A cantora Iza é un fenônemo engraçado na música popular brasileira dos últimos anos. Surgiu sem querer fazer concorrência com Anittas e Ludmillas da vida, criticou no início da carreira essa moral Valeska Popozuda de "agredir verbalmente as inimigas" e conquistou sua legião de fãs com "Bonde do pesadão". Virou jurada do The Voice, foi madrinha de bateria da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, se apresentou no Rock in Rio e virou símbolo sexual de muita gente.
E agora, depois de um divórcio chato, complicado, entrega seu melhor álbum da carreira. Parece pouco para certos despeitados, mas - acredite! - não é.
Afrodhit é empoderamento feminimo puro, da raiz do cabelo à ponta dos pés. E eu não consegui desgostar de uma canção sequer. A moça canta o que quer, do jeito que quer, com uma voz poderosa que é própria dela e que não tem concorrentes no atual cenário musical brazuca. Mais do que isso: expõe seu direito ao amor livre, de ser quem estiver afim de ser. Nas palavras da própria cantora, é "o álbum mais feminino da minha carreira". Não tenham a menor dúvida disso!
Com colaborações de uma galera da pesada (Djonga, Russo Passopusso - da banda BaianaSystem -, Mc Carol, L7, King e até a americana Tiwa Savage) constrói discursos poderosos e totalmente antenados com essa mulher brasileira dos últimos anos. E, nesse sentido, seu trabalho ecoa um pouco do espírito proposto pela saudosa Elza Soares em A mulher do fim do mundo.
Já no quesito sonoridade, prepare-se para se deslumbrar do início ao fim com uma batida que reflete o melhor do R&B e da american music recente. E que me perdoem os fãs da Anitta, mas esse tempo todo que ela passou no exterior ela ainda não apresentou algo que sequer chegue perto disso que eu ouvi aqui.
É possível ouvir o subúrbio, o som do gueto nas faixas, sem perder a capacidade de soar moderno, à frente do seu próprio tempo. Uma exuberância que, inclusive, anda em falta em muitos segmentos da atual MPB. Eu, pelo menos, ando de saco cheio dessa patacoada de sertanejo (com universidade ou sem) e releituras cansativas e enfadonhas.
Entre as minhas faixas preferidas, destaco "Boombasstic" (uma explosão sonora das mais brilhantes!), "Que se vá", "Sintoniza" (a química entre Ela e Djonga é surreal), "Terê" (que fez eu me lembrar imediatamente, pelo nome, de "Cadê Tereza", de Jorge Benjor; e pela narrativa proposta, do poema "Essa nega Fulô!", de Jorge de Lima), "Batucada" e "Nunca mais".
E no caso da última faixa citada, um aparte: andaram questionando a cantora por seu desabafo em alguns momentos do disco, teve quem a chamasse de ressentida por conta da separação com o marido. Na boa... Fim de relacionamento envolve ressentimento, dúvida e ela tem todo o direito de pôr para fora suas cicatrizes. Ainda mais por se tratar de um trabalho artístico. A arte, muitas vezes, vive disso.
Portanto, Iza, danem-se os críticos chatos e os recalcados. A carreira é sua, as músicas também. Você tem todo o direito de expor e se expor. Como grande artista que é.
Agora parem de encher a paciência da moça - e a minha - e vão ouvir o álbum (que é o que mais interessa nessa história aqui!).
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