quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O brasileiro do momento em Hollywood


Conhecemos nosso cinema por seus grandes atores e diretores. Pergunte a qualquer cinéfilo que acompanha nossas produções com regularidade quem é Selton Mello, Wagner Moura, Alice Braga, Lázaro Ramos, Fabíula Nascimento, Caio Blatt, Ingrid Guimarães, Cacá Diegues, Laís Bodansky, Fernando Meirelles, Lúcia Murat, José Padilha, Walter Salles e companhia limitada e provavelmente eles saberão quem é cada um deles e delas. Agora pergunte a respeito de nossos produtores, os homens e mulheres que muitas vezes realizam verdadeiros milagres para tirar um projeto do papel e... Em 80% dos casos, no mínimo, provavelmente não citarão um nome sequer. E quando citarem é Luiz Carlos Barreto, o Barretão, com 90 anos de idade. Triste, eu sei... E isso precisa mudar. 

Dez dias atrás assistia O animal cordial, filme de Gabriela Amaral, e me deparei mais uma vez com o nome de Rodrigo Teixeira nos créditos como produtor (algo que já virou rotina nos últimos tempos, aqui e no exterior. E mais uma vez disparou o alarme: "ainda não escrevi um artigo sobre esse moço. Preciso corrigir isso urgentemente". Eis que um estalo soa em minha mente: "por que não agora mesmo?". Pois bem...

Quando você o vê pela primeira vez em imagens de portais de cinema e sites de notícias na internet, usando calças jeans simples, barba por fazer, óculos na cara, cabelo desgrenhado, à primeira vista pensa: "deve ser mais um daqueles nerds que se formaram no M.I.T (Massachusetts Institute of Tecnology)". Nada disso. Sequer chegou a concluir a Faculdade de administração de empresas e abriu mão de um grande emprego no setor financeiro para embarcar nessa jornada, a da sétima arte. 

Seu começo se dá quando sua vida esbarra com a do produtor e diretor Paulo Machline (responsável pelos recentes Trinta, cinebiografia do carnavalesco Joãosinho Trinta, e O filho eterno, adaptado do romance best-seller de Cristóvão Tezza - que já havia virado uma peça teatral bem-sucedida - e foi indicado ao Oscar de curta-metragem por Uma história de futebol). Dessa parceria nasce O casamento de Romeu e Julieta. E daí por diante Rodrigo não parou mais...

Porém, o mais importante sobre Rodrigo Teixeira é entender que vocês, cinéfilos, não estão diante de um homem obcecado com a fama ou com a indústria das celebridades. Tanto que ele nunca quis se mudar de vez para Hollywood. Continua com sua vidinha em São Paulo, só saindo de lá quando tem algo a fazer ou dizer no exterior. É aquilo que chamávamos antigamente de cdf, preferindo ficar em casa, lendo seus livros, procurando bons projetos. 

E, nesse quesito, hajam bons projetos! Quando tiverem um tempinho sobrando deem uma passada em seu perfil no IMDb e analisem sua filmografia como produtor. Seu grande mérito: saber fazer bons filmes com pouco dinheiro. "Profissionalismo e rentabilidade", costumam falar os amigos sobre o segredo do sucesso de Rodrigo. 

Entre seus projetos que mais repercutiram vale destacar as duas parcerias com a atriz (agora badalada após seu primeiro longa como diretora, indicado ao Oscar) Greta Gerwig, Frances Ha e Mistress America; o longa em que dividiu os créditos com ninguém mais, ninguém menos do que Martin Scorsese, Ciambra; o longa de terror para lá de bem sucedido A Bruxa; Me chame pelo seu nome (vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado esse ano); o meio nacional meio latino Severina e o independente Patti Cakes. Isso fora as futuras parcerias, como por exemplo Ad Astra (projeto lado a lado com o mega astro Brad Pitt), a adaptação do livro de Fernando Morais, Os últimos soldados da guerra fria (a ser dirigido pelo diretor francês Olivier Assayas) e o próximo longa de Brian de Palma, Sweet Vengeance (com Wagner Moura no elenco). 

E ainda tem espectador babaca, que acha que sétima arte se resume a Marvel e DC, que ainda chama o cara de cavalo paraguaio. Enfim... O brasileiro não valoriza seus verdadeiros talentos. 

Quer dizer: excetuando o autor (e quase crítico) deste modesto artigo. 

Que a ascensão de Rodrigo Teixeira em terras estrangeiras abra as portas mais profissionais do ramo. Tem muita gente boa nesse segmento por aqui. Que o diga Vânia Catani, parceira de Selton Mello nos longas O palhaço e O filme da minha vida, bem como Marcos Prado (produtor de Tropa de Elite e diretor de Paraísos Artificiais, um longa que merecia melhor atenção do público nacional quando aqui foi lançado).

Resumindo em poucas palavras: é o brasileiro - excetuando os atores Rodrigo Santoro, Wagner Moura e Alice Braga - mais comentado em hollywood atualmente. Então prestemos atenção ao que ele tem a dizer. 

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