Comemoramos hoje o centenário de um gênio (sim, ele era!) que, infelizmente, a meu ver, nunca teve o destaque que mereceu. Talvez porque preferisse falar sobre o simples, o cotidiano, ao invés de perder tempo - como muitos autores contemporâneos - querendo "causar" (palavra que sempre ponho entre aspas, pois nunca entendi a necessidade ou o mesmo o significado dela para a sociedade).
Seu nome: Fernando Sabino. Nos deixou em 11 de outubro de 2004, véspera do seu aniversário de 81 anos. Um mente cheia de ideias vencido por uma doença ingrata.
Jornalista, contista, editor, roteirista, adido Cultural, cronista de mão cheia, funcionário público, professor... O que mais ele foi? O céu era o limite para esse moço que sabia retratar e descrever a vida (principalmente a dele) como poucos.
Conheci sua obra pela primeira vez lendo os contos e crônicas que saíam publicados na coletânea Para gostar de ler, da Editora Ática, junto com outras feras do gênero. Foi aqui, aliás, que conheci "A última crônica", um de seus textos mais famosos. E desde o primeiro me impressionei de cara. Ele narrava com uma facilidade esplêndida e sobre os mais diversos temas, do complexo ao banal.
Fascinado por jazz americano, campeão de natação (chegando a ser dono até hoje de um recorde, pois sua categoria - os 400m de costas - foi extinta sem que nenhum outro nadador a superasse), e cineasta bissexto (muitos leitores e cinéfilos adoram os documentários que ele realizou sobre grandes grandes figuras da nossa literatura), Sabino era uma enciclopédia de conhecimento.
Logo, imagine o que ele fez em suas obras literárias mais ambiciosas!
Em 1936, teve seu primeiro conto policial publicado na revista "Argus". Em 1941 reuniu seus primeiros contos no livro Os Grilos não Cantam Mais. Daí em diante não parou mais. Entre suas obras mais conhecidas, indico aos leitores de primeira viagem O grande mentecapto (1979) - pelo qual ganhou o Prêmio Jabuti ; O Menino no Espelho (1982) - um dos melhores registros sobre a infância que eu li até hoje; A faca de dois gumes (1985); Martíni Seco (1987); O encontro marcado (1988); O homem nu (1998) e Amor de Capitu (1999).
Quando não estava produzindo, Fernando Sabino formava um grupo inseparável com os também escritores mineiros Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Rezende. E eu fico aqui comigo imaginando o que não foram as conversas desses quatro...
Triste pensar que não teremos mais um intelectual desse nível produzindo. Resta, enfim, o seu legado. E que a nossa sociedade viciada em status, que adora modinhas e autores vazios, porém best-sellers desse mercado editorial cada vez mais confuso, deixe de lado essa patacoada comercial e dê uma chance a ele. Aposto que se surpreenderão. Saudades eternas, Sabino! Você era foda!
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