quinta-feira, 26 de outubro de 2023

O amor sem limites


Ah o amor! E principalmente: as pessoas que o tratam de forma doentia, obsessiva...

Há mais de uma década fico me prometendo (e nunca cumpro) que lerei Os sofrimentos do jovem Werther, de Johann Wolfgang von Goethe. Fiquei sabendo da existência deste clássico através de um antigo professor da faculdade de comunicação, que era apaixonado pela trama. Mas sempre adiei a leitura. Até agora. 

E digo logo de cara: Werther virou minha percepção do mundo de cabeça para baixo, independente de seu comportamento excessivo em relação à mulher amada. 

Ele ama Lotte, representante da chamada burguesia alemã, mais que tudo na vida. Provavelmente até mais do que ama a si próprio. No entanto, Lotte prefere Albert. E o resultado disso é nosso protagonista vivendo em estado de total penúria afetiva. Mais que isso: ele é praticamente um incorrigível do amor. 

Enquanto passeia pelos salões da alta sociedade germânica e testemunha a pobreza de caráter latente naqueles cidadãos, Werther se comunica com o amigo de longa data Wilheim através de cartas regadas a frustração e niilismo. Será ele o último resquício de sanidade naquele mundo torpe? Honestamente... Acho muito difícil. 

Ele cria em meio a lágrimas de desapontamento e muita decepção um grande e elaborado ensaio sobre a vida, a natureza e a loucura (paixões eternas de Goethe, autor desta obra-prima). Sua prosa é limpa de vícios e mesmo assim sofisticada. Em outras palavras: um primor literário!

Os sofrimentos do jovem Werther foi uma façanha narrativa tamanha em seu tempo (o século XVIII) e também com o passar dos séculos, que a psiquiatria acabou por cunhar o termo "efeito werther", ou seja, "uma sensação de culpa muito grande, muitas vezes uma vergonha ou receio de falar sobre o assunto com outras pessoas". 

Críticos literários afirmam que o romance epistolar tem um caráter meio autobiográfico, tendo em vista que seu autor também foi vítima de um amor não correspondido (mais que isso: ela também se chamaria Charlotte). A publicação de Werther chegou a lhe custar, por um período de tempo, o fim da amizade com a amada. 

Polêmicas à parte, trata-se ainda de uma das maiores histórias de amor (embora um amor sem limites, logo complexo e doentio em suas intenções) da literatura ocidental, junto com Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Amor de perdição, e tantas outras...

Ao fim das pouco mais de 150 páginas, me peguei pensando: como eu pude adiar essa experiência fenomenal por tanto tempo? Eu devo realmente ser maluco. 


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