O que eu posso dizer sobre esse lugar atualmente? Que nos últimos tempos toda vez que me deparo com uma notícia no jornal sobre ele só tenho ouvido que ou "ele vai fechar a qualquer momento por falta de verbas para mantê-lo funcionando" ou "irá reabrir no próximo mês ou bimestre ou trimestre ou no segundo semestre etc e tal". E nunca reabre. E é dessa maneira que tratam a arte e a cultura nesse país desde que ele foi descoberto pelos portugueses cinco séculos atrás. Sim, eu sei... É triste.
Mas ainda assim tenho esperança. Pois, no final das contas, é disso que vive a arte e a cultura nacional.
Digo mais: certa vez vi uma frase magnífica num livro sobre artes visuais. Nele, o autor dizia que a arte "é um lugar mítico, imaginário, que nem todos os seres humanos são capazes de enxergar com exatidão. E muitos ainda por cima desdenham desse lugar, acreditando ser ele mera ilusão de ótica ou invenção de desmiolados ou oportunistas".
E por que citei essa passagem? Porque vejo muito disso em Inhotim. Todas as vezes que vi uma foto deste que é considerado o maior museu a céu aberto do mundo penso nesse lugar imaginário, quase irreal. Ou como bem diria o poeta Manuel Bandeira, nesta Pasárgada. Aquele lugar onde eu sou o amigo do rei. Inhotim é isso, o contraponto da ciência exata, de qualquer tipo de exatidão. O lugar da dúvida, da experiência, de se permitir, da tentativa e erro. E ainda assim, é magistral.
É preciso que eu confesse aqui: nunca estive em Inhotim in loco. Só o conheço pelo site na internet e por tudo o que falam dele na grande mídia de tempos em tempos. E mesmo assim consigo imaginá-lo nos mínimos detalhes. E me encanto toda vez que penso nele ou sobre ele.
É possível andar por labirintos nunca dantes vistos. Apreciar o inusitado em suas exposições que fogem completamente do padrão do algoritmo (algo tão na moda e imposto pelo mercado hoje em dia). Conheço pessoas que lá estiveram e por lá se perderam. "Aquilo é um mundo à parte, Beto!", me disse uma delas, emocionada. E eu acredito. De olhos fechados.
O Brasil precisa de mais lugares como Inhotim e de menos pessoas como essas que administram lugares como Inhotim ou de um governo que não dá a mínima para a arte, pois não possui a menor sensibilidade ou tato para reconhecê-la. Nunca precisamos tanto da arte como agora, em tempos pandêmicos onde o desespero e o negacionismo dividem as atenções do público, seja no dia-a-dia frenético das ruas, seja no maquiavelismo latente das redes sociais. E mesmo depois de eu dizer tudo isso ainda vai aparecer gente por aqui me chamando de idiota, babaca ou mandando eu procurar alguma coisa séria para fazer. Coitados!
A sociedade brasileira não consegue enxergar - que dirá entender - que Inhotim é o Shangri-lá brasileiro, a terra onde não precisamos envelhecer um segundo sequer. James Hilton, autor do livro Horizonte perdido, onde este lugar mítico mostra sua cara, estava certo: certos lugares são eternos, não envelhecem. Não importa o quanto coloquemos defeitos neles. E o principal: são insubstituíveis (e deixo a palavra em negrito de propósito).
O fim de Inhotim - se vier a acontecer, e eu espero, torço sinceramente que não - seria o fim do que a arte tem de melhor. Um lugar livre de amarras e preconceitos onde podemos acreditar no futuro ao invés de empurrar a vida com a barriga em presentes repetitivos, rotineiros e monótonos para depois se transformarem num passado melancólico e sem finalidade. E isso, acredito, nós, os ainda lúcidos deste país que não é nação, como já cantou uma vez o líder do Legião Urbana, Renato Russo, definitivamente não queremos.
Logo, só podemos esperar o dia seguinte e o que ele trouxer de bom para nós. E já deveríamos, como brasileiros de carteirinha, estar acostumados a isto. Afinal de contas, este país é um eterno "esperar pelo amanhã". Então que chegue logo, que leve essa pandemia e tudo de ruim que nos atravanca há séculos embora. E que Inhotim, como tudo aquilo que ecoa a nossa arte e cultura, sobreviva.
Se há um lugar por aqui que merece essa honraria, sem sombra de dúvidas é ele.
Sem comentários:
Enviar um comentário