Em meio às quedas de energia aqui na rua e o meu navegador da internet querendo me sacanear constantemente quase não consigo comentar a eleição do Aílton Krenak para a Academia Brasileira de Letras. Sim, um indígena agora é imortal da ABL... Que ousadia!
E mais do que isso: um passo importante e visionário de uma instituição a qual sempre tive um pé atrás, desde moleque.
Por mais que eu seja fã de literatura (e arte de uma maneira geral) sempre fui crítico - no mau sentido - da ABL. Eles sempre inventaram desculpas para não eleger figuras importantíssimas da nossa cultura. Seja pelo alcoolismo, a origem humilde, a opção sexual, a Academia nunca escondeu de ninguém seu lado "elite branca". Lima Barreto e João do Rio são dois grandes exemplos boicotados que não me saem da cabeça.
Logo, ver Krenak figurando nesse meio me traz um sopro de esperança, muito bem vindo em tempos tão sombrios quanto o atual.
Não conheço tanto de sua obra, mas o pouco que li me agradou - e muito. Krenak luta para que o índio não seja visto apenas como "sobrevivente" ou "salvador do planeta". Na verdade, o que ele deseja é que todos (brancos, negros, asiáticos, judeus, etc) sejamos parte do problema, paremos de empurrar a discussão para os outros. E nisso atingiu em cheio a minha atenção.
Recomendo para os desavisados e desconhecedores de seu trabalho, que procurem nas livrarias por Ideias para adiar o fim do mundo e O amanhã não está à venda, duas reflexões interessantíssimas acerca do que estamos fazendo (na verdade, deixando de fazer) com o país e o mundo. E isso precisa mudar, urgentemente!
P.S (necessário, mas indigesto): já estou aqui imaginando os haters e detratores dele acusando a ABL de, mais uma vez, estragar a instituição elegendo-o (algo que já havia acontecido quando da eleição do cantor e compositor Gilberto Gil). Pois é... Esse pedaço atrasado do país ainda está por aí e, segundo Krenak, impedindo o nosso futuro.
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