E pensar que grandes nomes da literatura mundial sequer chegaram aos 40 anos!
Leio nos jornais e sites da internet que o escritor Dalton Trevisan fez 99 anos e planeja a reedição de sua obra. Um dos autores mais fora da bolha da literatura brasileira bem perto do centenário. E ele merece! Criou um estilo todo próprio, feito de narrativas curtas, quase elipses, falando sobre os temas mais diversos.
Excêntrico? Olha... Se lhe perguntarem a respeito, é provável que ele até aceite o rótulo. Manteve-se longe de toda essa badalação do mercado editorial, cada vez mais cheio de "autores" que mais parecem celebridades fúteis e efêmeras, produzindo reles manuais de regras sem sentido, e bem fez ele. Esse afastamento da realidade virou meio que parte da sua personalidade.
A maioria de seus textos trata quase sempre do confronto como tema (seja contra à sociedade, à tradição, à cidade, aos governantes etc). É preciso que haja um duelo de forças para que a narrativa aconteça de forma pungente. Contudo, mesmo seguindo essa forte característica, nem sempre os leitores conseguem enxergar o seu intuito e, por isso, muitos o veem como uma figura distante da realidade, por vezes egóica.
Seu conto mais famoso Uma vela para Dario é, com folga, das melhores coisas já escritas no gênero e também grande porta de entrada para conhecer o restante de sua obra. Entre seus livros que mais curto, recomendo de olhos fechados Novelas nada exemplares (1959), o eterno clássico O vampiro de Curitiba (1965), Guerra conjugal (1975), Essas malditas mulheres (1982), Cemitério de elefantes (1993), Rita Ritinha Ritona (2005) e O beijo na nuca (2014), mas não custa nada fuçar na longa bibliografia dele por novidades, digamos, exóticas.
Sua relação com o cinema é um tanto quanto melindrosa. Raras vezes ele autorizou adaptações de sua obra e quando o fez foi apenas por se tratar de grandes diretores - como Joaquim Pedro de Andrade, que transpôs Guerra conjugal para as telas - ou de ideias que realmente fizessem jus à sua escrita. Para se ter uma ideia do empecilho causado pelo autor, Hector Babenco quis adaptar alguns de seus contos, mas ele não permitiu. Já o diretor Estevan Silveira pode se considerar um privilegiado, pois foi um dos únicos a conseguir trabalhar os contos de Dalton em formato curta sem impedimento do autor.
O motivo de tanta implicância: Dalton exige fidelidade absoluta àquilo que ele escreve (o que, na maioria das vezes, se mostra um trabalho praticamente impossível para quem dirige).
É muita bem vinda a notícia de que poderemos ver em breve nas livrarias um relançamento de sua obra (quem sabe em 2025, ano de seu centenário). A literatura nacional com certeza anda carente de um autor com a verve e a peculiaridade de Dalton, que é praticamente um estranho no ninho dentro do nosso mercado editorial cada vez mais pasteurizado.
Fiquemos no aguardo por novidades!
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