Quando penso no cantor e compositor Marvin Gaye (e acreditem: eu penso nele com bastante frequência, principalmente em tempos como os de agora, tão carentes de boa música), na mesma hora eu digo: "ele era a alma da Motown". E era. Fruto de um lar disfuncional com uma velha rixa com o pai, chega a ser inacreditável que ele tenha conseguido construir uma carreira tão sólida como a que construiu.
Na primeira vez que ouvi o álbum What's going on eu fui ao delírio na segunda faixa. E só para constar: poucas coisas produzidas no mercado fonográfico merecem realmente a alcunha de obra-prima como este projeto. Certa vez ouvi um diretor da Rede Globo dizendo que a voz do cantor Milton Nascimento poderia ser a voz de Deus. Marvin seria a versão made in USA dessa frase.
Com Let's get it on, seu álbum seguinte, o que poderíamos esperar? Que a qualidade seria inferior, que ele dificilmente repetiria a mesma façanha... Ledo engano! Marvin entregou tudo - de novo - e agora sai uma notícia que vai deixar os fãs do artista ainda mais enlouquecidos: a de que o disco terá uma versão ampliada, com versões alternativas das faixas e instrumentais nunca antes ouvidas. Meu Deus! Milagres ainda existem.
A obra original é constituída de meras 8 faixas e não fiquem putos! Cada uma delas vale mais do que qualquer mega-álbum duplo de alguma banda de metal rock, cheio de B sides e outtakes.
Se é possível eleger faixas favoritas (além, é claro, a que dá título ao trabalho) eu recomendo de olhos fechados "Keep gettin' it on", "Come get to this" e "Distant lover". Mas o ideal mesmo é procurar um box com todo o cancioneiro extraordinário dele.
Importante: ouvir (e reouvir) Marvin Gaye de tempos em tempos é também relembrar de toda a geração talentosa da qual ele fez parte (Curtis Mayfield, Stevie Wonder, Barry White, The Jacksons 5, The supremes, Aretha Franklin, Isaac Hayes, etc etc muitos etcs, um mais genial do que o outro). O diferencial, no final das contas, está no fato dele ser the voice (sorry, Sinatra, mas eu tinha que dizer isso...).
E poder testemunhar o quanto esse épico da soul music continua tão influente nos dias de hoje, mesmo com tanta gente ouvindo tanta coisa ruim à velocidade da luz hoje em dia, ainda é um alento!
Logo, fica aqui meu apelo (se você, caro leitor, cometeu a temeridade de ainda não ouvir esse disco): pare tudo o que estiver fazendo neste exato momento e procure-o em algum lugar, Spotify, Deezer, Youtube, um vinil emprestado de algum colega da faculdade, procurem! procurem! Pelo amor de Deus, procurem!
Vocês NUNCA MAIS se relacionarão com a música da mesma maneira. Falo por experiência própria. Let's get it on é uma fenda no tempo na história da indústria fonográfica. E acredito que assim permanecerá mesmo depois que eu não estiver mais na terra.
Parece louco, exagerado? Vai ouvir, então, pra tirar a prova dos nove.
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