Eu sinto muita falta da época em que o cinema mundial não se levava tão a sério e não perdia tempo com produções multimilionárias que só servem para dominar o circuito exibidor e gerar continuações ainda mais contraditórias do que o projeto original. Era fácil sentar no sofá de casa naquele tempo e acompanhar as madrugadas de Supercine, Corujão e Sessão de Gala para ser surpreendido por algum longa trash ou completamente fora de si.
E cabe um adendo aqui: a minha geração foi muito influenciada pelo gênero terror e as ficções científicas B por conta disso, desse descompromisso com a ideia de "megaprodução". Fugir da zona de conforto e apresentar ideias completamente estapafúrdias dialogava melhor com os adolescentes e nerds daquele período.
E nesse sentido o filme Força sinistra, do diretor Tobe Hooper (de clássicos do cinema como Poltergeist: o fenômeno, O massacre da serra elétrica e Pague para entrar, reze para sair) cumpre bem o seu papel ao entregar para o público um dos filmes mais insanos - e nem por isso menos divertido - daquela década;
A trama é o mais surreal possível e ainda assim a cara da década oitentista: um grupo de astronautas descobre no interior do cometa Halley (isso mesmo!) uma nave cheia de alienígenas fossilizados e um trio de humanoides dentro de sarcófagos de cristal. Abismados com a descoberta, decidem trazê-los para a terra e é justamente nesse momento que a tragédia global começa a se formar.
Ao chegar a base os humanoides começam a atacar os seguranças da instalação e roubar sua energia vital (basicamente, eles têm as suas vidas sugadas pelos alienígenas). A líder do trio - vivida pela belíssima Mathilda May - foge do local e começa a fazer outras vítimas ao redor do Reino Unido, juntando forças para um encontro final com uma nave de seu planeta que está vindo para a terra. Contudo, ela mantém uma espécie de elo sexual com o líder do grupo de astronautas, o Coronel Tom Carlsen (Steve Railsbeck) e isso pode atrapalhar seus planos...
E eis que eu chego naquele ponto em que pergunto aos leitores desta crítica: vocês ainda querem saber mais sobre a trama ou posso parar por aqui?
O longa de Hooper é inspirado no romance Vampiros do espaço, do escritor Colin Wilson, que eu confesso que li quando estava na casa dos meus 12, 13 anos e achei completamente nonsense. E por isso mesmo é a justa representação do que foram aqueles loucos anos 1980. A própria ideia, nas entrelinhas, de desconstruir a figura do vampiro Drácula, de Bram Stoker, levando o personagem a um patamar mais debochado, já aguça a curiosidade dos espectadores. Pelo menos a minha, na época, aguçou.
Entretanto, é facilmente reconhecível que a história é confusa, se perde a todo momento, seu desfecho é extremamente abrupto e muitos dos que compareceram ao cinema para conferir a produção só estavam ali para ver a bela Mathilda May completamente nua, no auge da sua beleza, em grande parte do filme. Ah! Quase ia me esquecendo: ainda tem a participação curta do ator Patrick Stewart, o eterno Capitão Picard da franquia Star Trek.
E como poderia ser diferente se o público-alvo da produção eram jovem alucinados no auge da sua testosterona e cujo único objetivo na vida eram farras, o carro do pai emprestado e a perda imediata da virgindade? Deu no que deu. Junto com A bolha assassina e o também surreal Shocker: 100 mil volts de terror, Força sinistra meio que compõe uma trilogia do inusitado quando o tema em questão é terror + ficção científica.
E os fãs mais exagerados sempre que podem procuram o filme para rever em algum serviço de streaming ou site pirata mais perto!
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