e companhia, e eu sempre achei - ainda acho - que foram injustos com ele. Paul Newman merece figurar no olimpo dos grandes artistas americanos. Ele conquistou esse direito. E não somente pelo trabalho dentro das telas.
Seu empenho em ajudar instituições de caridade e causas humanitárias - como a questão da má nutrição nos países do terceiro mundo -, seu envolvimento com a fórmula Indy (na qual foi um dos donos da Newman/Hass racing), uma das equipes mais vitoriosas da modalidade, o casamento praticamente mítico com a atriz Joanne Woodward (a quem foi fiel, depois que ela faleceu, por toda a vida), as campanhas contra a Guerra do Vietnã e pelo desarmamento... Paul Newman, mais do que um ator de sucesso, era uma entidade.
Lembrar dele hoje foi também lembrar de como hollywood não é mais a mesma, de como ela encaretou, se vendeu, virou um reles negócio, só pensa em bilheterias e franquias. E isso é por demais triste. Nunca precisamos tanto de gente como ele no mercado de entretenimento. Fica a eterna saudade dos cinéfilos de verdade.
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