"Ser ou não ser um fenômeno de bilheteria", eis a questão primordial (principalmente nos dias de hoje, segundo a indústria cultural).
É difícil - tem quem ache até impossível - precisar o que faz de um blockbuster um sucesso nato. Entretanto, quando ele consegue após anos e anos de tentativas e erros, dificilmente perde a sua relevância mesmo com o passar dos anos. Veja o caso, por exemplo, da franquia Star Wars, criada por George Lucas.
Ela começa seu legado em 1977 após um período em que o cinema americano era dominado pela nova hollywood, uma vanguarda cinematográfica que acreditava piamente que o controle criativo dos longa-metragens deveria estar nas mãos dos diretores e não dos estúdios. Que era possível enxergar a sétima arte além das bilheterias e megaproduções. E assim produziram obras-primas nunca mais esquecidas como O poderoso chefão, Táxi Driver, O exorcista, Encurralado, Chinatown e tantas outras.
Com a virada para a década de 1980 iniciava na meca do cinema a era dos grandes blockbusters, produções voltadas para um público mais família, sem tantas críticas ou denúncias sociais e Star Wars abre esse segmento de forma avassaladora trazendo Luke Skywalker (Mark Hamill), Han Solo (Harrison Ford, que anos depois seria rotulado de "o astro do século"), Princesa Leia (Carrie Fisher), Chewbacca (Peter Mayhew), C3PO e R2D2 em meio a lutas com sabres de luz e batalhas intergaláticas que muita gente não acreditava terem sido feitas com maquetes.
De estranho mesmo, para o público espectador da época, apenas a numeração da saga. Por que a história começava com episódios IV, V e VI? Na verdade, até hoje muita gente não entendeu isso. Pois bem: o sucesso foi tamanho que livros, histórias em quadrinhos, brinquedos, álbuns de figurinhas e toda sorte de produtos foram criados para dar prosseguimento à paixão pela história (e, claro, seus personagens icônicos).
E por que estou comentando tudo isso? Porque este ano - mais especificamente: hoje - O retorno do jedi, episódio VI que completa esta primeira trilogia (pois como os fãs bem sabem houveram outras!), dirigido por Richard Marquand, completa quatro décadas de existência e fanatismo. E mesmo sendo considerada por muitos críticos a parte mais fraca dessa trilogia ela não perdeu - pelo menos para mim - seu charme e vivacidade.
Na trama, o jovem jedi Skywalker já sabe que Darth Vader é seu pai e numa luta contra ele teve seu braço arrancado e agora usa um biônico. O império começa a construir uma nova estrela da morte e a resistência já planeja um ataque para destruí-la. Acompanhado por Leia e Chewbacca, Luke vai até Tatooine para resgatar Han Solo que foi congelado em carbonite e agora faz parte da coleção de Jabba, o hutt.
Contudo, seu maior desejo é conseguir livrar o pai das garras do lado negro da força e agora que seu treinamento feito com Yoda em O império contra-ataca chegou ao fim ele acredita ter uma chance de realizá-lo. Mas para isso, é preciso enfrentar também o inescrupuloso Darth Sidious (Ian McDiarmid), detentor de um poder indescritível.
Nesse episódio também vemos a adorável presença dos Ewoks ajudando a resistência a destruir um posto de controle do império escondido na selva. Eles chegaram até a ganhar projetos próprios como os dois filmes da série Caravana da coragem e até mesmo um desenho animado que fez muito sucesso aqui no Brasil nos programas infantis. Acho que foi a primeira vez em que eu me peguei perguntando onde uma produção cinematográfica encontrara tantos anões para fazer figuração. Minha irmã mais nova, quando viu o filme, quis ter um urso de pelúcia deles de qualquer jeito e infernizou meus pais para ganhá-lo de natal.
Porém, brincadeiras à parte, o legado de O retorno do jedi bem como toda trilogia Star Wars foi muito maior do que meramente licenciamentos e produtos comercializados. Ela abriu um precedente para a indústria nunca imaginado até então. Começava ali o conceito que, décadas depois, se tornaria o fandom dos dias de hoje, com salas de cinemas lotadas e universos estendidos a perder de vista. E, lógico, que nem todo mundo apoiou a ideia.
Muitos me chamam de maluco quando digo isso hoje em dia, mas acreditem: hollywood jamais teria enveredado por franquias como Indiana Jones, Matrix, De volta para o futuro, O senhor dos anéis e tantas outras se George Lucas não tivesse sido pioneiro em 1977. Logo, O retorno do jedi não somente fecha um ciclo dentro de um arco de histórias como abre um outro ainda maior: o das narrativas longevas, repletas de continuações e histórias paralelas. E a prova viva disso é a atual indústria, que hoje em dia quase não produz obras originais (o que é motivo de críticas e retaliações).
E mesmo com tantos detratores acusando a fórmula de repetitiva, sem versatilidade, presa ao passado, ainda assim ela consegue gerar um público impressionante, sempre à espera de um novo episódio, uma nova trama, um novo vilão, novas batalhas. Se isso não for sucesso, depois de quatro décadas (ou mais), eu honestamente não sei o que é...
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