Vemos o filme somente quando ele já está pronto, finalizado, montado e na maioria das vezes não nos damos conta do real trabalho que dá realizá-lo, captar verba, encontrar elenco, locações, filmá-lo, inserir trilha sonora e efeitos especiais, pós-produzí-lo, etc etc etc. E com a chegada do mercado de dvds eu passei a correr atrás dos making offs e entrevistas embutidos no menu para saber mais a respeito das produções cinematográficas. Para mim passou a ser o grande barato dentro da indústria do home video.
E o que aprendi com ela? Que precisamos, como cinéfilos, dar mais valor aqueles profissionais pau pra toda obra, os chamados "faz-tudo" dentro do set filmagem. Não fossem eles a sétima arte - e principalmente hollywood - jamais teria produzido obras-primas como Apocalipse now, Contatos imediatos do terceiro grau, Crepúsculo dos Deuses, Tubarão, Todos os homens do presidente, dentre tantos outros.
Em Zeroville, projeto do ator e diretor James Franco, essa função é desempenhada por Vikar (interpretado pelo próprio Franco), um construtor de cenários que se muda para Nova York para ficar mais perto da meca do cinema, sua grande paixão. Ele é aquele tipo de profissional dentro da equipe de filmagem que precisa "entregar o milagre pronto" na hora que os produtores disserem que é a hora. E nem sempre isso é possível. E quando é chamado por Viking (Seth Rogen), um abutre da indústria, para editar um longa, ele percebe definitivamente o quanto que prazos são realmente datas complicadas para serem seguidas à risca.
Não bastasse a rotina e as cobranças do instável e prepotente produtor Rondell (Will Ferrell), ele ainda por cima se apaixona pela instável Soledad (Megan Fox), uma atriz do segundo escalão que luta para criar a filha adolescente e rebelde. Moral da história: em seu íntimo, Vikar sabe que está metido numa roubada desde o início, mas é tarde demais para abandonar o barco.
Talvez a única coisa que exerça uma paixão igual a que sente por Soledad é a devoção que ele tem pelo filme Um lugar ao sol, do diretor George Stevens e seu protagonista, o ator e galã Montgomery Clift. E é dessa mistura de sentimentos que nasce o grande conflito que irá perseguir Vikar por toda a trama, que ganha contornos sobrenaturais (em alguns momentos, confesso, desnecessários).
O importante mesmo para o espectador é levar em consideração que Zeroville tem uma narrativa que segue a premissa "isto é hollywood", com todas as distorções e mau caratismos que a terra mais famosa do cinema é capaz de carregar em seu bojo. E desde já adianto: fiquei curioso para ler o romance homônimo do escritor Steve Erickson, que serviu de base para a realização deste projeto. O filme conseguiu plantar em mim uma semente da dúvida sobre as intenções do original.
Para quem curte produções sobre bastidores da indústria, como A noite americana, de François Truffaut e Ed Wood, de Tim Burton - só para citar dois dos meus inúmeros favoritos - terá nesse aqui um prato cheio e alucinógeno.
Contudo, é preciso avisar de antemão que Franco inseriu uma espécie de segunda trama um tanto confusa para mexer com os brios dos espectadores (ou talvez seja a trama principal, mas eu tenha preferido o lado backstage da história, pois adoro referências ao passado e homenagens à era de ouro de hollywood). Enfim... Estejam preparados!
Mesmo assim, embora não concorde com todas as suas escolhas criativas, reconheço uma evolução na carreira de Franco como diretor. Já havia gostado bastante de O artista do desastre, sobre a inusitada figura do cineasta Tommy Wiseau e o seu "pior filme de todos os tempos, The Room" - que ganhou até Globo de Ouro - e embarquei também neste. Pena que seus projetos pessoais sejam tão difíceis de encontrar, mesmo na internet. O rapaz já enveredou até por William Faulkner e Charles Bukowski...
No geral, fica como opção alternativa para aqueles espectadores que volta e meia cansam da mesmice exibida no circuito comercial e desejam um plano B para quando os serviços de streaming estão na entressafra. Procurem! Vale, pelo menos, um domingo à tarde.
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