quinta-feira, 20 de junho de 2024

R.I.P Donald Sutherland


Vi inúmeros comentários na internet agora há pouco chamando o ator canadense Donald Sutherland - que faleceu hoje, aos 88 anos - de "coadjuvante de luxo". E deixo logo claro aqui: acho injusta a definição. Donald era um artista sublime, ciente de seu talento magistral e esteve presente em grande parte do que a cinematografia mundial já fez de melhor. Portanto, categorizá-lo como um reles elenco de apoio, acho meio aviltante.

Ele podia ser o pai preocupado, o mais sádico dos vilões, o fazendeiro inescrupuloso, o médico debochado, o presidente de cunho ditatorial, o ancião que viajou para o espaço, o militar inescrupuloso, enfim... Era uma enciclopédia de indivíduos e nuances. 

Acho que a primeira vez que o vi em cena foi no extraordinário Inverno de sangue em Veneza, de Nicolas Roeg, e foi o suficiente para eu entender que precisava saber mais sobre aquele ator. Logo a seguir, deparei-me entre as prateleiras das antigas videolocadoras com O buraco da agulha, de Richard Marquand (adaptado de um romance do escritor Ken Follett) e o hoje mais que cult M.A.S.H, de Robert Altman (para mim, um eterno injustiçado no Oscar).

Resultado: estava feito o estrago e, assim como aconteceu com Gene Hackman e Steve McQueen, comecei a entrar de sócio em várias locadoras à procura de longas que o tivessem no elenco. 

É possível dizer, sem exagero, que Sutherland praticamente fez de tudo: da comédia ao drama, da ficção científica à sátira ao terror. E sempre emprestando seu prestígio e elegância costumeiras. Difícil criar um kit básico sobre o que assistir com ele, mas vamos lá: se tiverem a oportunidade (está cada vez mais difícil em tempo de streamings e o sumiço recorrente de clássicos do cinema) ver 1900, de Bernardo Bertolucci; Gente como a gente, de Robert Redford; Klute - o passado condena, de Alan J. Pakula; Condenação brutal, de John Flynn; Os doze condenados, de Robert Aldrich; A águia pousou, de John Sturges e Invasores de corpos, de Philip Kaufman, não desperdicem a chance. 

Mas acreditem: tem muito mais a vasculhar. Só no IMDb são quase 200 créditos!

As gerações mais novas provavelmente o associam mais ao presidente Snow da Saga Jogos Vorazes (criada pela autora Suzanne Collins) e com razão. É das melhores coisas feitas no gênero distopia nos últimos anos e bem mais interessante do que 90% daquilo que hollywood vem produzindo para os jovens atualmente. Conheçam também. É praticamente a "despedida" dele das telas. 

E não bastasse tudo isso, ele ainda por cima era pai do Kiefer Sutherland (o Jack Bauer da série de tv 24 horas). É... Não precisa explicar mais nada. 

Donald, onde quer que você esteja, fique em paz. Você era um artista estupendo e deixou um legado cinematográfico incrível. Cabe a nós, cinéfilos de verdade, mantermos sua obra viva em tempos de blockbusters babacas e alienação em nome da bilheteria a qualquer preço.  


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