Honestamente... Eu nem sei por onde começar. A tv noticiou e ainda assim eu não consigo acreditar. Diz que é trote, diz.
Ele fez tanta gente rir com a maior facilidade e por isso é tão difícil falar dele agora, neste momento de luto. E mesmo assim é preciso fazer um esforço supremo, pois a notícia infelizmente é essa: Paulo Gustavo nos deixou ontem, mais uma vítima do Covid-19 que já levou à óbito mais de 411 mil pessoas no país.
E a pergunta que se faz a seguir não poderia ser outra: como seguir adiante depois de uma notícia como essa? Se logo ele, humor puro, sucumbiu de forma aterradora, o que será de nós, em meio a tanto negacionismo, covardia e prepotência?
Mas como ele próprio disse em sua participação no Especial de fim de ano do 220 volts na Rede Globo: é preciso seguir em frente e continuar acreditando no afeto.
A primeira vez que eu ouvi falar de Paulo e da peça teatral Minha mãe é uma peça, que ele escreveu inspirado em sua própria mãe, Déa Lúcia, eu pensei comigo: "é mais do mesmo; não vai dar em nada". E eu estava redondamente enganado. Sua Dona Hermínia virou meio que a mãe do Brasil, por suas sacadas geniais e sarcasmo latente. O espetáculo não só foi o maior sucesso como migrou para as telas de cinema, virando um blockbuster avassalador.
E aquele garoto que já havia mostrado a que veio em outro espetáculo, Surto, ao lado do também humorista Fábio Porchat, fincava seu nome na calçada da fama tupiniquim!
Impossível não gargalhar com Paulo. Seu deboche e estilo eram únicos, suas tiradas dignas dos maiores. E o principal: era de uma ousadia extrema. Admiro o homem que, em pleno momento que o país vive, com o aumento visível da homofobia e os assassinatos aos gays, deu a cara a tapa e se assumiu de forma franca, sem rodeios ou receios. Paulo era homem com H nesse sentido. Muito mais do que muitos héteros de butique que andam dando pinta por aí atualmente.
O humorista levou sua querida cidade, Niterói, para os holofotes. E com todo o orgulho. Gostava de uma galhofa como ninguém e sempre que podia aprontava uma surpresa para os amigos, que eram muitos. Que o diga as inúmeras homenagens de quem trabalhou e conviveu com ele nas redes sociais!
Falei de Dona Hermínia, sua principal criação, mas ela só não explica quem foi o artista. Paulo também foi o Valdomiro Lacerda do Vai que cola; o Aníbal, parceiro de Mônica Martelli em Os homens são de Marte e é pra lá que eu vou e Minha vida em Marte; o cara que sabia imitar a Beyoncé como ninguém (e até ela homenageou o cara, pra vocês verem a moral!); aprontou com Lília Cabral em O divã; foi Lobisomem no Sítio do pica-pau amarelo e até na série de tv A diarista deu as caras... E ele ainda podia ter sido tanta coisa. Ah se podia!
Pergunto-me nesse momento, enquanto termino o parágrafo e me lembro das feições de Paulo: para onde a vida leva os melhores e por que eles precisam, muitas vezes, partir tão cedo? E não obtenho nenhuma resposta.
Minha prima escreveu em sua timeline no facebook que Paulo Gustavo é daquelas pessoas que você nunca imagina que irá morrer um dia. E ela está coberta de razão. Eu não acredito que ele se foi, no auge da carreira e do sucesso. E ainda mais da forma como foi, após 52 dias lutando contra o vírus. Eu poderia me limitar a dizer "uma pena", mas acho pouco. Essa frase não explica ou justifica o que eu estou sentindo no dia de hoje.
Todos os meus sentimentos à mãe, ao marido e aos filhos de Paulo. E tenham certeza de que, onde quer que ele esteja, ele está fazendo alguém rir neste exato momento. Daquele jeito que só ele sabia fazer.
Paulo, fica com Deus. E toda felicidade do mundo pra você. VOCÊ era uma peça!
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