quinta-feira, 1 de abril de 2021

O camaleão das lentes


Algumas pessoas vieram ao mundo com a missão de fazer aquilo que sabem de melhor e nada mais além disso. Uns jogam futebol como gênios, outros escrevem como pouquíssimos, tem aqueles que se destinaram a ofertar a genialidade da sua voz, isso fora os que desenham, correm, pilotam, pintam e bordam. Já para o fotógrafo Bob Wolfenson o barato mesmo, aquilo que lhe dignifica, é captar a imagem das pessoas da maneira que melhor lhe apetece. E a sensação que se tem ao vermos suas fotografias é a de que ele fotografou praticamente todo mundo. 

Mais do que isso: ele vem fazendo disso a sua vida há exatos 50 anos sem parar! E eu fico cansado só de pensar como ele conseguiu todos esses flashes. 

Bob fotografou até gente que sempre se mostrou avessa à fotos (que o diga o rapper Mano Brown, do grupo Racionais MCs, que posou para ele recentemente numa capa da revista Elle). Fotografou dos mais ilustres e famosos aos mais anônimos, e mesmo assim não perdeu sua genialidade. É, sem sombra de dúvidas, pelo menos para este que vos escreve, o fotógrafo de pessoas mais famoso desse país. E ainda assim tem gente (leia-se: críticos) que acha pouco o legado dele. 

Vejo a notícia de suas cinco décadas de carreira num vídeo do Zeca Camargo no facebook e ele fornece a página do fotógrafo no instagram. Corro imediatamente para lá. Afinal de contas, fotografia é algo que mexe comigo (embora eu não goste de posar para a câmera de ninguém; nunca fez meu tipo ser modelo de nada!). Não bastasse o perfil na rede social, também dou um pulinho em seu site oficial, https://www.bobwolfenson.com.br/. Fico inebriado. 

Wolfenson nos oferece um passeio completo pelo país e também o mundo, indo da política ao mercado fonográfico, com direito à desportistas, artistas plásticos, top models, inclusive colegas de profissão. 

Somente pelas lentes desse mestre poderíamos testemunhar registros inusitados, como por exemplo a apresentadora Xuxa comendo uma banana, a nudez corajosa da modelo gorda Thaís Carla, Malu Mader fumando cigarro, os cabelos esvoaçantes de Hermeto Pascoal, as tatuagens contrastando com a pele branca da escritora Fernanda Young, Dinho Ouro Preto - vocalista da banda Capital Inicial - exibindo suas tranças rastafári, a modelo Ana Beatriz Barros enrolada numa cobra à la Luz del Fuego. E mais, muito mais. Procurem só para vocês verem. 

E mesmo quando não está clicando apenas celebridades e famosos em poses exóticas ou diferenciadas tudo parece grandioso diante de sua câmera: uma simples mesa de sinuca, as chaminés de uma fábrica, um salão de festa, o sorriso de uma prostituta, o caos provocado por uma enchente, celulares e animais apreendidos em operações policiais, passageiros cotidianos viajando em transportes coletivos, fachadas de prédios, azulejos, projetores de cinema... Nada passa pelo seu radar sem perder o viés da sensibilidade. 

Acham que acabou? Nada! Bob Wolfenson fez capas de discos e de livros, ensaios para a Playboy, pôsteres de longas cinematográficos, realizou até um projeto em que fotografava pessoas na rua. Se há uma palavra que cabe como uma luva quando nos referimos a ele é camaleônico. 

Sim, é isso mesmo que você leram: Bob Wolfenson é o camaleão das lentes. E não digo isso em detrimento de outros mestres da nossa fotografia, como Sebastião Salgado e Evandro Teixeira. Nada disso. É simplesmente uma percepção única que eu sempre tive a respeito do seu trabalho. Vejo-o como uma figura ímpar, seja dentro do mundo da moda, da publicidade ou mesmo como artista autoral. E, se como bem diz o verbete fotografia, o bom fotógrafo é aquele que "escreve com luz", então Bob é ficcionista e dos bons e figura rara nos dias de hoje quando se trata de narrativa. 

O garoto que se tornou fotógrafo por conta de uma Marilyn Monroe que apareceu melancólica numa foto de Richard Avedon (palavras do próprio artista da imagem) deu lugar à um fenômeno de mídia difícil de ser superado em seu metiê. E mais: não vejo na mídia uma pessoa sequer que não tenha gostado de ser fotografada por ele. Vide seu carisma em meio a quem trabalha no ramo. 

Passados dez parágrafos, chego aquele momento do texto que já sabia de antemão que iria acontecer: impossível falar tudo sobre o mestre. Ele é muito maior do que qualquer coisa que eu ainda vá dizer aqui. Logo, melhor encerrar este projeto de crônica e mandar vocês procurarem o trabalho dele por conta própria.  

Estamos combinados? 


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