Enquanto os fãs mais entusiasmados da DC Comics aguardam ansiosos o Snyder Cut do longa da Liga da Justiça, lançado originalmente em 2017, e as mulheres apaixonadas por Henry Cavill, autor que interpreta Superman no filme, babam por seus músculos e beleza, eu me pego viajando no tempo enquanto procuro por um tema para escrever mais um dos meus textos sobre quadrinhos e relembro da façanha que foi chegar por aqui o kit da Editora Abril trazendo a edição de A morte de super-homem, em 1993.
Lembro como se fosse hoje de ir a, pelo menos, umas 15 bancas de jornal (naquela época, diferentemente de hoje, as HQs eram mais facilmente encontradas em bancas e apenas uma ou outra livraria vendia edições especiais ou específicas.) até encontrar o tal kit. Todo mundo foi pego de surpresa ao saber do lançamento do projeto, o que gerou uma imensa curiosidade dos fãs.
A DC, que vinha apanhando miseravelmente da Marvel em termos de vendas naquela época, precisava de um grande evento que a trouxesse de volta para o campo de batalha urgentemente. E eis que a editora Louise Simonson e um grupo de argumentistas e desenhistas talentosíssimos pensaram: por que não uma história sobre a morte do homem de aço? O que, acredito, deve ter gerado no mínimo uma pulga atrás da orelha da editora. Afinal de contas, trata-se de um evento ímpar e revolucionário em todos os sentidos.
Logo, ficava a pergunta sobre quem seria o algoz de um dos heróis mais poderosos da nona arte. Surge então o temível Apocalipse, uma criatura tão poderosa e cruel que foi capaz de dizimar a Liga da Justiça (uma liga completamente diferente da que vemos no longa de 2017) com extrema facilidade, com um braço preso às costas. Super-homem, que concedia uma entrevista naquele momento, fica sabendo da batalha entre o grupo de heróis e a criatura e parte para lá na mesma hora.
E isso, meus caros leitores, é o máximo que você precisa saber sobre a narrativa que não tem nada de complexa. Na verdade, o grande mérito da HQ está justamente nas batalhas memoráveis.
Primeiro destaque disparado: a arte magnífica de Dan Jurgens, seja da paleta de cores ao visual e anatomia dos personagens. Um artista, aliás, que eu li muito nos meus tempos de leitor de gibis de super-heróis (hoje em dia eu ainda leio graphic novels, mas deixei os superpoderosos de lado!). Outro ponto que merece meu elogio: a visceralidade com que o homem de aço sofre e apanha na história é louvável. A princípio pensei que eles fossem aliviar um tanto por se tratar do Superman, mas não... Eu raras vezes vi o herói - e não somente ele, mas todos os que enfrentaram Apocalipse - apanhar tanto numa história.
Lembro que quando cheguei ao capítulo final da história (que é dividida em seis partes), senti um misto de orgulho e tristeza. Orgulho pelo arrojo estético empregado - e na última parte cada página resume a batalha final em cenas épicas, sem divisões em quadrinhos menores - e tristeza por saber que o herói mais poderoso da DC iria sucumbir. Lógico, naquele momento, pois tudo era uma grande jogada de marketing para atrair os leitores que andavam sumidos.
Depois de A morte de Super-homem a DC Comics teve que manter o herói de Krypton afastado de suas páginas por um tempo, mas planejou seu retorno com garbo e lançou tempos depois O retorno de Super-homem (este dividido, na edição nacional, em três volumes), trazendo inclusive personagens como Aço e Superboy, que chegou a ganhar gibi próprio por aqui. E ao fim dessa saga zerou a numeração do gibi oficial do herói em nossas terras, levando o super para outras aventuras insólitas.
Só para não deixar de fora o meu momento memoriográfico o kit vendido nas bancas trazia, além da edição de capa preta com o logotipo do herói sangrando, um pôster caprichado com a cena do funeral do Super e uma versão fac-símile da edição em formato americano com as cenas finais da batalha. E, claro, que relançamentos com o passar dos anos também geraram um burburinho junto ao público, tanto que muitos deles encontram-se esgotados.
Em 2016 o diretor Zack Snyder (de novo ele!) trouxe o personagem Apocalipse para seu longa Batman vs. Superman: a origem da justiça e também matou o homem de aço. Confesso que, na época, eu achei um tanto forçada a escolha, mas o visual da criatura era realmente assustador. Pena que a história não teve o mesmo impacto. E houve também uma versão da história em animação, dirigida pela dupla Jake Castorena e Sam Liu em 2018, mas com liberdades artísticas que diferem do material original.
Como legado para a história da nona arte é preciso dizer que A morte de Super-homem divide opiniões. Tem quem ache uma grande bobagem, um reles caça-níqueis barato, e tem quem a considere uma das melhores sacadas da DC Comics até hoje. Enfim, meus caros leitores, fica a seu critério. Mas que foi um evento que mudou a minha relação com os quadrinhos na época (e eu tinha apenas 16 anos), ah! não há a menor dúvida...
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