Ligo o computador e na primeira notícia mostrada no Google meu sorriso se abre espontaneamente.
Ver a notícia na internet de que a nova edição da FLIP, em Paraty, reflete o bom momento da poesia no mercado editorial muito me alegra. Dentre os 44 autores convidados dessa edição 19 são poetas. E há meio que um microcosmo de tudo o que anda rolando no mundo e no país atualmente: da poeta canadense Dionne Brand que defende que a linguagem neutra é uma grande bobagem, um desperdício de tempo (e concordo com ela em gênero, número e grau) à poesia slam (fenômeno literário que ganhou força nos últimos anos e meio que reinventou a forma como pensamos esse tipo de texto).
Devo confessar aqui: custei a embarcar na poesia. Meu negócio antigamente era prosa, literatura policial então... Achava, na adolescência, o gênero um tanto quanto pedante, nariz empinado. Lêdo engano meu! Precisava conhecer (graças a Deus ainda novo) autores como Fernando Pessoa, Allen Ginsberg, Carlos Drummond de Andrade, Saphire, João Cabral de Melo Neto, os sonetos de Shakespeare, e muito mais (lógico!).
Ainda vejo a poesia como o grande desabafo, a grande fúria proposta pelo homem; o lugar onde defendemos nossas ideias e pontos de vista com unhas e dentes, custe o que custar, ao preço que for. Num mundo onde uma parcela gigantesca da humanidade prega - de forma terrível - contra as diferenças e o direito a questionar o grupo (principalmente quando o grupo não passa de uma manada sem sentido), a poesia explorou caminhos, sim, no plural, e mostrou por a mais b que não precisamos atender à expectativas. Precisamos, isso sim, sermos nós mesmos.
Esqueçam a perseguição doentia e o compromisso desmedido com a norma culta (nem sempre ela atende às necessidades do autor); fujam dessa tentativa torpe de soarmos unicamente representativos ou simplesmente étnicos (às vezes isso só gera dissensões, divisões, rompimentos); não se limitem à estilos, padrões, formatos, caminhos. Leiam os grandes, vejam o que eles fizeram. E logo a seguir trilharam uma nova rota, recomeçaram do zero, de novo e de novo.
A arte (e a poesia é um dos seus braços, a meu ver, mais ousados; mais corajosos) é feita de enfrentar riscos, encarar encruzilhadas, ouvir desafetos e suas eternas difamações. E no auge da batalha - seja contra leitores, editores, críticos, imprensa, etc - somente os corajosos seguirão adiante. Mais: serão lembrados.
Vejo nessa ode à poesia na FLIP um sinal de bons tempos vindo à toa. Andava cansado de toda essa parafernália burocrática proposta pela literatura de auto-ajuda (que não passa de manuais de regras vazios, imprecisos, sonolentos). E aquela história de young adults como opção de leitura para jovens... Já deu, né!
Que a poesia dê as caras (de novo) com força e se estabeleça. Ela merece. E nós, leitores de bom gosto, também!
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