O grande barato dos filmes de terror que marcaram época em minha infância e adolescência é que nunca houve exigência, pelo menos de minha parte, de que eles fossem exemplos de perfeição. Pelo contrário. Muitos fãs dentro das salas de cinema esperavam por defeitos, amadorismos e incorreções. E eles certamente acrescentavam um certo charme ao projeto. Infelizmente, parece que hollywood nos últimos tempos parou de entender isso e sofisticou um gênero que nasceu para ser, muitas vezes, tosco sem nem por isso perder o seu potencial de diversão.
Estava pensando nisso essa última semana quando me deparei na internet com uma matéria sobre o hoje clássico do horror Pague para entrar, reze para sair, do diretor Tobe Hooper (mestre por trás dos eternos clássicos O massacre da serra elétrica e Poltergheist - o fenômeno). E mesmo depois de quatro décadas de existência é impressionante ver o quanto ele ainda é capaz de levar ao deleite gerações de fãs, mesmo com tantas soluções óbvias e improvisadas.
O longa narra a história de dois casais de namorados, Amy (Elizabeth Berridge), Buzz (Cooper Huckabee), Richie (Miles Chapin) e Liz (Largo Woodruff), que decidem ir a um parque de diversões itinerante cujo último dia de apresentação é naquela noite. Os pais de Amy são contra por causa de uma mística envolvendo o lugar: numa outra cidade onde o parque esteve duas jovens foram encontradas mortas. E por isso a jovem precisa inventar uma história de que irá em outro lugar e dormirá na casa de Liz.
O que os dois casais, que pretendiam manter relações sexuais dentro do trem fantasma, não sabiam é que toda a diversão pretendida daria lugar a uma noite de perseguições e assassinatos, com um desfecho para lá de amargo para eles.
É preciso antes de mais nada destacar o caráter casa dos horrores do lugar, que mesclava atrações simples como jogos de azar e shows de mágica com outras um tanto perturbadoras como aberrações genéticas (feto morto, vaca de duas cabeças, etc). Isso sem contar uma falsa vidente que passa a maior parte do tempo alcoolizada. Contudo, devemos levar em consideração que o parque em si é uma desconstrução dos antigos vaudevilles (ou teatro de variedades) que fizeram muito sucesso no século XIX, justamente por trazerem atrações um tanto quanto mórbidas, pois era justamente isso que aguçava a curiosidade dos frequentadores.
Por outro lado, vale também lembrar do lado trash da produção com um adolescente de rosto deformado, que passa a maior parte do tempo usando uma máscara de Frankenstein, bem como o próprio dono do parque, o retrato típico de um sinistro psicopata. Há cenas deploráveis, como a de troca de sexo por dinheiro, e as mortes - se levarmos em consideração como são realizadas hoje em dia, com um extremo nível de sofisticação tecnológica - são primárias no nível do quase amadoresco. Mas como disse em parágrafo anterior: o charme da narrativa está justamente em não procurar perfeição ou levar tudo tão a sério.
Ah! Quase me esqueci de um detalhe: para quem procura referências à outros clássicos do gênero o diretor faz menção aqui à Halloween e Psicose (e de uma maneira bem humorada até). Só faltou um sósia do Hitchcock como apresentador das atrações. Ele bem que poderia ter pensado nisso também...
Pague para entrar, reze para sair, mesmo trazendo Hooper na direção, não foi o sucesso de bilheteria que se apregoava (faturou pouco mais de 8 milhões de dólares). Tem até quem diga que foi um fracasso de público para a época, levando em consideração que 1981, para muitos críticos, foi o grande ano do terror para o cinema americano. Entretanto, ele acabou por se reinventar anos depois como fenômeno cult por conta do home video.
Lembro de quando o assisti pela primeira na tv aberta e da dificuldade que tive para dormir naquela noite. E no dia seguinte minha mãe me dando esporro porque eu não queria acordar para ir à escola: "tá vendo?", ela dizia, "é nisso que dá ficar assistindo essas porcarias até de madrugada. Levanta pra não chegar atrasado, garoto!".
Em 2018 o diretor Gregory Plotkin realizou o filme Parque do inferno que, embora os fãs mais xiitas neguem, tem sim o longa de Hooper como inspiração. Mas é preciso avisar aos desavisados com antecedência: tratam-se de contextos e épocas completamente diferentes. Dito isto, caso queiram procurar o longa, vocês estão por sua conta e risco.
Querem saber mais? (e eu sei que vocês querem): revejam o filme, leiam a respeito do projeto, procurem na internet cinéfilos de carteirinha fanáticos pela produção. Pois Pague para entrar, reze para sair é daquelas experiências que por mais que você ache, em algum momento, tosca ou brega, não sai de moda. Nunca. Pergunta só pra quem viveu os anos 80...
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