quinta-feira, 16 de julho de 2020

O time dos sonhos


Era 1992 e em Barcelona, na Espanha, acontecia a XXV edição dos jogos olímpicos da era moderna. A pira fora acendida durante a cerimônia de abertura por um atleta que atirou uma flecha em chamas e, aqui no Brasil, houve uma polêmica discussão, pois muitos acreditavam que a flecha havia ultrapassado a pira (e que ela havia sido acendida eletronicamente). Porém, nada que afetasse o brilho do espetáculo. 

E entre os muitos atletas que se destacaram nessa edição - e eu, por conseguinte, esperava por grandes novidades já que adorara a edição anterior, realizada quatro anos antes em Seul, na Coréia do Sul - houve um grupo de homens extraordinários que conseguiram, por um momento, me provar até mesmo que seriam capazes de voar (se quisessem de fato). 

Refiro-me à seleção norte-americana masculina de basquete, que ficou eternizada como Dream team (ou, em português, o "time dos sonhos"). Detalhe importante: era a primeira vez na história das olimpíadas que atletas profissionais, oriundos da NBA, podiam disputar a competição. Até então, somente jogadores amadores ou da liga universitária poderiam representar suas seleções. E teve quem visse essa articulação promovida pela FIBA (a federação que rege o esporte) como puro oportunismo, pois poderia levar o basquete made in USA a um patamar jamais igualado por qualquer outro país. 

Polêmicas e dissensões à parte, eles chegaram e promoveram a maior revolução da história do basquete olímpico até hoje. E quem eram eles? Christian Laettner, David Robinson, Patrick Ewing, Larry Bird, Scottie Pippen, Michael Jordan, Karl Malone, Clyde Drexler, John Stockton, Chris Mullin, Charles Barkley e Magic Johnson. Só a estrutura criada para fazer a segurança da equipe já renderia um blockbuster de cinema na linha action movie. Eles não ficaram hospedados na vila olímpica, mas em quartos de hotel exclusivos e caríssimos. A desculpa dada na época pela delegação é que eles queriam evitar tragédias como a ocorrida nas olimpíadas de Munique em 1972, quando 11 atletas foram mortos num dos atentados terroristas mais famosos da história mundial (e para quem ficou curioso, procurem pelo filme Munique, do diretor Steven Spielberg, e sabiam mais detalhes).   

Os EUA começam sua campanha rumo ao título e logo de cara deixam claro sua discrepância e talento em relação aos demais times. Abrem os trabalhos metendo um humilhante 116 x 48 em Angola, seguidos de um 103 x 70 na seleção da Croácia (que, pasmem, faria a final com os americanos!). 

Completando a primeira fase, seguiram-se um 111 x 68 na Alemanha, 127 x 83 na seleção brasileira (e cabe aqui um breve aparte: eu me lembro até hoje do final desse jogo, quando as lendas americanas fizeram questão de cumprimentar nosso ídolo maior, Oscar Schmidt. Não é à toa que ele faz parte do Hall da fama do basquetebol!) e, finalmente, 122 x 81 na Espanha (que, naqueles tempos, ainda não tinha a força esportiva que tem atualmente).

Obs: nunca me esqueço de uma jogada específica - não me recordo exatamente em que partida ocorreu - em que Magic Johnson finge que vai enterrar a bola na cesta, joga-a para trás e eis que surge Michael Jordan "quase voando" e a enterra de forma devastadora, levando a plateia ao delírio. É uma das minhas lembranças eternas de todas as olimpíadas que assisti. 

Na segunda fase da competição, os EUA mantém o ritmo avassalador e provam por a mais b que não havia outra seleção que se igualasse a eles. Na quartas, enfiam 115 x 77 em Porto Rico; na semifinal, emplacam um 127 x 76 na Lituânia (que contava com o gênio Sabonis em seu time) e repetem o massacre na Croácia (117 x 85 na finalíssima). Resultado: medalha de ouro mais do que garantida e merecida. E eu, claro, preso ao sofá da sala boquiaberto em todas as partidas. 

Mais do que o resultado em si, assistir a esses homens jogando foi um espetáculo à parte, com direito a assistências eletrizantes, enterradas inesquecíveis, voos antológicos e um senso de organização e marcação descomunal. O técnico do time, Chuck Daly, chegou a afirmar no período que treinar aquela seleção era como "ter Elvis e Beatles juntos no palco". E ele realmente não estava exagerando! 

Em poucas palavras (se é possível explicar algo assim): se você não viu a seleção de 1992 jogar porque não era nascido ou não curte basquete, não faz a menor ideia do que perdeu. Foi um momento único, que não se repetiu, embora a delegação americana tenha tentado, mandando grandes equipes nas olimpíadas de Atlanta, em 1996 e Sydney, em 2000. Porém, quando uma das equipes posteriores levou 100 pontos de um adversário na mesma partida, viu-se claramente que o encanto, a magia, havia se perdido de vez. 

Ou seja: quem viu, viu; já quem não viu, só pode se contentar mesmo com vídeos antigos no you tube e no vimeo (o que, claro, nunca será a mesma coisa). 

Até hoje, confesso, aguardo por uma nova geração tão brilhante quanto aquela de Barcelona. E me parece muito longe ainda o dia em que aquilo tudo se repetirá. Contudo,  mesmo os jogos olímpicos, com o passar dos anos, ganharam uma outra conotação para mim (mais política, vamos dizer assim) e confesso que não vejo mais a competição com o mesmo prazer. O que é uma pena. 

Mas mesmo assim, como é bom saber que eu fui testemunha ocular de tudo aquilo. Dá até vontade de gritar, berrar, pedindo para que aqueles dias nunca acabassem... Volta, Dream team! Volta! Pelo amor de Deus!!! O basquete nunca mais foi a mesma coisa. 

Sem comentários:

Enviar um comentário