quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Homenagem é pouco!


Vejo Caetano Veloso às lágrimas, pura emoção, num vídeo do youtube, enquanto ouve a regravação que Xande de Pilares fez de seu hit "Gente". A canção faz parte do álbum Xande canta Caetano no qual o ex-vocalista do grupo Revelação gravou apenas sucessos do cantor baiano, um dos fundadores do tropicalismo. 

Na mesma hora penso: "eu quero ouvir esse disco agora, e com calma!".

Permaneço no youtube e digito o nome do álbum. Logo aparece uma playlist com as dez canções. E desde já adianto: podiam ser cem, mil. Que trabalho magnífico! Muito se fala aqui no Brasil que só fazemos homenagens depois que o artista, o ícone, morre. No caso do disco de Xande falar de homenagem (e em vida, ainda por cima) é até pouco. 

Xande canta Caetano é das melhores coisas que o samba brasileiro (não! que a música brasileira) já produziu há, no mínimo, uma década - e com folga. E tudo se deve não somente ao cancioneiro do mestre baiano, como também ao talento de seu intérprete, antenado com a história mas sem perder a audácia e o conceito de moderno. 

Se a música citada no primeiro parágrafo fosse um reles single, já explicaria (e muito) o talento do rapaz suburbano que lutou com unhas e dentes para colocar seu nome na história da MPB com a qualidade que colocou. Mas não. Ele é apenas a ponta do iceberg de um trabalho sublime, muito bem conduzido e produzido ao lado de artistas gigantescos (como Pretinho da Serrinha e Hamilton de Hollanda).

Quando ouvi "Qualquer coisa", "Tigresa" e "Lua de São Jorge" quase passei mal. Ao fim de "O amor" - inspirado pelo poema de Vladimir Maiakovski - quem estava chorando era eu, Caetano! E olha que ainda tinha "Trilhos urbanos" que remete imediatamente a minha eterna paixão: o cinema. Precisa mais? Se eu disser que precisa, você pode me bater. 

E um detalhe que eu não posso deixar de mencionar aqui, caros leitores: se puderem, assistam os clipes de cada música avulsa também. São de um requinte, uma coragem, um desabafo em meio a tanta coisa errada que vivemos nesse país nos últimos anos, que vocês não fazem ideia. Eles são, sem mudar uma vírgula, a cara do Brasil. 

Ao fim da audição - que, como disse antes, podia ser maior, ah como eu queria! - fica a sensação de uma fusão irretocável. A sílaba, a poesia, o vernáculo e o deboche linguístico de caetano com a malandragem, a gentileza, o charme e a malícia de Xande. Disse há poucos dias, quando ouvi Afrodhit, da cantora Iza, que aquele era o disco do ano. Mas agora... Depois de ouvir esse aqui...

Olha, Iza! Vai se páreo duro, hein! Mas quem ganha com isso, e demais, é a nossa música. Pronto. Terminou de ler aqui? Agora vai lá ouvir, vai! 


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