"Morreu, aos 53 anos, o comediante e sambista Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum", dizia Cid Moreira, âncora do Jornal Nacional na TV Globo, em 1994... Eu me lembro como se fosse hoje. E principalmente: da tristeza que senti na mesma hora.
Mussum foi das figuras mais engraçadas que eu já vi até hoje na televisão. Com lugar garantido junto à medalhões do nosso audiovisual como Chico Anysio, Jô Soares, João Dória, Oscarito, Grande Otelo e tantos outros. Tem gente que fica puto comigo até hoje quando eu digo com todos os esses que ele foi o melhor trapalhão. E foi, com folga.
Não era oriundo do circo, não fez escola dramática, muito menos seguiu carreira no teatro. E, no entanto, detinha o mais fino humor dentro de si. Dito isto, fica aqui uma certeza: Mussum: o filmis, de Sílvio Guindane, é não só uma justa homenagem a este célebre músico e palhaço, como também um doce deleite para os fãs da comédia e, claro, os saudosos da minha geração, que sabiam que a tv naquele tempo era muito melhor.
Aílton Graça encarna Mussum de forma ímpar; não consigo imaginar outro ator fazendo melhor. E mais: é engraçado por si mesmo, tanto quanto a personagem que encarna na tela.
Acompanhamos a trajetória desse malandro carioca, mangueirense, flamenguista, viciado em mé e mulheres, do menino que descobre o samba por acidente e vai para o colégio interno, segue carreira na aeronáutica mas se encanta pela noite e o show business, casa, descasa e, que por ser hilário por natureza, cai nas graças de Chico Anysio, logo sendo engolido pelo mundo midiático.
Os originais do samba, grupo do qual fez parte, um dos melhores do país naqueles tempos, e o programa Os trapalhões, hoje, se revistos com lucidez, foram grandes cerejas no bolo. O mérito mesmo é dele, Mussum, o humor cuspido e escarrado, que a princípio assustava a própria mãe, que não queria vê-lo zé ninguém na vida. Mal sabia ela a genialidade que o filho possuía!
Vemos a tiracolo a geração a qual o comediante fez parte (Cartola, Jorge Benjor, Alcione, Elza Soares, etc) e fica aqui um aparte: um excelente elenco negro que muitos espectadores aqui no país tem mania de esnobar por puro preconceito. Espero ver esse pessoal com mais frequência em nossas telas daqui pra frente.
Quem não conhece Mussum, seu trabalho, seu legado para a história da tv, vá correndo conhecer. Aposto que quando acabarem de assistir vão passar horas no you tube querendo mais (ah! um detalhe importante: adorei as reconstituições de alguns quadros do programa Os trapalhões. Nostalgia pura!). Já você que conhece ele de cor e salteado, que viu os programas, os filmes, comprou os discos, pelo amor de Deus, tá esperando o quê! Corre pro cinema, maluco! E aproveita pra dar uma força pra nossa sétima arte - que precisa e muito - de tempo de tela.
Ao fim da sessão, chorei, como no dia que soube de sua morte. Ele era foda. Mais que isso: era a cara do Brasil. E se tem alguém fazendo falta hoje no país é ele. Grande Mussum! Fica em paz, meu caro! Você fez por merecer...
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