A primeira vez que assisti Mad Max, o longa original de George Miller de 1979, eu tinha apenas 9 anos. O ano era 1985 e o Brasil mal entrara no processo de redemocratização. E mesmo que eu não tivesse entendido completamente as nuances daquele universo apocalíptico, terminei a sessão pensando: "isso é muito foda! não, é revolucionário e eu vou precisar assistir de novo!".
Fiquei tão em êxtase que o reassisti, ao longo das décadas, pelo menos umas 20 vezes.
O tempo passou, Miller continuou sua parceria com Mel Gibson em duas sequências (a de 1981, Mad Max 2: a caçada continua, é absolutamente brilhante; e a de 1985, Mad Max: além da cúpula do trovão, se destacou mais pela presença da cantora Tina Turner do que pelo longa em si) e eu fui cooptado de vez por aquele cenário caótico.
Três décadas depois, agora com Tom Hardy na pele de Max, Miller nos apresenta - e assombra novamente - com Mad Max: estrada da fúria. Porém, ele introduz a Furiosa (Charlize Theron), uma personagem cheia de amargura e muita atitude, que toma o filme de assalto. Para mim, ela é a grande protagonista do longa. Tanto que muitos perguntaram: de onde veio essa moça? Qual a sua origem?
Eis então que Miller nos entrega seu Furiosa: uma saga Mad Max com o intuito de responder a essas perguntas. E ele pode até não ter conseguido elucidar todas elas, mas com certeza nos entregou um grande épico.
Furiosa nos traz essa nova sobrevivente do caos (agora interpretada por Anya-Taylor Joy), uma mulher a quem desde nova lhe foi roubada sua liberdade e foi usada até quase às últimas consequências por um mundo masculino bárbaro, atroz. Seu principal algoz é Dr. Dementus (Chris Hemsworth), que explora sua ingenuidade o máximo que pode até que ela vai parar nas mãos do irracional e maquiavélico Immortan Joe (Hugh-Keays-Byrne), praticamente o "dono do mundo" dentro daquela realidade inóspita.
Ela então entende que para sobreviver a dor e a penúria daquele lugar será preciso lutar com suas próprias regras. Galga posições dentro da hierarquia de poder, conhece - e forma aliança - com Praetorian Jack (Tom Burke), e finalmente terá a chance de ficar frente a frente com o homem que roubou sua vida e matou sua mãe. O resultado disso? um ensaio devastador sobre a ganância e a falta de limites da própria humanidade.
Infelizmente (e não sei explicar o porquê) o novo longa de Miller parece ter flopado nas bilheterias. Muita gente nos sites e portais sobre sétima arte comentando (de novo) sobre o futuro do cinema em meio às megaproduções caríssimas e uma janela de exclusividade cada vez mais curta para a tela grande. É uma pena... Furiosa é bem melhor do que grande parte do que vem sendo produzindo nos últimos tempos. Merecia um maior destaque.
Mas hollywood também é isso: nem sempre se acerta e o gosto atual do público, após produções como Barbie, Oppenheimer e a eterna encheção de saco envolvendo a dicotomia Marvel e DC, me parece às vezes um tanto aleatório. Sério. Não consigo entender o sucesso de certos longas contemporâneos. Definitivamente sou de outra geração. E pior: a velhice chegou.
Contudo, espero que Miller não pare por aqui. Ele continua sendo um mestre no gênero ação e continuo boquiaberto com sua arte. A questão é que, assim como Copolla, Scorsese, Lynch, Schrader e outras feras, ele se tornou um dinossauro e o público-alvo agora além de outro é chato, moralista e por vezes infantil em demasia. E será preciso enfrentar isso com unhas e dentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário